Prólogo:
Jasmine:
"Se eu sair dessa casa, estarei condenada. Deveria ter fugido quando tive a chance, mas agora é tarde demais. Deixei o tempo escapar como areia entre os dedos, e agora, com os bombeiros apagando o incêndio, não há mais como escapar da verdade. A polícia vai descobrir o que fiz, e não há retorno.
Um policial de cabelos brancos parou ao meu lado, seu silêncio pesado como uma sentença. Ele talvez ache que pode me forçar a confessar o que não deveria. Ou, mais provavelmente, está absorto na visão dos dois corpos carbonizados encontrados na cozinha, um cenário impossível de ignorar.
— Vamos revisar os eventos novamente, senhorita. A voz do jovem policial de cabelos escuros interrompe meus pensamentos, cortante e impessoal. Ele se aproxima com a calma que me faz desconfiar de sua intenção, e eu percebo que ele é o detetive, ainda que minha mente esteja tensa demais para ter certeza de qualquer coisa. — Quando chegou, a casa já estava em chamas?
Eu hesito, a mente tumultuada, e por um momento, penso em pedir um advogado. Será que isso me salvaria de mim mesma? Mas já sei que estou perdida.
— Sim. Respondo com frieza, mais por instinto do que por reflexão.
Ele me observa, e eu vejo em seus olhos a desconfiança que se reflete na mesma intensidade que sinto dentro de mim.
— Por que você só chamou os bombeiros depois de meia hora? A pergunta cortante me faz engolir em seco. Meu corpo estremece, mas mantenho o olhar firme, apesar do medo que se espalha como fogo por minhas veias.
Meus lábios se apertam, tentando segurar a verdade que arde para sair.
— Já falei! Cheguei em casa, e não tive tempo de entender o que estava acontecendo.
A voz falha, mas não me permito ceder mais do que isso.
O policial se inclina, sua presença ameaçadora, querendo me esmagar com suas palavras afiadas. Mas eu não sou tola, sei o que ele quer de mim. Sei que sou culpada, mas a prisão não é uma opção. Não voltarei. Eu não vou.
Mantenho-me firme, apoiada no carro, com os ombros tensos. — É tudo o que sei. Não posso ajudá-lo mais. Lamento.
O detetive, frustrado, morde o interior da bochecha. O olhar que me lança está repleto de raiva contida, enquanto ele revira mentalmente todas as evidências, sabendo que não são suficientes para me prender ainda. Ele sente que estou mentindo, mas precisa de mais.
— Carl, você precisa ver isso... agora! O grito quebra o silêncio da noite, e meu coração dispara. O pavor aperta minha garganta como uma mão invisível. Não é possível. Não pode ser. Ele descobriu algo. Algo que não deveria ter sido encontrado.
Meu olhar se desvia, e vejo o policial, agora imóvel em frente ao que resta da casa. Ou o que sobrou dela. — Você não vai acreditar... — A voz do policial se esvai com a promessa de algo que vai mudar tudo.