Alexandra
Entrei no Insta para ver se eu encontrava alguma coisa do meu filho, e a primeira coisa que eu vi foi a foto da nova mulher do Panda com ele no colo, com a legenda: “mamãe te ama”.
Senti as lágrimas escorrerem pelo meu rosto, lembrando de tudo que tinha acontecido comigo. Minha vontade era comentar nas fotos e esculachar essa mulher, mas se eu fizer isso ele pode mandar fazer alguma coisa aqui dentro. No começo, a minha mãe trazia comida e as minhas coisas, o Panda bancava. Só que depois que ele tirou o meu filho de mim, eu tenho que comer a comida r**m daqui. Às vezes tudo duro, às vezes estragado, às vezes com insetos. Tem semanas que eu fico sem comer três, quatro dias, e por isso eu já perdi muito peso. Eu tento fazer exercícios aqui dentro, mas é difícil. Acho que desde que eu entrei aqui eu já emagreci uns 10 kg.
Eu sempre me orgulhei de ter o meu cabelo vermelho, sempre achei que combinava comigo, mas agora ele já tá preto. Eu perdi muita b***a, muita coxa, minha cintura está finíssima e minha barriga seca. Ainda tenho peito porque antes era grande, agora ficou médio, se não, já tinha perdido tudo também. As minhas olheiras dá pra ver de longe, fundas, e eu estou pálida. Sem falar que eu tenho que dividir a cela com mais sete mulheres. Não tem espaço nem pra três aqui dentro. Mas eu sei que eu tô aqui porque eu fiz besteira com a minha vida, então eu tenho que pagar. Mas será que não é castigo demais ver outra mulher batendo no peito falando que é a mãe do meu filho?
Tentei secar as lágrimas porque o sinal toca toda hora e eu ainda tenho que esconder meu celular muito bem. Da última vez que a carcereira me vendeu um telefone, ela mesma me entregou, levou meu telefone e eu ainda fiquei no castigo. Só que o problema do castigo é que tu não fica sozinha. Eu fiquei com outra presa que cismou comigo, queria me bater. E eu nunca deitei pra ninguém lá fora e não ia deitar aqui dentro. Acabei rasgando a cara dela e aí a minha pena aumentou mais um pouco. A única pessoa que presta é a mãe do Panda. Ela não vem sempre, mas toda vez que vem traz fotos do meu filho e diz que não tá deixando ele esquecer de mim. Mas como ele vai lembrar de uma pessoa que ele não conhece mais?
Dois anos aqui dentro. Dois anos sem ser tocada, sem ser beijada, sem ser abraçada, sem nada. E ele tá lá fora vivendo como se eu nunca tivesse existido. Deixou outra mulher assumir a minha vida e, pior de tudo, deixou outra mulher ser mãe do meu filho. Mas isso vai custar caro pra ele.
Me deitei no meu colchão no chão e abracei os meus joelhos. Acabei dormindo de tanto chorar.
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Acordei com a sirene tocando, era hora de tomar banho. Entrei na fila e, quando chegou a minha vez, eu deixei a água gelada cair no meu corpo. Fiquei pensando na imagem daquela mulher com o meu filho no colo e dei um soco na parede. É claro que doeu, mas eu não tenho motivo pra gritar. Hoje é dia de visita e eu nem sei se vou receber alguém. Eu nunca sei quando a mãe do Panda vem. Voltei para a cela e, quando a sirene tocou de novo, eu fui para o pátio. Foi aí que, de longe, eu vi a mãe do Panda. Ela veio na minha direção e me abraçou.
Patrícia: meu bem, como você está?
Assim que ela me abraçou, eu comecei a chorar automaticamente.
Alexandra: não tem como ficar bem aqui dentro, mas eu estou tentando sobreviver, dona Patrícia.
Patrícia: você está tão magrinha, meu amor. Me desculpa por não ter vindo antes. O desgraçado do meu filho nem sempre me dá dinheiro. Essa semana eu consegui arrancar um pouco dele e trouxe bastante coisa pra você. Você está conseguindo dormir? Hoje eu surtei naquele morro e falei pro Panda que ele vai ter que arrumar um bom advogado pra você. E ele disse que quer falar com você.
Comecei a abrir a comida que ela trouxe. Era carne assada com batata corada. Comecei a me servir porque eu estava com muita fome, e a comida que ela faz é maravilhosa, me dá saudade de casa.
Alexandra: eu não tenho nada pra falar com o seu filho não. Depois do que ele fez comigo, eu não quero ter contato com aquele homem. Ele tirou meu filho de mim e deu meu filho pra outra mulher criar. Ele nunca vai mudar isso.
Patrícia: eu entendo, mas ele vai arrumar uma advogada que vai adiantar o seu processo e você vai sair daqui. Eu prometo que você não vai ficar nem mais um mês aqui dentro, meu amor.
Alexandra: será, dona Patrícia? Será que ele vai cumprir a promessa? Será que a minha liberdade finalmente vai chegar? Eu não aguento mais.
Patrícia: eu sei que tudo tem seu tempo, mas você já deu tempo demais aqui dentro. Sem falar que você teve tempo pra pensar. Eu sempre falei que meu filho não prestava pra uma mulher como você. Agora você vai se cuidar, mas tem que se alimentar direito e dormir direito pra ter forças pra cuidar do seu filho.
Alexandra: eu estou me cuidando, dona Patrícia, pode ficar em paz.
Menti, porque senão ela ia ficar preocupada.
Ela pegou a bolsa e tirou várias fotos do meu filho. Abracei as fotos e comecei a chorar. E mais uma vez eu pensei em me matar aqui dentro e acabar com tudo.
Ela começou a me contar sobre os dentes dele, disse que ele está dando os primeiros passinhos, e eu fiquei pensando no quanto eu estou perdendo. Olhando as fotos, eu vejo o quanto ele é parecido comigo. E por mais que eu esteja longe, parece que eu vivi todo esse tempo abraçada nele. Eu consigo imaginar ele dando os primeiros passinhos, os primeiros dentes, as primeiras palavras, mesmo não estando lá.
A sirene tocou de novo e ela se levantou devagar. Se aproximou de mim e me abraçou mais uma vez.
Patrícia: semana que vem eu vou voltar. Eu vou orar por você. Tenho certeza que esse advogado novo vai te tirar daqui. Eu prometo que vou fazer de tudo por você.
Ela saiu e eu tentei dar um sorriso entre as lágrimas. Voltei para a cela olhando as fotos do meu filho e fiquei me perguntando quando a minha liberdade vai chegar.