Panda
E aí, mulherada, prazer. Meu nome é Pedro, mas vocês podem me chamar de Panda. Eu tenho 26 anos e sou dono da Vila Kennedy. Eu sempre fui um cara muito solitário e pensei que eu não ia casar. Foi aí que eu conheci a Alexandra, a mulher mais bonita que eu já tinha visto na minha vida, tá ligado? Ela chegou na minha favela com o papo de que queria recomeçar a vida dela, de que a mãe dela tinha morrido e de que ela precisava de um lugar pra morar, e eu deixei ela morar aqui no morro e me apaixonei por ela. Dei tudo do bom e do melhor e deixei ela se envolver em alguns dos meus negócios, tá ligado? Na parte administrativa, fazendo a contabilidade, e eu confiava nela de olhos fechados. Mas foi aí que a Beatriz veio na minha direção e falou que a Alexandra tava me entregando pra polícia. Na hora eu bati a neurose e falei que era mentira, que isso não iria acontecer. Falei que a Alexandra era a mulher da minha vida, surtei, tá ligado? Só que ela falou pra mim que, se eu confiava tanto na Alexandra, era pra eu mandar ela pegar minha carga, que ela tinha certeza que a polícia ia bater lá, que ela escutou uma conversa da Alexandra com outro vapor e que a pessoa que estivesse no galpão recebendo a carga ia rodar. E que, se eu não estivesse lá, eles iam usar ela pra tentarem me pegar, e que, se eu não fosse, ela ia cair na cadeia porque a polícia não sabia quem era o X9 aqui dentro. Ela tava usando vapor pra poder me colocar na cadeia. Eu não entendi nada, mas fiquei com a pulga atrás da orelha. Mandei a Alexandra no meu lugar e não deu outra: a polícia invadiu o galpão e prendeu todo mundo que tava lá. Eu até tentei negociar, mandar dinheiro, mas eles não queriam. Eles queriam a minha cabeça, como a Beatriz falou pra mim. Depois daquele dia, ela caiu na cadeia e eu pensei que eu nunca mais ia olhar na cara daquela P.ut.a. Mas aí ela passou a visão que tava grávida, e a minha mãe começou a visitar lá no presídio. Eu mandei dinheiro, sustentei a cadeia dela até o meu filho nascer. E, quando ele nasceu, eu peguei ele pra mim, tá ligado? Ele não tem culpa dos problemas que eu tenho com a mãe dele. Sem falar que eu sou completamente apaixonado pelo meu moleque. Dou tudo do bom e do melhor pra ele. Com o passar do tempo, eu vi que ele precisava de uma mãe, e a Beatriz estava sempre do meu lado, me dando apoio, cuidando do meu filho como se fosse dela. Então eu acabei assumindo ela como fiel. Sou feliz? Não. Porque eu nunca consegui tirar a Alexandra da minha cabeça, mas também nunca fui atrás dela, porque eu tenho bronca dela até hoje. Eu dava tudo pra mina, ela era o amor da minha vida, eu me entreguei pra ela e ela simplesmente me jogou na P.or.r.a. Me traiu. Depois de tudo que aconteceu, o vapor fugiu aqui do morro, tá ligado? Eu não consegui pegar ele. Procurei no Rio de Janeiro todo, mais nada. E hoje eu vivo assim: cuido do meu moleque, sou casado com a Beatriz, não consigo ser fiel a ela, tá ligado? Ela arruma confusão, fala que vai embora, mas sempre fica, mesmo sabendo que eu nunca vou ser capaz de amar ela como eu amei a Alexandra.
Hoje a minha mãe foi visitar lá na cadeia, bateu maior neurose comigo aqui na boca, surtou falando que eu tinha que pagar um advogado melhor pra ela. Mas agora, tu viu? Eu vou ter que pagar advogada pra tirar uma X9 da cadeia? Uma mina que ia me jogar na P.or.r.a, que só não me jogou porque eu fui avisado antes? Porque, se eu não tivesse sido avisado, eu estaria na cadeia até hoje no lugar dela. Mas enfim… ela falou tanto que eu acabei cedendo e contratei um bom advogado.
Esperei a hora passar, porque eu sabia que a minha mãe ia voltar bolada do presídio. Ela sempre volta e sempre faz questão de jogar vários bagulhos na minha cara, sendo que eu não tenho culpa de nada. Ela provou do próprio veneno dela e é isso.
Eu já tava quase desistindo de esperar minha mãe quando ela entrou. Ela me encarou durante alguns segundos e falou:
Patrícia: ela está muito magra. Ela não está se cuidando direito, parece que ela também não está dormindo. Ela precisa sair de lá, Pedro, o mais rápido possível.
Panda: tu fala como se a culpa fosse minha, né? Como se ela não estivesse lá dentro porque ela queria que eu estivesse no lugar dela. Ela ia me entregar pra polícia, mãe. Será que a senhora não consegue enxergar que a Alexandra não é essa santa toda que ela tá passando?
Patrícia: eu acho que isso foi armação, mas você nunca quis escutar. Tu não acha muito estranho a Beatriz ter escutado, ter te falado… e agora ela ser sua mulher? Mas enfim, eu não vou falar nada. Só quero saber do advogado. Aquela menina não merece sofrer tudo que ela tá sofrendo lá dentro.
Respirei fundo, porque na minha cabeça eu cheguei a acreditar que ela não era culpada de nada durante um tempo, porque minha mãe ficou falando isso. Mas eu não achei nada que provasse o contrário, tá ligado? Como o vapor fugiu, não tinha ninguém pra poder defender ou acusar ela.
Panda: já falei com o advogado e ele vai fazer o processo andar.
Patrícia: ela falou que não quer falar contigo. Eu falei que tu queria dar um papo nela, mas ela não quer.
Panda: eu não quero ela perto do meu filho. O meu moleque já tem uma mãe, e a mãe dele agora é a Beatriz.
Ela se virou devagar e jogou um copo na minha direção. Por sorte, eu consegui desviar e ele bateu na parede.
Patrícia: Beatriz é o C.ar.al.ho! Se tu quer um filho com essa mulher, engravida ela! Porque meu neto tem mãe! Agora sai da minha casa, que eu quero descansar!
Panda: mãe —
Patrícia: sai, Pedro!
Eu saí da casa dela boladão. A minha mãe é a única pessoa no morro que acredita que a Alexandra é inocente. Eu não sei o que ela fez com a minha mãe, mas ela deve ser uma ótima atriz.