A "trégua" de Daniel (38) e Helena (36) havia se transformado em uma aliança letal. O apartamento, ainda o refúgio de Lucas (18) em recuperação, era o quartel-general de uma operação legal que visava não apenas encerrar o caso PHOENIX, mas desmantelar a rede de corrupção que assombrava a vida de Helena por dezoito anos.
Eles agiam com a sincronia de parceiros que se entendem sem palavras. Daniel usava o poder da Promotoria, mesmo estando de licença, para pressionar a investigação, enquanto Helena, usando seu status de advogada da PHOENIX, abria as portas para os documentos internos.
— A PHOENIX concorda em cooperar plenamente. — Helena informou a Daniel, no meio da noite, sobre uma mesa coberta de extratos bancários. — Eles estão dispostos a admitir a fraude fiscal mínima em troca de imunidade para os executivos que denunciarem os pagamentos à TecnoCore.
— Perfeito. A fraude fiscal é o nosso chamariz. — Daniel rabiscou em um bloco de notas. — O que encontramos nos pagamentos da TecnoCore de dezoito anos atrás?
Helena apontou para uma série de transferências marcadas como "consultoria". — Os documentos que encontrei na casa da minha avó coincidem com estas datas. Os pagamentos foram feitos para contas offshore ligadas diretamente aos sócios-fundadores da TecnoCore, que por sua vez são os mesmos indivíduos que ameaçaram a mim. O esquema não mudou. Eles só ficaram mais sofisticados.
Daniel sentiu a adrenalina da caçada. Ele não estava apenas combatendo a corrupção; estava garantindo a segurança de sua família.
— Precisamos de testemunhos. — Daniel disse. — Pessoas que foram forçadas a pagar propina para a TecnoCore. O CEO da PHOENIX pode nos dar a primeira ponta.
A jogada final foi meticulosamente orquestrada. Daniel marcou uma audiência sigilosa com o Juiz responsável, alegando que o caso PHOENIX havia evoluído para uma investigação de crime organizado, usando a fraude fiscal como porta de entrada.
A audiência ocorreu em uma sala de segurança máxima no Fórum. Apenas o Juiz, Daniel, Helena e o novo Promotor do caso estavam presentes.
Daniel apresentou as novas evidências, começando pela história de Lucas.
— Vossa Excelência, eu passei as últimas semanas tentando desmantelar a carreira e a vida da Doutora Helena Monteiro por uma vingança pessoal e ciúmes. O motivo do meu ciúme era Lucas, que, como o teste de DNA provou, é meu filho biológico. A Doutora Monteiro fugiu dezoito anos atrás, não por ciúmes, mas por medo de uma ameaça que agora está ligada ao caso em questão.
Helena assumiu a palavra, sua voz firme e cheia de autoridade. Ela não era apenas advogada; era a testemunha crucial.
— Os pagamentos da PHOENIX, inicialmente parecendo fraude fiscal simples, eram, na verdade, extorsão. A TecnoCore usava métodos de coerção e violência para garantir contratos com a prefeitura, e nós provamos que esses mesmos indivíduos me chantagearam há dezoito anos.
Daniel apresentou os novos registros, ligando a PHOENIX, a TecnoCore e as contas offshore.
— Esta investigação não é mais sobre fraude fiscal, Vossa Excelência. É sobre extorsão, formação de quadrilha e crime organizado, com o uso de ameaça e coerção. Estamos solicitando mandados de busca e apreensão imediatos contra os diretores da TecnoCore e todos os nomes envolvidos nas transações ilícitas.
O Juiz, impressionado com a reviravolta e a cooperação inédita entre a Promotoria e a Defesa, acatou o pedido.
A justiça estava sendo feita.
Com os mandados em mãos, Daniel e Helena deixaram o Fórum. A tensão da caçada estava diminuindo, substituída pela satisfação de uma vitória iminente.
Enquanto estavam no carro de Daniel, o telefone dele tocou. Era Viviane (34). Ela havia perdido tudo, e agora estava desesperada.
— Daniel! Você não pode fazer isso! Você não pode ligar a PHOENIX à TecnoCore! O que você está fazendo?
— Estou fazendo justiça, Viviane. — Daniel respondeu, ligando o viva-voz para que Helena ouvisse. — Você tentou destruir a minha família. Eu estou usando o seu próprio caso para proteger o meu filho e a mãe dele.
— Você está acabando com tudo! — Viviane gritou. — Eu não tinha nada a perder, e agora você também não terá! Eu vou expor o diário, a sua licença, a sua manipulação!
— Tarde demais, Viviane. — Helena interveio, a voz fria. — O diário foi entregue ao Juiz como evidência da chantagem. E quanto à sua carreira, ela já acabou. A nossa escolha foi pela verdade, a sua foi pela destruição.
Viviane desligou, derrotada. Ela era a última ameaça externa.
No final daquela semana, os noticiários não falavam mais sobre o "filho secreto". Falavam sobre o "Escândalo TecnoCore". Daniel e a Promotoria, usando as provas fornecidas por Helena e a cooperação da PHOENIX, desmantelaram a rede de corrupção que havia paralisado a cidade. Mandados de prisão foram emitidos, e o poder que havia silenciado Helena por dezoito anos foi finalmente destruído.
Helena se sentou com Daniel no quarto de Lucas. O jovem estava assistindo a reportagem na TV.
— Vencedores! — Lucas comemorou. — Vocês são os melhores.
— Nós somos um time. — Daniel disse, tocando a mão de Helena.
O caso estava fechado, a justiça feita. O perdão de Daniel para Helena estava implícito em cada ação, em cada toque. Ele não apenas a havia perdoado por roubar seu filho; ele a havia perdoado por roubar sua própria vida.
— E agora? — Helena perguntou a Daniel, enquanto Lucas adormecia. — A TecnoCore está destruída. A PHOENIX está resolvida. O caso acabou. O que nós somos?
Daniel a olhou, a paixão e a promessa em seus olhos.
— Eu descobri que não posso mais ser só o Promotor Albuquerque, Helena. Eu sou um pai, e eu sou o homem que não pode viver sem a mulher que me ensinou o que é a verdadeira luta. Eu não sei se podemos ter o que tínhamos, mas podemos ter algo melhor.
— Minha escolha? — Helena sussurrou.
— Nossa Escolha. — Daniel a beijou, o toque terno, sem a pressa do passado. — Fique. Construa a nossa vida aqui, em uma cidade onde você não precisa mais ter medo.
O plano de Daniel (38) e Helena (36) não era apenas uma estratégia legal; era um ato de redenção pessoal. Eles não estavam apenas buscando a vitória; estavam caçando o fantasma que havia roubado dezoito anos de suas vidas. A aliança forjada na dor e no desejo provou ser inquebrável.
Helena, com a fúria e o foco de uma predadora, garantiu a cooperação total da PHOENIX TECNOLOGIA. A empresa, enfrentando a exposição de fraudes passadas, concordou em virar a mesa e fornecer provas de que a maior parte das "irregularidades fiscais" era, na verdade, pagamentos de extorsão à TecnoCore.
— Eles aceitaram a oferta. — Helena informou Daniel, encontrando-o na sala de reuniões escura do Fórum, longe de olhares curiosos. — O CEO está disposto a testemunhar que a TecnoCore exigia pagamentos altíssimos, camuflados como consultoria, para garantir que os projetos de infraestrutura da PHOENIX não fossem sabotados pela burocracia corrupta da prefeitura.
— Excelente. A fraude fiscal é a isca. A extorsão é o anzol. — Daniel estava com o rosto aceso, o Promotor voltando à vida. Ele não sentia falta da licença; sentia falta da batalha ao lado de Helena. — Com o depoimento dele, eu posso solicitar ao Juiz que abra uma investigação de crime organizado, e não apenas uma simples acusação de colarinho branco. Isso nos dá a profundidade para revirar os arquivos antigos.
Helena entregou a Daniel uma pasta fina. — É a prova que faltava. Os balancetes internos da PHOENIX, datados de dezoito anos atrás. As contas de "consultoria" coincidem perfeitamente com os registros do diário: datas exatas após as ameaças que recebi, ligando os pagamentos aos nomes dos executivos da TecnoCore que me abordaram no estacionamento. Eles usavam o mesmo modus operandi por quase duas décadas.
Daniel leu os nomes, os músculos de sua mandíbula tensionados. Não eram estranhos; eram figuras proeminentes da sociedade. Pessoas que ele cruzava em eventos sociais, pessoas que se sentavam em conselhos de caridade.
— Isso não é apenas corrupção. É coerção. — Daniel disse. — E agora temos provas. Eles usaram a estrutura corporativa para acobertar uma rede de chantagem e ameaça. A tentativa de me calar com a história do "amante" foi o último suspiro de um sistema que achava que podia controlar a lei.
A audiência sigilosa foi a peça central da "Jogada Final". Na sala, apenas o Juiz, Daniel, Helena e o Promotor oficial do caso estavam presentes. O silêncio era tenso, carregado com a magnitude do que estava prestes a ser revelado.
Daniel, com a eloquência que só a convicção absoluta pode dar, iniciou sua apresentação, começando com a história pessoal, que agora servia de contexto para a corrupção.
— Vossa Excelência, o caso que começou como uma simples acusação de fraude fiscal contra a PHOENIX evoluiu para a exposição de uma vasta rede de crime organizado, que remonta a dezoito anos. A Doutora Monteiro foi a primeira vítima dessa rede. Sua fuga da cidade, que me custou a paternidade de meu filho, Lucas, foi forçada por ameaças diretas de morte e destruição da vida por parte dos executivos da TecnoCore.
Helena assumiu a palavra, sua voz era uma lâmina. Ela apresentou os gráficos, ligando os pagamentos de extorsão da PHOENIX à TecnoCore, e, em seguida, ligando os lucros da TecnoCore aos funcionários corruptos da prefeitura que garantiam os contratos.
— A TecnoCore não era uma cliente da PHOENIX; era a predadora. Os pagamentos de "consultoria" eram a taxa de proteção. E o sistema se manteve intacto porque o medo, implantado por meio de ameaças como a que sofri, garantia o silêncio. A PHOENIX, ao cooperar, está nos permitindo desmantelar esse ciclo vicioso.
Daniel concluiu com a solicitação: — Estamos solicitando mandados de busca e apreensão imediatos, e ordens de prisão contra os diretores da TecnoCore, sob a acusação de extorsão, formação de quadrilha e crime organizado. Não estamos buscando punir a fraude fiscal, Vossa Excelência. Estamos buscando justiça para toda a cidade e, em particular, para a Doutora Monteiro e meu filho.
O Juiz, abalado pela revelação e pela seriedade das provas, concedeu os mandados na hora. O Promotor da Comarca, o homem mais temido no tribunal, estava agindo por amor e vingança.
Enquanto as equipes da Promotoria e da Polícia Federal se mobilizavam, Daniel e Helena saíram do Fórum. Eles não estavam sorrindo, mas havia uma satisfação fria em seus olhos. A dívida de dezoito anos estava prestes a ser paga.
No carro, Daniel recebeu uma ligação anônima. Ele atendeu, reconhecendo imediatamente a voz desesperada de Viviane (34).
— Daniel! Os mandados! O que você está fazendo?! Eu ouvi que você está atacando a TecnoCore! O que a PHOENIX tem a ver com isso?!
— A PHOENIX é o motivo da nossa aliança, Viviane. — Daniel ligou o viva-voz, olhando para Helena. — A TecnoCore é o motivo da nossa vingança. Você tentou nos destruir com a mentira. Nós estamos nos reconstruindo com a verdade.
— Você vai afundar sua carreira por causa dela! — Viviane gritou, o desespero se transformando em ameaça. — Eu vou dizer que você está usando o cargo para vingança pessoal! Eu tenho contatos!
Helena pegou o telefone de Daniel. — Viviane, você não tem mais contatos. Você tem processos de difamação e uma carreira destruída. Sua única contribuição a esta história foi nos forçar a expor a verdade. Obrigada por isso. Adeus.
Helena desligou e jogou o telefone de volta no console, o gesto final de uma guerra vencida.
A notícia do desmantelamento da rede TecnoCore dominou as manchetes. Não era mais a história de um Promotor e sua advogada rival, mas a história de um Promotor e a mãe de seu filho que, juntos, expuseram uma das maiores redes de corrupção da cidade. Os nomes que ameaçaram Helena foram presos e o poder que a forçou a fazer a Minha Escolha foi aniquilado.
Naquela noite, Daniel e Helena estavam no quarto de Lucas, observando-o dormir. O jovem estava quase recuperado, o sorriso de volta, e a paz em seus olhos era a maior recompensa.
— Está feito. — Daniel sussurrou, acariciando a mão de Helena. — Você não precisa mais ter medo.
— Eu não tenho mais. — Ela se inclinou no ombro dele. — Eu não fugi para salvar você, Daniel. Eu fugi para salvar o que havia entre nós, na forma do nosso filho.
Daniel a beijou. O beijo agora era calmo, profundo, sem a urgência da incerteza. A paixão estava entrelaçada ao perdão e a uma nova certeza: a de que eram uma família.
— E agora? — Helena perguntou. — O que nós somos?
Daniel a olhou, a verdade em seus olhos. — Eu não sei se podemos ser apenas Promotor e Advogada. Eu não sei se podemos ser apenas pais. Mas eu sei que por dezoito anos, a vida que eu tentei construir sem você era incompleta. Eu escolho você, Helena. Eu escolho você e nosso filho.
— Nossa Escolha. — Helena sorriu, aceitando a promessa de um futuro incerto, mas compartilhado.