Capítulo 1
Hades narrando
Desde pequeno, aprendi que o mundo era c***l. Aos cinco anos, perdi os meus pais, e com isso, perde qualquer vestígio de Humanidade. Sem família, fui jogado no orfanato, um lugar frio, onde aprende que fraqueza era sinônimo de sofrimento.
Mas eu nunca aceitei ser fraco, pois a fraqueza poderia ser minha sentença de morte.
Aos nove anos, fugir do orfanato. Se perdi nas ruas até chega, pelas vielas do Alemão, dormir no chão, passei fome, aprendi a roubar para sobreviver. A rua foi minha escola, e eu cresce rápido, porque a vida não esperava por ninguém.
Foi só aos doze anos que encontrei um resquício de humanidade. Dona Vera, uma senhora de coração enorme, mim acolheu. Deu comida, deu abrigo. Deu o mais importante: respeito. Ela não tentou mudar quem eu era, não pediu que fosse diferente. Apenas mim ensinou que em um mundo pobre como era alguns moradores do alemão, o poder era a única forma de se proteger.
Eu aprendi bem essa lição. Aos quatorze anos comecei a trabalhar no tráfico, para ajudar a vo verá que já era, de idade avançada.
Aos poucos, subir na hierarquia do crime. Calculista. Frio. Implacável. Eu não se envolvia emocionalmente, não confiava em ninguém além de si mesmo. Ganhei o Morro do Alemão com sangue e estratégia.
E agora estava preso. Traído.
Alguém mim entregou. Armou uma troia perfeita, e a polícia veio pesada. Não foi um ataque qualquer. Foi algo planejado, alguém próximo, alguém que sabia meus passos.
Alguém que eu descobri e ia matar.
Agora, atrás das grades, eu não pensava em arrependimento.
Pensava em vingança.
Quem quer que tivesse feito isso ia pagar no inferno. E eu ia ser o d***o cobrando a conta, eu seria seu pesadelo, eu seria aquele que o faria suplicar para abraçar a Morte.
O cheiro de ferro e mofo tomava conta da cela apertada. A luz fraca da lâmpada piscava, lançando sombras nas paredes rabiscadas com códigos e mensagens. No fundo, sentado na cama dura, Eu estava sentado. Sou Moreno, alto 1,90 de altura com os músculos esculpidos pela vida dura com algumas tatuagens que contam minha história.
Aos 29 anos, eu já tinha visto o suficiente do mundo para saber que confiança era um luxo caro.
Eu rodava um cigarro entre os dedos, o olhar fixo na parede, mas a mente longe. Alguém o havia mim traído. Ele não cair por erro, não cair por descuido. Foi uma armadilha. E quem teve a audácia de colocar meu nome na boca da polícia ia pagar.
— Eu vou descobrir quem fez essa p***a. — Murmuro para mim mesmo, sentindo a raiva fervendo por dentro.
Eu ergo os olhos quando ouço o barulho do cadeado destrancando. Bio, um dos seus homens de confiança, entrou na cela com um sorriso sem humor.
— Tem recado do Alemão, chefe.
Eu mim se inclino para frente, cruzando os braços para ouvir.
— Fala logo. – Digo sem paciência
Bio pigarreou antes de continuar:
— Tão dizendo que foi alguém de dentro. Tua queda não foi aleatória. Alguém queria te ver aqui.
Os meus dedos apertaram o cigarro até amassá-lo. Eu já sabia disso, mas ouvir em voz alta só confirmava que sua guerra estava longe de acabar.
— Alguém tá achando que pode usar meu nome e ficar vivo? — Eu riu, mas não havia humor ali. Apenas gelo.
— Vai me descobrir quem foi, Bio. Puxa a fita, fala com os moleques, vê quem tava agindo estranho nos últimos tempos. Quero nome, endereço e CPF dessa p***a.
Bio assentiu rápido.
— Pode deixar, chefe.
Eu mim recostei na parede, os olhos escuros brilhando com algo perigoso. O Morro do Alemão ainda era meu. Mesmo preso, eu continuava no comando.
Então, lembrei de outra coisa que o incomodava, franzir o cenho.
— E sobre a Vanessa? – Pergunto
Bio coçou a cabeça.
— Então... a mina tá metendo o louco, chefe. Disse que não vai colar na visita íntima. – Diz
Por um segundo, o silêncio pesou na cela. E eu riu baixo, um riso sem emoção.
— Essa vagabunda acha que eu sou o****o? – Pergunto
Ele se levantou, ajustando a camisa branca no corpo forte. Se Vanessa queria testar a paciência dele, estava brincando com fogo. Mas primeiro, ele tinha um traidor para encontrar. E quando descobrisse quem foi, o inferno ia chegar no Alemão.
A cela estava silenciosa, exceto pelo som ritmado dos meus dedos batendo na mesa de concreto. O cheiro de cigarro barato impregnava o ar.
meu olhar fixo no pequeno celular clandestino na mão, esperando a chamada de Tito. Ele não gostava de ser contrariado, muito menos por uma mulher que ele bancava.
O telefone vibrou. E eu atende no primeiro toque.
— Fala. – Minha voz saiu fria.
Do outro lado, Tito pigarreou antes de falar:
— Chefe, Vanessa mandou um recado.
Eu não disse nada. Apenas esperei.
— Ela disse que não vai colar na visita íntima. Falou que Bangu não é lugar para ela.
Por um momento, o silêncio pesou na linha. O meu maxilar de travou, meus dedos apertaram o celular até estalar.
— Repete essa p***a. – Digo sem paciência
Tito engoliu seco.
— Ela disse que não pisa em Bangu. Que esse lugar não é pra ela.
Eu solto uma risada baixa e sem humor. A vagabunda tava achando que era quem? Rainha da Inglaterra? Eu fecho os olhos por um instante, controlando a raiva que fervia no meu peito. Quando falou de novo, minha voz saiu fria como gelo.
— Escuta bem, Tito. Cancela as metas dela.
— Tem certeza, chefe? Ela vai surtar. – Diz e eu to pouco mim fudendo.
— Problema dela. Se Vanessa quer luxo, que vá fazer programa. Mas o meu dinheiro, ela não vê mais um centavo.
Tito ficou em silêncio por alguns segundos antes de responder:
— Pode deixar, chefe. Vou avisar os moleques. – Diz
Eu respiro fundo, tentando conter o ódio. Eu sempre soube que Vanessa não valia nada, mas agora ela tinha deixado isso claro.
No meu jogo, ou a pessoa era leal, ou não era nada.
— E mais uma coisa, Tito... se essa vagabunda aparecer chorando, implorando, tu já sabe. Fecha as portas pra ela.
— Entendido. – Ele mim responde.
Eu encerro a chamada e jogo o celular na cama. Eu precisava manter o foco no que importava: descobrir quem armou pra mim. O resto? Era só distração.
A luz fraca piscava no teto da cela, projetando sombras distorcidas nas paredes. eu estava sentado na beirada da cama, girando o celular entre os dedos.
O brilho da tela refletia em meus olhos escuros enquanto eu digitava a mensagem com calma, mas sem um pingo de paciência.
— Tu não pisa em Bangu? Beleza. Mas não precisa mais ver a cor do meu dinheiro também. Te vira.
Eu envio a mensagem e recosto na parede, esperando a resposta. E ela veio rápido.
— Tu não pode fazer isso comigo, Hades! Eu sempre fui tua fiel! – Diz.
Eu solto uma gargalhada baixa, sem o menor traço de humor. Fiel? Eu já tinha ouvido muita merda na vida, mas essa era nova. Eu digito com a calma de quem tem o poder nas mãos:
— Nunca vou ter uma fiel, Vanessa. Principalmente uma p**a como você.
A mensagem foi entregue. Dois tiques azuis. Ela leu. Minutos se passaram sem resposta. Eu imaginei a cena: Vanessa com o celular na mão, os olhos arregalados, talvez mordendo o lábio de raiva. Ela devia estar espumando, tentando entender como o jogo virou tão rápido.
Mas eu já não me importava. O luxo que ela tinha era porque eu permitia. Agora, não permitia mais. O cheiro de cigarro barato misturado ao mofo da cela era quase sufocante. eu estava recostado na parede fria, olhos semicerrados, ouvindo o barulho distante dos outros presos no pátio. O celular vibrava entre meus dedos, mas eu ignorava. Tava sem paciência pra conversa fiada.
A porta da cela se abriu. Bio entrou, sempre com aquele olhar atento, como se o mundo fosse uma bomba prestes a explodir.
— Chefe, tem uma fita aí que tu precisa ouvir Tito ta pedindo pra tu falar com ele.
Eu abri os olhos devagar, encarando Bio com desinteresse.
— Fala logo. – Atendo o Tito sem muita paciência
— Dona Selma veio aqui na boca. – Diz
Eu arqueio a sobrancelha, surpreso. Dona Selma? A mulher mais correta do morro?
— Pedir emprestado cinco mil. – Diz
Eu riu baixo, sarcástico.
— Viramos banco agora, TiTo?
— Ela quer trazer duas sobrinhas pra casa. As meninas ficaram órfãs.
O silêncio pesou por alguns segundos. eu passo a língua pelos dentes, pensativo. Dona Selma nunca pediu nada pra ninguém. Nunca se envolveu em merda nenhuma.
— E tu quer que eu banque essa p***a, é isso? – pergunto
— Não tô dizendo pra tu dar. Mas libera a meta pra ela.
Eu cruzo os braços, com o olhar frio. E fico pensativo.
— E se ela não pagar? – pergunto
— Dona Selma não é otária, chefe. Mas mesmo se fosse… cê ia negar cinco mil pra uma velha que já deu comida de graça pra metade dos teus?
Eu fico em silêncio. Eu odiava dever favores, mas também não gostava de cuspir no prato que come.
— Tá bom, Tito. Diz pra ela que tem dois meses pra devolver o valor.
Tito sorri, sabendo que tinha ganhado essa.
— E se não devolver? – Pergunta
— Se não pagar… vai ser cobrada. – Digo sem rodeio
Tito assentiu e desligou a chamada. eu ficou ali, pensativo. Dona Selma era uma das poucas que ele respeitava. Esperava que ela não o fizesse se arrepender.