Layla narrando.
Eu sempre teve um brilho especial. meus longos cabelos negros, meus olhos verdes profundos e minha pele morena carregavam a herança perfeita de dois mundos, com 1,65 de altura, 21 anos a força e a doçura do Brasil, a elegância e o mistério da Síria.
Desde pequena, eu sonhava em ser arquiteta, era fascinada pela beleza das formas, pelos desenhos que tomavam vida no papel. Gostava de imaginar prédios, casas e cidades inteiras surgindo da minha criatividade. meu futuro parecia promissor, cheio de possibilidades.
Mas a vida, implacável como um vendaval, virou tudo de cabeça para baixo de uma hora para outra. Em um dia trágico, meus pais perderam a vida em um terrível acidente de carro.
De uma hora para outra, Eu me vir sozinha no mundo, com a responsabilidade de cuidar da minha irmã mais nova, Rana, de apenas cinco anos.
A dor da perda foi esmagadora, mas o golpe final veio da minha família paterna. Os mesmos parentes que nunca aceitaram o casamento de meu pai com uma mulher brasileira agora viravam as costas para mim e para a minha irmã. Nenhum apoio. Nenhuma ajuda. Apenas uma c***l da rejeição.
Sem trabalho, sem dinheiro e sem meios de sustentar Rana, Eu me vir à beira do desespero foi então que uma luz surgiu na escuridão. Do outro lado do oceano, no Brasil, minha tia Selma, irmã de minha mãe, me estendeu a mão.
Segurando Rana nos braços, eu soube que aquela era minha única chance. Eu deixaria tudo para trás, minha casa, meu país, minhas memórias e partiria para um novo começo. – Como minha mãe gostaria que eu fizesse
Ainda sem saber o que o futuro mim reservava, eu respiro fundo e tomo minha decisão.
O Brasil seria meu novo lar. E, de alguma forma, eu recomeçaria.
Nos dias seguintes, a casa antes movimentada tornou-se um túmulo. Parentes do lado do meu pai vieram, mas não para oferecer ajuda.
"Não podemos cuidar de vocês. A responsabilidade era do seu pai."
"Duas meninas sozinhas? O que podemos fazer?"
As desculpas eram diferentes, mas a rejeição era a mesma. Quando a última porta se fechou, eu abracei a Rana com força, sentindo o peso do mundo sobre os meus ombros.
Sem dinheiro. Sem casa. Sem saída. Tia Selma mim ligou.
— Layla? – Perguntou disse minha tia.
eu mordo o lábio, tentando conter as lágrimas.
— Tia... me ajuda. – Peço
Do outro lado da linha, minha tia fico em silêncio por um instante, e então disse as palavras que mudariam tudo
— Vem para o Brasil, Layla. Eu cuido de vocês.
Um soluço escapou dos meus lábios.
— Mas... e as passagens? Eu não tenho dinheiro. – Digo num tom de desespero.
— Eu vou dar um jeito – garantiu a minha tia, com uma firmeza que fez mim acreditar, pela primeira vez desde o acidente, que talvez houvesse uma esperança.
Eu olho para Rana, que dormia encolhida no sofá, agarrada a um velho lenço do pai.
Eu acaricio os cabelos da minha irmã e sussurrou:
— Vamos para casa, Rana. Vamos para casa. – Digo com confiança.
Eu corro os olhos pelo pequeno apartamento, tentando decidir o que valia a pena vender. Não tinha muito, algumas joias da minha mãe, um tapete artesanal que o pai sempre dizia valer ouro, um relógio de pulso que fora presente de um tio distante. Mas agora, tudo isso era apenas peso morto.
Eu pego as joias primeiro, enrolando-as com cuidado em um pedaço de pano antes de colocá-las na bolsa. O relógio foi o próximo. Por um instante, hesito ao tocar o tapete. meu pai dizia que era uma peça única, que contava uma história. Mas histórias não enchem estômagos, e muito menos pagam passagens.
Dois dias depois, eu já tinha vendido tudo o que podia. O dinheiro que conseguir não era muito, mas pelo menos teria algo para levar ao Brasil.
Naquela noite, enquanto arrumava a mala com o pouco que restava, o telefone tocou. O meu coração deu um salto.
— Alô? – Atendo.
— Layla, querida! – A voz de tia Selma soou animada. — Consegui o dinheiro! Acabei de enviar para sua conta.
Eu corro para o celular e abro o aplicativo do banco. Quando vejo o saldo atualizado, meu peito se aperto. 5 mil. Era real. Nos iriamos embora.
Uma lágrima escorreu por meu rosto enquanto apertava o telefone contra o ouvido.
— Tia… eu não sei como te agradecer… – Digo emocionda.
— Não precisa agradecer, minha menina. Somos família. Eu vou cuidar de vocês duas. – Essas palavras mim confortam
Eu levo a mão ao peito, sentindo uma mistura de alívio e medo.
— Eu vou comprar as passagens agora. Chegamos ao Brasil em dois dias.
— Ótimo! Vou estar esperando vocês.
Eu desligo e olhou para Rana, que dormia no colchão ao meu lado, abraçada ao velho lenço do papai.
Eu me abaixo, beijo a testa da minha irmã e sussurrou:
— A gente vai ficar bem. Eu prometo. – Digo a ela
Eu andava de um lado para o outro pelo pequeno apartamento, sentindo o peso de cada segundo que passava. As malas já estavam quase prontas, mas minha cabeça fervilhava com a preocupação de não esquecer algo importante.
Eu pego a pasta com os documentos e a abro sobre a mesa. Passaporte, identidade, certidão de nascimento de Rana, Certidão de óbito dos meus pais, cartões bancários tudo ali. Respiro fundo e confiro mais uma vez. Não podia correr riscos.
Do quarto, um choro baixinho chamou minha atenção.
Rana estava sentada no colchão, abraçada ao velho lenço do papai, os olhos inchados de tanto chorar. seu pequeno corpo tremia, e a cada soluço, o meu peito se apertava ainda mais.
Eu se ajoelho ao lado da minha irmã e a puxo para um abraço apertado.
— Eu quero a mamãe e o papai… — Rana murmurou contra seu ombro.
Eu fecho os olhos por um instante, segurando as lágrimas.
— Eu sei, meu amor… Eu também quero. – Minha voz sair quase como um choro
Nós ficamos assim por um tempo, apenas sentindo a dor uma da outra. eu então segurei o rosto da minha irmã com as mãos e enxugo suas lágrimas com os polegares.
— Escuta, Rana… Vai ser difícil, eu sei. Mas nós duas vamos ficar bem. Eu prometo. Tia Selma vai cuidar da gente, e eu vou estar sempre com você. – Digo a ela
Rana fungou, olhando para mim com aqueles olhos grandes e inocentes.
— Você promete de verdade? – pergunta
Eu sorri, embora meu coração estivesse em pedaços.
— Prometo de verdade. – Digo a ela.
Eu puxo a minha irmã para mais um abraço e a balanço de leve, como minha mãe fazia quando éramos pequenas. Depois de um tempo, Rana se acalmou, e eu a ajudei a vestir um casaquinho.
Ainda tinham um longo caminho pela frente, Mais um fio de esperança, de um novo começo também.
O aeroporto estava lotado, com pessoas indo e vindo de todos os lados, mas para mim, o mundo parecia girar em câmera lenta. Meus olhos pesavam de cansaço, o corpo moído depois de vinte e oito horas de voo e conexões intermináveis.
Rana dormia em meu colo, a cabecinha apoiada em meu peito, Eu sentia as pernas dormentes por não se mexer. Mas nada disso importava. Nos haviam chegado.
O anúncio do pouso ainda ecoava em minha mente quando a porta do desembarque se abriu diante mim. meu coração acelerou.
Foi quando vir tia Selma.
A mulher tinha os olhos marejados, os braços já abertos, esperando por mim. Ao lado dela estava uma jovem de cabelos longos linda minha prima, Daiana.
Eu não conseguir conter as lágrimas. Segurando Rana nos braços, atravesso o espaço entre elas e me jogo no abraço da tia.
— Tia… — foi tudo o que conseguiu dizer antes de o choro explodir de uma vez.
Tia Selma a mim seguro forte, passando as mãos em meus cabelos, mim embalando como se eu ainda fosse uma menina.
— Minha querida… Eu estou aqui. Está tudo bem agora. – Diz
Eu sinto o calor do abraço, o conforto, a segurança que há tanto tempo não sentia.
Por um momento, não precisei ser forte. Não precisei fingir que estava bem, eu podia sentir minha dor. Eu apenas chorei.
E tia Selma mim seguro firme, como se nunca fosse soltar.