Aquele era um dia que merecia uma ida ao bar do Hugo. Tudo de errado tinha acontecido desde a hora que pisei os pés fora da cama.
Pela primeira vez eu tinha falhado no meu serviço e a Olhos de Águia não costumava falhar. O serviço em questão era perigoso? Era, mas não justificava meu cliente ter perdido a vida. Era como se eu mesmo o tivesse matado quando baixei a guarda e o deixei sozinho no banheiro. Homens como o cara que me contratou tinha inimigos até no ar e eu não deveria ter subestimado o limpador do banheiro da boate. Agora eu tinha perdido o dinheiro do trabalho e tinha ganhado um sermão sem tamanho do meu pai.
- Merda Ronivon, é nosso nome que está em jogo!
Ele tinha razão. Eu coloquei em cheque o nome da maior empresa de segurança de Ouro Preto e aquilo me deixou muito m*l.
- Eu admito que falhei pai, eu assumo meu erro.
Nico veio em meu socorro.
- Também não precisa tanto alvoroço. Estamos sujeitos a isso em nossa profissão.
Valentim Aguiar respirou fundo e sentou pesadamente na cadeira alta atrás da mesa de marfim preta.
- Tudo bem, vamos virar essa página.
Não era bem assim.
- Virar a página vai esperar um pouco, eu não contei tudo ainda.
Os dois me olharam curiosos.
- Como assim?
Abri meu celular e cliquei no play da mensagem de áudio.
“Escute bem seus seguranças de merda, eu estou de olho em vocês. Vocês atrapalharam nossos negócios por muito tempo e agora que eu consegui furar o bloqueio de vocês eu aviso que fiquem fora do meu radar.”
Valentin estava branco feito papel.
- Que merda é essa? Quem mandou essa mensagem?
- Ai é que está. O DDD é do Rio de Janeiro.
Nico passou a mão no cabelo nervoso.
- O cliente era de lá?
Afirmei.
- Fugitivo. Traficante de drogas de uma favela lá.
- P.orra!
- Eu sabia que era um serviço perigoso. Por isso ele pagou tão caro.
Valentim estava apreensivo.
- Negociou só com ele?
- Sim.
- Tem mais alguma coisa que precisamos saber?
Tossi meio nervoso.
- Tinha uma mulher...
Valentin bateu na mesa.
- Você pegou a mulher do cara?
- Não!
- Explique melhor.
Sentei pesadamente.
- Ele sequestrou a filha do rival do tráfico e a matou e eu vi o que ele fez. Eu sei onde ele escondeu o corpo.
Nico deu um chute na cadeira.
- Você está louco cara? Como se meteu no meio disso?
Respirei fundo.
- Não me meti no meio de nada, eu acompanhei o homem para uma casa em um sitio e ele matou a moça lá, eu não pude fazer nada.
Os dois andavam em círculos pela sala.
- E agora? Eles podem querer vingança e você parece que está no radar desses bandidos.
Encolhi os ombros.
- Não tenho o que fazer. Ficar alerta e seguir minha vida.
Valentin me encarou.
- Se cuide por favor, eu não quero perder mais um filho.
O silêncio foi longo e triste por alguns minutos e então eu levantei disposto a encerrar aquele assunto.
- Podemos terminar esse dia? já deu pra mim?
Valentim fechou o notobook.
- Vê se não vai encher a cara.
Eu ri meio sem vontade.
- É justamente o que vou fazer.
- E aposto que é no bar do Hugo.
Olhei para o Nico. Meu irmão estava precisando de uma trepada. O cara estava mais razinza que meu nosso pai.
- Lugar pra onde você deveria ir também.
Ele sorriu cinicamente.
-Me enfiar no meio das pernas de mulheres desconhecidas? Muito obrigada.
Soltei uma gargalhada.
- Virou puritano foi Nico, eu quero saber de conhecer a p***a da mulher, eu quero é meter nela e gozar.
- Você vai é se apaixonar por uma delas, uma hora dessas.
Bati na mesa.
- Vai jogar praga em outro.
Valentim bateu na mesa com a bengala.
- Fora daqui seus depravados. Eu quero ficar sozinho.
Peguei minha jaqueta e joguei no ombro.
- Tchau família, vou ali e hoje vou escolher uma garota top, estou precisando aliviar a mente.