Capítulo 13

2085 Words
Alice decidiu que tinha certeza de que Callie não era culpada, mas ainda assim, não era nada m*l checar com a amiga sobre tudo o que ela fez naquele dia, só precisava achar uma forma casual de perguntar sem parecer que desconfiava de que ela causou tudo. Não era desconfiança, só preferia precaver. Sabia que Callie não tinha a mínima intenção de se tornar Odette, ela sempre quis Odile. Então o motivo de ela talvez ter mudado o colchão fosse apenas para dar um susto em Dominique por elas estarem sempre brigando apesar de serem amigas. — Callie. — Hm? — Eu estava lendo o diário de Donna e ela menciona aquela briga de comida. Callie se vira para Alice dando risada ao lembrar do dia. — Aquele dia foi divertido e engraçado, bem não a punição, mas jogar comida naquela boboca foi divertido. Sinto falta dela. — a voz se tornou triste assim como o olhar ao dizer a última parte. — Também sinto falta dela. Enfim, eu estava lendo e lembrei que você me disse que iria esmagar Donna como um inseto, você chegou a fazer sua vingança? — ela perguntou curiosa, mas tentando não demonstrar interesse excessivo. Callie olhou para o teto pensativa e então fez um não com a cabeça. — Não, depois da conversa com a diretora, eu e Donna conversamos sobre tudo aquilo e nos acertamos. Apesar da insistência da Madame para que ela ficasse com as aulas que eu queria, ela deixou que eu ficasse. — Eu lembro que no fim você ficou com as aulas, só não sabia que as coisas haviam se resolvido assim. — ela comentou buscando deixar sua voz neutra. — Na época ainda não éramos tão próximas para que eu comentasse a respeito, mas fico feliz que nos aproximamos.  Alice assentiu e respondeu que ela também. Então não havia sido Callie, ao menos não parecia ter sido a amiga. Esticou a mão para a mesa de cabeceira e pegou o diário, abriu na página onde havia parado. — Você vai ler agora, sério? Estamos vendo filme! — reclamou Callie — Agora que você tem um namorado, você só quer ficar com ele. Alice Rodrigues eu te proíbo de ler enquanto eu estiver no seu quarto. Alice revirou os olhos, mas fechou o diário. Voltou os olhos para o filme, ainda não tinha entendido porque estavam assistindo a Cisne n***o, o longa metragem estrelado por Natalie Portman. Gostava do filme, mas parecia estranho quando elas mesmas iriam dançar aquele balé em dois meses na frente de várias pessoas. E que a amiga delas havia morrido de uma forma similar a personagem do filme.  — Não considera um momento estranho para assistir esse filme? — Eu gosto dele. — Não foi essa minha pergunta. — Estranho ou não, era o que eu queria assistir. Agora fica quietinha, vai. Alice revirou os olhos, mas ficou em silêncio. Natalie Portman era uma excelente atriz e tinha se preparado bem para o papel. Alice ainda não entendia muito bem quais eram os momentos em que a personagem alucinava e quais eram reais, mesmo tendo assistido várias vezes. Provavelmente era essa a ideia, fazer você duvidar de tudo ali. Quando o filme acabou, a bailarina limpou algumas lágrimas e voltou-se para Callie que desligava a televisão. — E agora? — Agora vamos continuar lendo os diários.  Ambas pegaram os diários que estavam lendo.  — Donna parece que já brigou com todo mundo daqui. — Alice comentou. — É normal isso, principalmente em um meio tão competitivo quanto o do balé. Boa parte aqui se conhece há anos, alguns chegaram agora como você, mas em algum momento você também vai ter suas brigas. Acontece quando se passa muito tempo com as pessoas ao seu redor. — refletiu Callie enquanto abria a página que havia parado. Alice fez o mesmo.                                                                              *** Flashback, 6 meses atrás. A bailarina estava com um pé na barra e o outro no chão como base. Era o aquecimento da aula de reforço que Dominique dava, aquela seria sobre como melhorar os giros, fosse em pirueta, fouetté ou um dos outros mil giros que diariamente eles faziam fosse em aula ou coreografia. — Agora plié e sim, com o pé na barra antes que alguém pergunte. Faça plié com a sua perna base, isso ajuda a alongar e aquecer os músculos que serão trabalhados. — comandava Donna — Olhem a postura, nada de ombros caídos e costas tortas. Ela sorria para a amiga que passava de aluno em aluno corrigindo o que fosse necessário. Donna estendia as mãos para que Alice segurasse e ela o fez, Dominique puxou a amiga um pouco mais para o lado deixando que só o tornozelo dela ficasse na barra. — Agora faça a ponta e então plié, vai ver que vai alongar bem mais o músculo. Alice fez como indicado e mordeu os lábios para evitar que o gemido de dor escapasse dos lábios, sim, aquilo esticava muito mais o músculo da perna. Continuou para o cambré indicado, esse era para frente, então colocou os braços para a quinta posição e deitou o corpo em cima da perna na barra. — Dominique Carpentier! — uma voz feminina, alta e irritada surgiu na sala. — Tori. — Donna cumprimentou alegre. — Não venha com Tori pra cima de mim. — a garota esbravejou — Você tinha que ser a senhorita perfeitinha e ir contar imediatamente para a Madame, não é mesmo? Alice levantou-se do cambré e olhou ao redor, a professora havia saído e agora as duas estavam brigando, a aula m*l havia começado. Aquilo não era bom. — Agora façam cambré para os lados. — Donna indicou — E você abaixe esse tom de voz, eu estou dando aula, não pode esperar? — Não aja como se você fosse mais velha que nós, temos todos a mesma idade aqui. — retrucou Tori — Por que você foi falar para a Madame sobre o vômito depois da pesagem? — Havia sangue lá, Victoria. Se queria que eu ficasse calada então não me chamasse para te ajudar. Eu não vou deixar você se m***r. — Eu não vou morrer. Só que agora ela quer que eu fique internada e isso significa perder um mês ou mais de aula! — Você. Estava. Vomitando. Sangue. — Dominique falava de forma pausada dando destaque a cada uma das palavras, principalmente a última — Honestamente, perder um mês de aula é mais importante do que sua vida, sua saúde? Tori, eu tive que fazer isso. — Não você não tinha, você simplesmente é a senhorita perfeitinha e meteu seu nariz onde não foi chamada, como sempre. Vá se ferrar, eu não quero saber das suas desculpas. Parabéns, vai conseguir o papel principal eliminando qualquer um que possa concorrer com você. — Você sabe exatamente que essa não era minha intenção.  — Eu não me importo com sua intenção, eu estava muito bem sem que você metesse seu nariz na minha vida. Eu estava eliminando o peso que eu precisava. — Você poderia ter feito dieta e exercícios, você tem bulimia Victoria e isso pode sim m***r. — Não se meta em minha vida. Ela empurrou Dominique que caiu sentada no chão ainda em choque. Alice saiu da barra e se colocou entre as duas. — Vai ficar do lado dela, Alice? Cuidado, ou ela também vai te tirar do caminho dela. — Eu não estou do lado de ninguém, só quero evitar que vocês se agridam. — Alice explicou. Ela achava que Dominique tinha agido corretamente, mas não era o momento para falar aquilo. Precisava fazer com que Tori fosse embora antes que a professora voltasse ou que um dos alunos fosse dedurar para Madame e as coisas realmente ficassem ruins para Tori. — Eu não pretendo bater nela, não é assim que eu resolvo as coisas. — a garota respondeu — Fique esperta Dominique, eu vou te tirar desse seu pedestal. Tori sorriu para Alice antes de se virar, jogar o cabelo por cima do ombro e seguir para fora da sala. A brasileira observava a cena um tanto chocada, mas saiu do torpor e estendeu a mão para que Donna se levantasse.  — Você acha que eu fiz certo? — ela perguntou ao aceitar a mão. — Honestamente? Sim. Só que Tori, ela tem esse problema e não vai reconhecer que precisa de ajuda, então a intervenção foi certa, só que não diminui a fúria de quem está sofrendo ela. — a jovem respondeu com um dar de ombros — Vamos voltar para a aula antes que a professora surja furiosa. E foi exatamente o que Dominique fez, voltou para a série de cambré e depois pediu que os alunos fossem para o chão. — Podem encostar a coluna na parede mesmo. Vamos continuar com os alongamentos para ninguém ter lesão durante os saltos. Alice foi a primeira a obedecer o comando. Supunha que a maioria ainda tentava entender o que havia acontecido ali, mas Alice sabia bem, fora ela quem chamou Donna no segundo que Tori trancou a porta e começou a vomitar.                                                                              *** Alice fechou o diário e relatou a leitura para Callie, ainda deitada ao seu lado, no dela ainda não tinha nenhuma briga. — Tori disse que iria tirar Donna do pedestal, talvez tivesse puxado o colchão para que ela caísse e machucasse uma perna ou um braço e ficasse parada por alguns meses fazendo com que outra pessoa assumisse o holofote. — teorizou a bailarina. — Não vou dizer que não é possível, mas eu não acho que Tori teria de fato feito uma coisa dessas, não é quem ela é. — opinou Callie. Alice assentiu, ela precisaria fazer a mesma coisa que havia feito com Calissa. Relembrar o dia e perguntar a respeito. Só que havia um grande problema nisso, ela confiava demais nas palavras das amigas. Uma batida em sua porta a despertou do devaneio, ela saiu da cama, caminhou para a porta e abriu, deparou-se com Verona ali parada. — Oi. — Oi Ali. Alice mordeu a língua para não dar uma resposta atravessada. — Em que posso ajudar? — Eu queria me desculpar pela forma como eu agi naquele dia no jardim, não foi nada legal da minha parte e você só estava tentando ajudar. — Tudo bem. — ela respondeu com sinceridade. Ela fez menção de fechar a porta, mas Verona começou a falar de novo.  — Eu também trouxe um pequeno presente. Verona estendeu uma caixa fechada com um lindo laco, Alice aceitou o presente e agradeceu. — Uma pergunta por curiosidade, você e Donna pareciam mais afastadas nos últimos meses, mas naquele domingo você defendeu ela como ninguém, vocês tinham brigado? Alice não sondava por achar que Verona poderia ser culpada, sabia bem que melhores amigas brigam, Alice mesmo vivia brigando com sua melhor amiga quando em casa. — Foi algo assim, eu estava insatisfeita com muitas coisas e acabei descontando em Dominique, ela obviamente se irritou e eu ainda me sinto m*l por nunca ter pedido desculpas, espero que onde ela estiver tenha me perdoado. Alice assentiu e ofereceu um sorriso compreensivo. — Donna perdoava fácil, eu acho que ela nunca falou, mas já tinha perdoado, só estava esperando você se aproximar para retomar a amizade. Verona agradeceu e saiu da porta, Alice a fechou atrás de si e foi para a cama de novo. — O que ela te deu? Ela deu a caixa para que Callie sanasse a curiosidade. Eram macarons. — Ah, são meus favoritos, posso pegar um? — Claro, quantos quiser. — e ela estava sendo sincera. Deitou-se na cama lendo o diário, mas ainda pensando nas palavras de Verona. Era por aquele motivo que ela parecia tão amargurada no jardim, a amiga morreu e ela nunca se desculpou pela briga entre elas. — Por favor, se um dia a gente brigar, me lembre de pedir desculpas assim que a raiva passar. Não quero que a amargura tome conta de mim como aconteceu com Vero. — Eu digo o mesmo, é triste o que aconteceu com ela. Alice olhou para o relógio do celular e suspirou. — Vamos, daqui a pouco o jantar acaba e nós ficamos sem comida. Ambas deixaram os diários em cima da cama e arrumaram as roupas bagunçadas antes de saírem do quarto, Alice trancou a porta e seguiu para o refeitório junto com a amiga que ainda carregava a caixa cheia de macarons.
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