- Calma amiga, deve haver uma saída.
Afundei o rosto entre as mãos quase em desespero.
- Que jeito Paloma? Eu estou desesperada. Não tenho mais dinheiro pra nada.
Minha amiga sentou ao meu lado e me abraçou respirando fundo. Ela estava tentando me animar, mas ela sabia que minha situação era desesperadora. Eu estava quase desistindo de tudo. Nada dava certo em minha vida.
- Levanta a cabeça amiga, o Rian não pode te ver assim.
A menção ao nome do meu filho só fez piorar a situação. Parte do meu desespero era por causa dele.
- Ele não vai ver, eu so estou desabafando com você.
- oh amiga, novamente não conseguiu emprego?
Sacudi a cabeça.
- Não. Todo mundo fica com um pé atrás quando eu falo que tenho um filho pequeno. Eles acham que eu vou faltar ao trabalho, sei lá.
Paloma ficou calada.
- E agora?
- Eu não sei, o dinheiro que eu guardei do meu último trabalho está quase no fim, só dar para as contas desse mês.
- E se você... procurar...
Olhei feio pra ela antes que ela terminasse a frase.
- Não!
- Mellissa! Ele é o pai do Rian.
- Não é.
- É sim, ele precisa assumir a reponsabilidade dele. Ele tem dinheiro.
- Eu não quero falar disso.
Paloma parecia disposta a discutir o assunto proibido naquela casa.
- Precisa falar, ele é um homem rico e tem obrigação de cuidar do filho.
Um filho que eu não queria. Um homem que me estuprou, que me fez de gato e sapato o quanto quis e depois me jogou na rua. Um homem que eu queria esquecer que um dia atravessou meu caminho em um momento em que eu não podia e nem sabia me defender. Hoje eu sei. O m*l que ele me fez me deu forças para amadurecer 10 anos em 03 e agora eu nunca mais deixaria ninguém me ferir e nem ao meu filho. Eu faria o que fosse preciso para blindar meu filho de qualquer contato com aquele monstro que o colocou no mundo.
- Ele não é o pai do meu filho, nunca foi e nem nunca será.
Minha voz evidenciava todo o ódio que eu sentia dele e a Paloma sabia que não deferia insistir. Respirou fundo e mudou de tática.
- Vem trabalhar comigo lá no Hugo.
Franzi a testa.
- Mas ele disse que não tem vaga de garçonete.
Paloma me olhou cínica.
- Não é pra ser garçonete e você sabe disso.
Levantei irritada.
- Lá vem você de novo, já disse que não vou ser garota de programa.
- Para com isso Mel, não é tão r**m como você pensa.
Olhei cética para ela.
- Jura?
Ela levantou o queixo orgulhosa.
- Pelo menos da dinheiro.
Será que dava muito dinheiro mesmo? a Paloma não reclamava de grana, mas também vivia dopada de antidepressivos. Eu não queria aquilo pra minha vida.
- Não quero, não estou tão desesperada assim.
Mas ela viu que minha voz não estava tão firme.
- Faz um teste, se não gostar não vai mais.
Pensei nas contas que estavam vencendo e na creche do Rian. Aquilo era o que mais me preocupava. Eu não podia tira-lo da creche pois senão não poderia trabalhar. Eu não tinha muito tempo, o fim domes estava chegando.
- Quanto você ganha de um cliente?
Ela encolheu os ombros.
- Se for serviço completo, uns 500 reais.
Eu nem quis perguntar o que era o serviço completo.
- E quantos clientes você atende em uma noite?
Ela sorriu e fez pouco caso.
- Quantos o meu corpo aguentar. Ontem mesmo eu atendi cinco.
Engoli em seco.
- Serviço completo?
- Completíssimo.
Era o valor de dois meses de trabalho em uma noite. Era muita tentação.
- Se eu tentar e eu não quiser o Hugo vai me obrigar a continuar?
- Não! o Hugo não é desses não. Lá é tudo muito tranquilo, ele só cobra pelo quarto e pronto.
- Eu vou.
Paloma bateu palmas.
- Ahê amiga, você vai arrasar.
- Posso perguntar uma coisa?
- Pergunte.
- O que é o serviço completo?