Amanda
A ligação veio pouco tempo depois que eu cheguei em casa, Davi me esperava sem camisa e de braços abertos, mas o telefonema veio nos separando, era a Beca e eu m*l conseguia ouvir o que ela dizia, “eu não consigo respirar” soou como um sopro, um suspiro baixo, me atingindo direto no coração.
Eu gritei algo às pressas para o Davi e saí de casa, cheguei ao andar dela antes que um minuto se passasse no relógio, Davi me seguiu. A porta estava aberta. Meu coração pulsava na garganta.
Beca estava no sofá, roxa, os olhos vidrados, a cabeça meio abaixada entre as pernas, fazia um esforço descomunal pra respirar.
- Pega gelo! – gritei para o Davi. – Beca, olha pra mim, eu estou aqui, está tudo bem. – ela olhava, mas em desespero. – Respira comigo, vai, puxa, solta. – eu estava desesperada também, ela tentava me copiar, mas com muita dificuldade. – Isso. É fácil. Respira, solta. – Davi chegou ao nosso lado com o gelo. – Bota na nuca dela. – pedi. – Tá tudo bem, tudo vai ficar bem.
Ela estava com medo de morrer, eu via nos olhos dela, ela tentava respirar, mas ar nenhum entrava nos pulmões. Eu estava com medo também.
Eu insisti, segurei nas mãos dela e garanti que ela não tirasse os olhos de mim.
- Eu estou com você, Beca, nada vai acontecer. Só calma e respira. – eu tentava transparecer uma calma que eu não tinha, mas parecia dar certo.
O tom de pele dela foi aos poucos saindo do roxo para o vermelho, a respiração dela ainda era entrecortada e difícil, mas a expressão que ela tinha no rosto foi amenizando.
- Muito bem, meu amor, você está conseguindo. – eu sorria pra ela, de alívio.
Me sentei ao lado dela no sofá e a abracei de leve, sem a sufocar e alisei os braços dela com carinho. Davi observava tudo em silêncio.
- Pega água pra ela, Bonito. – pedi e ele foi na mesma hora. – Eu num disse que ia ficar tudo bem. – repetia pra ela.
- Murilo foi embora. – ela praticamente suspirou, mas eu estava próxima o suficiente pra entender o que ela dizia.
- Vou te levar pra minha casa e eu vou cuidar de você.
Meu coração doeu ao ouvir o que ela disse. Eu já tive perdas sucessivas na minha vida e isso te sufoca a ponto de você duvidar da sua capacidade de sobreviver a elas.
Beca tinha perdido tudo. Tinha sido humilhada e m*l tratada no dia do nascimento e morte da própria filha e na busca para preencher esse vazio ela estava perdendo o grande amor da sua vida.
E eu me sentia culpada.
Eu tentei ser o que ela precisava, tentei apoiá-la, tentei com que ela mudasse de ideia, torci pra que ela conseguisse a guarda da Preta e ela melhorasse.
Mas ela tinha visto o Murilo ir embora. Falhei.
Ela bebeu a água que o Davi trouxe e depois a coloquei em pé.
- Ela vai pra casa com a gente, ajuda ela? – falei para o Davi e ainda em silêncio ele a carregou no colo até o nosso apartamento, a deixou deitada no sofá. – Eu vou pegar uns travesseiros pra você, Beca, espera só um pouquinho. Ouviu.
Davi me seguiu até o quarto.
- Ela não precisa ver um médico? – me perguntou.
- Não, ela teve uma crise de ansiedade grave, não é a primeira vez, mas não se preocupe eu vou ligar para tia Vânia.
- E o Murilo?
- Foi embora.
- O quê? – ele perguntou chocado.
- Ela disse que ele foi embora e só. – do armário eu tirava dois travesseiros.
- Eu vou ligar pra ele.
- Davi, não. – pedi. – Não adianta fazer o Murilo voltar agora, ela não está em condição de vê-lo. Ela precisa botar a cabeça no lugar primeiro.
- Mas ele viaja amanhã!
- Melhor ainda, mais tempo pra ela se recuperar.
- Eu só preciso saber onde ele está. – e pegou o celular, saí do quarto com os travesseiros e uma coberta.
- Tá melhor? – perguntei, a aparência dela estava outra e a respiração bem mais normalizada apesar de um pouco ofegante.
- Obrigada.
- Não precisa agradecer nunca.
- Ele me deixou, Mandis. – agora chorava.
- Depois a gente conversa sobre isso.
- Depois não. Eu preciso dele de volta.
- Murilo te ama, ele vai voltar.
- Eu achei que nada me doía mais, que i****a eu sou. – ria miserável, de ódio de si mesma. – Ele queria jantar fora hoje e eu esqueci. Ele disse que eu não sou mais a mesma e que eu não importo mais com ele. – as lágrimas escorriam sem cessar. – E eu o mandei embora. Mandis, Eu o mandei embora! – repetia. – Eu disse que lutaria pela Preta com ou sem ele. Eu o mandei embora você está entendendo. E ele foi. Agora o que sobrou de mim? Eu perdi tudo.
Chorava de soluçar e eu chorava junto, como eu poderia consertar tudo isso?
- Ele só precisa de um tempo pra pensar e você também.
- Quando ele saiu e fechou aquela porta eu olhei para aquele apartamento e me dei conta de que eu não quero viver sem ele. Eu estava cega, Mandis, mas foi o Murilo a melhor coisa que me aconteceu nessa vida. De repente aquelas paredes começaram a me sufocar e eu não conseguia respirar, eu sabia que eu tinha o perdido. Tudo por minha causa, tudo sempre por minha causa!
- A Mel não foi por culpa sua.
- Mas eu nunca vou parar de me culpar mesmo assim e eu joguei na cara dele que ele não sofria como eu pela morte dela. – chorava desolada. – Ele deve me odiar agora.
- Ele não te odeia, muito pelo contrário, ele entende o seu sofrimento, ele só não sabe como lidar com tudo isso, você o afastou, Beca.
- Eu passo uma vida sem filhos, Mandis, mas eu não posso passar uma vida sem o Murilo. – era como se ela se desse conta disso agora e sofria por ser tarde demais.
- Você só precisa dizer isso a ele.
- Eu nem sei onde ele está. – se desesperava.
- Logo ele volta pra casa, você vai ver.
- Pra onde ele iria? E se ele tiver conhecido outra pessoa? Eu estava tão ausente que nem reparei em nada, a gente m*l se falava.
- O Murilo jamais faria isso.
- Porque não? O Davi não trocou a Emily por você? – dizia sem pensar.
- Foi completamente diferente, ele não namorava a Emily, Beca.
- Mesmo assim, eles tiverem um lance qualquer e quando ele conheceu você tudo mudou. E se ele conheceu esse alguém também?
- Eu saberia. – Davi entrou na sala. – Fica tranquila quanto a isso, Beca, o Murilo só pensava em você e te garanto que agora ele também está sofrendo por estar longe.
- Deita um pouco que eu vou preparar alguma coisa pra você comer. – alisei o cabelo dela e fui para a cozinha, Davi foi atrás de mim.
- Eu não consegui falar com ele. – me disse assim que estávamos longe dos ouvidos dela.
- Ele quer espaço, ele também precisa pensar um pouco.
- Pode ficar com ela lá na sala, eu arrumo a comida aqui.
Ela só me viu quando me sentei à frente dela, chorava de cabeça baixa, os olhos muito vermelhos e o rosto molhado.
- Eu preciso de ajuda, Mandis. Eu preciso do Murilo de volta.
- Você precisa de você mesma de volta.
- Mas eu não sei o que fazer!
- Eu também não sei, mas sei por onde começar.
Peguei meu celular e me levantei, rodei a sala porque era mais fácil esperar quando se estava em movimento. Disquei o número e esperei.
- Tia Vânia? – Beca soluçou ainda mais ao me ouvir dizer esse nome. – A gente precisa de você. A Beca precisa de você. Vem pra Belo Horizonte, por favor. – não precisava dizer mais nada, ela quis mais detalhes e eu dei. Antes que o sol raiasse ela sairia de Vila dos Anjos.
- Minha mãe e você são tudo que me restou.
- Você tem muito mais do que isso, Beca. Sua carreira, seu mestrado, nossa família e um futuro todo pela frente.
- Futuro nenhum presta sem o Murilo comigo.
- Aposto que ele pensa a mesma coisa, por isso ele foi.
- Eu preciso do meu celular caso ele tente entrar em contato comigo, ficou no meu apartamento.
- Eu vou buscar pra você, fica descansando aí que o Davi já está preparando algo pra gente comer.
Rapidamente eu fui e voltei do apartamento deles, o celular estava na bolsa e eu trouxe tudo. Quando voltei o Davi arrumava a mesinha de centro como se fosse mesa de jantar.
- Vamos comer aqui mesmo, estou fazendo sopa.
- Obrigada, Bonito. – sorri para ele e me aproximei para abraça-lo só um pouquinho, não era bom grandes demonstrações de afeto na frente da Beca nesse momento, eu já passei por isso antes e não é nada agradável.
Entreguei a bolsa para ela.
- Vou tomar um banho, tudo bem?
Ela fez que sim enquanto vasculhava a bolsa a procura do celular.
Deixei a Beca na sala, o Davi na cozinha e fui ser útil a mim mesma debaixo do chuveiro, o dia tinha sido longo e cansativo e mesmo depois de chegar em casa ele continuava me esgotando.
Não pude sequer me demorar muito no banho com medo de que a Beca estivesse de novo tendo uma crise na sala. Voltei pra lá de pijamas.
- Beca, separei aquele meu pijama que você adora pra você vestir. – eu disse entrando na sala.
- Ele está com a Olívia, ela me mandou uma mensagem. – ela parecia bem mais tranquila.
- Viu, ele só precisava esfriar a cabeça.
- Respondi a mensagem perguntando como ele está, mas ela não me respondeu ainda.
- Dê um espaço a ele, Beca, deixe ele pensar um pouco.
- E se ele pensar demais e perceber que é melhor ficar sem mim.
- Duvido muito.
- Mas é uma opção.
- Para de pensar nisso.
Davi entrou na sala com a panela e a colocou bem no meio da mesinha de centro. As cumbucas já estavam lá.
- Tá bem quente. – ele alertou
- Pode deixar que eu sirvo vocês. – me adiantei para servir a cumbuca de todo mundo, meus dois grandes amores comigo, por mais que não fosse em um momento bom, eu era sempre grata por tê-los por perto.
- Murilo está na Olívia, Davi. – Beca dizia enquanto recebia a cumbuca de mim.
- Faz sentido, ele sabia que você viria pra cá se precisasse, restando só a Olívia.
- Pisei na bola feio com ele. – ela mexia com a colher fazendo movimentos em círculo, fitava a comida sem de fato a comer.
- Beca, o Murilo está frustrado, não com raiva, ele não te odeia.
- Ele está decepcionado comigo.
- Ele se sente culpado por tudo que aconteceu com você e tenho certeza que ele teria trocado de lugar com você se pudesse, ele sabe que o que você passou foi devastador. Ele não está decepcionado, no máximo ele pode estar pensando que você não o quer mais na sua vida.
- E eu ia querer quem mais nela? – ela o olhou enfática.
- A Preta. – ele disse e ela voltou a mirar a comida.
- Eu amo aquela garotinha, mas eu estava errada em pensar que eu sou capaz de cuidar dela, eu m*l consigo cuidar de mim mesma. Olha pra mim, tomando sopa e pedindo abrigo na casa da minha melhor amiga que até outro dia dividia apartamento comigo. Eu estou regredindo.
- Para de drama e come logo essa sopa. – brinquei com ela.
- E amanhã minha mãe vem pra me botar nos trilhos de novo.
- Tia Vânia vem pra te dar colo. – corrigi.
E colo foi a primeira coisa que ela nos deu quando chegou no dia seguinte.
Era cedo ainda quando o interfone do meu apartamento tocou, nem eu e a Beca tínhamos aula no mestrado hoje o que nos dava um tempo a mais em casa.
Tia Vânia chegou nos beijou e abraçou por todos os dias que ficamos separadas, não disse muita coisa além de oi, foi só carinho e saudades sendo matadas.
Botou a Beca deitada no colo dela e me chamou pra sentar ao lado das duas.
- A vida é como uma grande equação de matemática, minhas queridas, se errarmos um sinalzinho que for não seremos capazes de obtermos o resultado correto, é preciso voltar ao início e recomeçar tudo de novo. E nós somos o início. – acarinhava a filha e olhava pra mim, a filha do coração.
- Estou feliz que você esteja aqui, tia. – nosso fardo era mais leve quando ela estava por perto.
- Estou feliz por estar aqui também. Agora se arrumem, vamos dar uma volta.
- Mas o Murilo vai voltar para casa para arrumar a mala dele, ele viaja hoje ainda.
- E você vai dizer o quê a ele?
- Não sei.
- Pois então você só vai encontrá-lo quando souber o que dizer.
Nós duas decidimos por obedecê-la, Beca pegou uma roupa minha emprestada pra não ter que ir ao seu apartamento e correr o risco de encontrar o Murilo por lá. Saímos a pé e sem um rumo conhecido.
- Aonde a gente vai, mamãe?
- Por aí. – respondeu serena, como se dominasse toda a situação, essa confiança é o que nos dava paz.
Qualquer lugar era do tamanho certo com nós três juntas.
- Olha aquela sorveteria! – ela apontou extasiada. – Nós já fomos nela, não fomos, meninas?
- Acho que sim, mãe. – respondeu em dúvida.
- Já sim, ano passado. – confirmei.
- Claro, quando era a Amanda na fossa. – ela disse naturalmente e eu ri com a lembrança. – Vamos até lá, me lembro que o sorvete era de outro mundo.
- Tá muito cedo pra tomar sorvete. – a nutricionista nos regulava.
- Não, filha, está muito cedo pra dizer o que devemos ou não comer. Depois você volta pra sua dieta e restrições, hoje mamãe quer tomar sorvete com vocês.
Beca só fez rir e concordar, cruzamos a rua de braços dados, todas as três. Nos sentamos fora da sorveteria, ao ar livre, cada uma escolheu seu sorvete e ficamos lá sentadas olhando as pessoas passarem na correria de um dia de semana.
- Vocês se lembram de quando eram mais novas e me diziam que iam à sorveteria, mas iam encontrar com os namoradinhos de vocês?
- Que absurdo! – dissemos juntas.
- Vocês achavam que me enganavam. – ela sorria toda dona da situação.
- Que mentira, mãe!
- Já passou muito tempo pra vocês se preocuparem em manter essa mentira.
Ficamos em silêncio, olhamos uma pra outra e sorrimos confidentes.
- Bons tempos, tia.
- Era, só fico pensando onde foi todo o dinheiro que eu dava para o sorvete.
As três riram.
- Nada ilícito, isso eu posso garantir, mãe.
- Se lembra, Amanda do tanto de namorado que a Rebeca tinha? O pai dela ficava desesperado! Eu tentava de todos os jeitos convencê-lo de que estava tudo bem, que era uma fase, mas eu tinha minhas dúvidas de que ela um dia sossegaria.
- Nem eram tantos assim. – ela desfez.
- Eram sim. – entreguei. – Até pouco tempo atrás você ainda era assim, Beca.
- Eu sou intensa. – se desculpava. – O que eu posso fazer?
- É verdade, você sempre foi intensa mesmo. – a mãe dela concordava. – Uma fez quando pequenininha ela ganhou um pintinho na escola e de um dia para o outro o bicho morreu, ela chorou tanto que teve febre, a levei ao médico e ele me disse que era psicológico, fizemos um enterro para o pintinho e ela queria que o padre rezasse uma missa.
- Eu adoro essa história. – Beca ria.
- É a sua cara fazer isso. – eu disse.
- O que posso fazer, nasci assim. – brincava.
- Você nasceu com defeito de fábrica. – tia Vânia implicava. – Não há divisão entre o seu cérebro e coração. – soava mais reflexiva, era um novo tom na conversa. – Diferente da Amanda. Amanda tem um muro entre um e outro, age com o cérebro, ama com o cérebro e só quando a cabecinha dela está convencida é que ela abre o coração. – ela apontava pra minha testa e meu peito quando falava. – O resultado disso é essa teimosia e esse orgulho.
“Agora, você não, Rebeca, você pensa, age, ama tudo com o coração, se entrega de primeira, ama amores eternos. – ela já tinha entendido o rumo da conversa e agora tinha os olhos marejados. – Uma dor simples dói diferente em você. O coração da Amanda é cercado por fortalezas, o seu fica sempre na linha de frente. É linda a diferença entre vocês e como vocês se complementam, nenhuma das duas está certa ou errada, mas vocês precisam saber sempre a hora de parar.”
“Amanda passou por isso ano passado e esse ano quando finalmente aceitou a proposta do Davi em morarem juntos. Você está passando agora com a perda da Mel. Seu coração está sangrando, filha, eu sei, eu te vi adoecer por um pintinho, é por isso que você precisa botar sua cabeça pra funcionar porque senão o seu coração nunca vai se curar, sobrecarregá-lo não vai te levar a lugar nenhum, procurar outro alguém para amar é sobrecarregá-lo.” – tocava nela como tinha tocado em mim.
- Te amo, mãe. – Beca chorava de verdade agora e abraçava a mãe.
- Também te amo, filha.
Beca
Minha mãe ficou até quando eu precisei, deixou BH no dia que o Murilo voltaria para o Brasil. Ele não me ligou nenhuma vez e nem eu liguei para ele. Não o fiz porque eu precisava dizer tudo olhando nos olhos dele, mas eu esperei que ele me ligasse.
Amanda me disse que tinha conversado com ele e pedido pra que ele esperasse pra conversar comigo pessoalmente, ainda assim eu esperava que ele me ligasse antes de dormir como ele sempre fazia quando viajava.
Eu tinha medo de que ele estivesse conversando com outra mulher, desabafando com quem tinha ouvidos pra ele, pra quem se compadecia da sua dor, tudo que eu não fiz desde a morte da Mel. Eu tinha medo de que ele descobrisse que não me amava mais tanto quanto achava que amava.
Eu tinha medo de que ele me deixasse pra sempre.
Mas medo era eu pensando com o coração e não com o cérebro. Murilo largou a cidade, o país, a família dele pra ficar comigo, nós ainda não éramos casados no papel, mas o que tínhamos criado juntos era forte e verdadeiro.
Eu não podia mais viver no medo e na dor.
Ele abriu a porta. Eu não fui buscá-lo no aeroporto, esperei em casa, mão apertando mão, calafrio pelo corpo e barriga doendo. Eu queria estar bonita pra ele, mas não podia estar arrumada demais, não faria sentido.
- Oi. – eu disse primeiro.
- Oi. – ele respondeu de volta, deixou as malas e fechou a porta, ficou parado por ali mesmo me olhando.
- Como foi a viagem?
- Foi boa. – essa conversa travada me matava, como dois desconhecidos ou como dois conhecidos que a muito não se veem ou se falam.
- Eu não te liguei porque queria conversar pessoalmente com você, mas eu passei maus bocados depois que você saiu daqui aquele dia.
- Eu soube, quis te encontrar antes de viajar, mas o Davi me convenceu de que você precisava de um tempo.
- É, eles cuidaram da gente. – ri sem graça, esfregando minhas mãos uma na outra.
- Nós já fizemos isso por eles também. –confirmei com a cabeça.
- Senti sua falta. – ele não me respondeu, só me olhava e isso doeu. – Você se lembra como a gente se conheceu? – comecei, segurando com força as lágrimas que insistiam em abrir caminho, meus olhos ardiam. – Lembra? Na academia com a Mandis, eu dizia a ela que tinha começado o meu projeto de Nova Rebeca e você ouviu. Eu lembro do brilho no seu olhar, o brilho de um homem flertando. – sorri. – Te achei tão lindo que quebrei a primeira regra da Nova Rebeca e escrevi meu celular em um guardanapo da lanchonete da academia e te entreguei sem que a Mandis percebesse.
“Você me ligou e no dia seguinte já fomos almoçar juntos e em segredo, quer dizer, era segredo até aqueles dois entrarem no restaurante em que estávamos. Naquela mesma noite foi a nossa primeira vez, nunca contei isso para a Amanda.” – cruzei os braços na minha frente, as lágrimas ainda insistiam, mas vê-lo prestando atenção a cada palavra que eu dizia me deu confiança.
“Eu tinha saído com ela pra beber e ela acabou indo para o apartamento do Davi, bom, eu estava um pouco alterada pela bebida e te liguei, você veio e foi a nossa primeira noite juntos. – eu sorri. – Nunca contei pra Mandis porque eu tinha dito que pegaria leve nos meus relacionamentos, que queria tudo mais devagar, mas você era gato demais pra eu deixar passar.”
“No final de semana eles foram pra Vila dos Anjos e você não saiu do meu apartamento. Foi o final de semana mais incrível que eu já tinha tido na minha vida e eu te quis pro resto da minha vida ali. Eu te amei ali.“
“A primeira vez que nos separamos por causa da Amanda e do Davi eu tive tanta raiva de você por me fazer escolher entre você e minha melhor amiga, eu achava que você tinha acobertado a traição do Davi e eu fiquei desolada.“
“Ninguém nunca me amou como você tinha, ninguém lutou tanto por mim quanto você e eu te amava tanto que te odiava por me obrigar a ter que viver longe de você depois da confusão daqueles dois.”
“O jeito que você me olhava quando me tocava, sua atenção, seu carinho, o jeito que você me amava e demonstrava isso. Eu sempre te amei demais, Murilo, - as lágrimas não eram mais contidas por mim. – eu nunca tive problemas pra te amar, te amei do começo ao fim. Eu disse que escolheria minha carreira a você, mas passei todos os dias no banheiro vomitando minha infelicidade longe de você. Eu disse que escolheria a Preta a você, mas sem você não me sobra muita coisa.” – chorava muito e ele me olhava com os olhos vermelhos agora.
“Eu poderia sim reaprender a viver sozinha, mas eu não quero viver sem a sua mão sobre mim, sem os seus olhos sobre mim, sem sentir o seu amor por mim todos os dias. Esse apartamento é um sonho nosso, nosso casamento é um sonho nosso, - levantei a aliança que ainda ficava no meu dedo anelar. – e eu não quero deixar mais nenhum sonho nosso morrer. Eu me perdi, me perdoa”. - encerrei sem conseguir dizer mais nada, escondi meu rosto entre minhas mãos.
Ele tirou minhas mãos do meu rosto, tinha se aproximado sem que eu visse ou ouvisse, olhava pra mim com os olhos vermelhos e lágrimas escorrendo também.
- Você é a pessoa mais fácil de amar que eu já conheci. – me disse. – Você não faz jogos, você não se prende, diz o que sente, o que pensa. Eu também não quero viver minha vida sem você, Beca.
- Você me perdoa? – repeti.
- Eu não tenho que te perdoar, você passou pela pior experiência e eu nem estava aqui. Você é quem tem que me perdoar por isso.
Diminui o espaço que tinha entre nós dois, me colei nele e segurei seu rosto com minhas duas mãos.
- Não foi sua culpa e nada teria sido diferente se você estivesse aqui. – me levantei na ponta do pé para beijá-lo e ele me beijou de volta. – Você é minha família. – descolei os lábios apenas para lhe dizer isso e voltei a beijá-lo, levei minhas mãos aos cabelos dele.
Eu sentia tanta falta dele, tanto tempo cega para o amor da minha vida, era como se estivesse há meses sem vê-lo. Colei ainda mais meu corpo nele e desci minha mão pelos seus ombros, senti falta de cada pedacinho, ele desceu a mão pelas minhas costas, com a outra segurou meu cabelo.
- Deixa eu sentir seu amor por mim. Eu estou com tantas saudades da gente naquela cama.
Ele me levantou e cruzei minhas pernas ao redor dele, me levou até o nosso quarto e me deitou, manteve as mãos apoiadas na cama e me olhou.
- Eu estava com saudades de você. – me disse.
Beijou meu pescoço e orelha, levantou a barra do meu vestido até a minha barriga, beijou minha coxa, subiu para o meu quadril, beijou a cicatriz no meu abdômen que eu nunca deixava que ele tocasse, era a cicatriz que doía na minha alma, mas dessa vez eu não me importei. Beijou toda a extensão da minha barriga e subiu para os meus s***s, era tão delicado comigo.
- Tira sua calça. – pedi. Ele tirou tudo, eu o imitei, de novo nós dois inteiros um para o outro, sem nenhuma reserva, mágoa. Todo amor do mundo e esperança para o futuro.
- Quando você estiver pronta, Amor.
- Eu já estou pronta.
Ele se posicionou entre minhas pernas, entrelaçou seus dedos nos meus e beijou minha boca, foi assim que ele entrou em mim, me tocando de todas as formas, todas as conexões. Eu era toda dele e ele era meu.
Meu corpo acompanhava os movimentos dos dele, um corpo reconhecia o outro tão bem, a extensão um do outro. Saía e entrava com paciência, com cuidado e carinho.
Me virei sobre e ele e fiquei por cima, olhei nos olhos dele e mordi seu maxilar e queixo. Agora era eu quem ditava o ritmo, acelerei, me apoiando sempre nele, de mãos dadas.
- Eu sou sua pra sempre, meu Amor.
- Não me deixa achar que te perdi de novo. – descruzou nossas mãos e segurou minha nuca, me puxou colando nossas bocas, mordia com mais força.
Me virou na cama de novo, mas dessa vez me colocou de lado, levantou uma das minhas pernas e colocou sobre seu quadril, o peito dele colado nas minhas costas. – Eu prometi te fazer a mulher mais feliz dessa vida, não deixe que eu falhe, bebê. – sussurrava no meu ouvido enquanto estocava dentro de mim.
Segurava um dos meus s***s e apertava meu mamilo, meu prazer me dominava, crescia dentro de mim.
- Me faz gozar. – pedi, ele sempre sabia o que fazer, sabia o que eu precisava.
Desceu a mão até meu c******s e fez círculos com o dedo sobre ele, primeiro devagar, mas ele já estava inchado e querendo por mais, botei minha mão por sobre a dele e o guiei na velocidade que eu precisava, tirei e deixei que ele fizesse o trabalho, estocava o p*u dentro de mim na mesma velocidade que os dedos massageavam meu c******s. Meu corpo começava a responder com espasmos.
- Goza pra mim. – ele pediu e eu me entreguei ao prazer e a ele. Ele veio logo depois chamando pelo meu nome e dizendo que me amava.
Me virei para encará-lo.
- Também te amo. – a respiração dele acelerada feito a minha, a expressão de cansaço. – Dorme, você está cansado da viagem.
- Não quero dormir e perder isso daqui. – apontava pra nós dois.
- Dorme, eu vou estar aqui quando você acordar, do mesmo jeitinho e te querendo no mesmo tanto.
- Promete?
- Prometo.
Fechou os olhos e dormiu.