Voraz
alguma coisa dentro de mim não me deixa eu dar um tiro na cabeça daquela mulher. Eu não sei porquê, mas eu acredito em cada palavra do que ela me falou, até porque eu sempre soube que o Panda não era confiável. Eu só não sabia que ele também era burro… burro o suficiente para roubar uma carga minha, burro o suficiente para atravessar o meu caminho. Mandei os vapores chamarem o Búfalo assim que ela saiu. Eu não sei porquê ele ainda não voltou pra boca, eu acho que ele pensa que tá trabalhando na Disney, não é possível.
Depois de alguns minutos ele me olhou e começou a olhar pela sala toda, procurando alguma coisa. Eu olhei pra cara dele bolado e cruzei os braços.
eu posso saber o que você tá procurando?
Búfalo: o corpo da mina. Tu acha que eu não vim pra cá por quê? Porque eu sabia que tu ia matar ela. Tu é maluco, na moral. Uma mina bonita daquele jeito é desperdício.
Voraz: eu não matei.
Ele me encarou com os olhos arregalados e se sentou na cadeira dele, colocando a mão no peito.
Búfalo: ô glória… vai ter temporal no Rio de Janeiro. Mas se tu não matou a mina, cadê ela?
Voraz: na minha casa. Foi promovida de ladra pra minha p.u.t.a particular.
Búfalo: tu não vai forçar ela a…
Eu nem deixei ele terminar a frase, já encarei ele bolado.
Voraz: tu sabe que não, né. Só que eu tenho um bagulho pra poder te contar, e eu acho que tu não vai gostar nem um pouquinho. Eu acho que o teu senso de humor vai cair por terra agora.
Búfalo: fala.
Voraz: foi o Panda que mandou ela roubar minha carga. Ela falou que é a ex-mulher do Panda e que eles têm um filho juntos, e que, pra recuperar esse filho, ela veio aqui roubar minha carga. Ela disse que tava presa durante um tempo, que teve bebê na prisão, que o bebê foi entregue pra ele e que agora que ela voltou ele não quer entregar o bebê pra ela. Parece história de filme, sim. Só que eu quero que você verifique. Eu quero a ficha dela na minha mesa. Eu quero descobrir tudo sobre a ex-mulher do Panda e eu preciso disso hoje.
Ele pegou o telefone e fez a ligação pro nosso vapor de confiança que tem dentro do morro do Panda. Ele não sabe. O cara foi confirmando toda a história da mina, foi falando que ela realmente tinha um filho com ele e o bagulho da carga ele também confirmou. E quanto mais ele falava, mais eu passava a mão no rosto. Ele falou que o nome dela é Alexandra e, pelo visto, ela é bem novinha, e o filho dela ainda vai fazer um ano. Quando o Búfalo desligou, ele tava bolado e eu também.
Búfalo: esse cara é um covarde, é um desgraçado! A gente tem que meter uma bala no meio da cara dele agora.
Voraz: não.
Búfalo: tu vai deixar ele passar batido depois do que ele fez com a mina? Sério? Eu tô ligado que o cara falou que ele acha que foi ela que entregou ele, mas essa história tá muito m*l contada. Tem que ser muito burro pra não raciocinar, porque eu raciocinei que, pelo visto, não foi a mina. Só que aquele jegue não consegue, né.
Voraz: tu vai preparar uma visitinha. Nós vamos pessoalmente. Ele não vai entender nada, mas a gente vai chegar no próximo pagode de bicho.
Búfalo: o… o quê? O cara roubou nossa carga, vacilou, mandou a ex-mulher dele pra cá pra poder te roubar, a mina virou tua p.u.t.a e tu quer fazer uma visita amigável pra ele? Eu não tô te entendendo legal.
Voraz: eu posso ir lá e posso matar o Panda. Só que, se eles se separaram e teve um caô nesse meio, pra ele achar que ela é x9, é porque tem um rato lá dentro. E por mais que o Panda seja burro, e por mais que eu tenha que meter uma bala no meio da cara dele, eu quero esse rato também. Até porque quem trai um, trai todo mundo, e tu tá ligado como funcionam as coisas com a gente, né.
Búfalo: um rato vivo… mas aí tu não vai recuperar tua carga porque ele vai vender tudo no pagode, no baile.
Voraz: eu sei. E tu pode ter certeza que ele vai me pagar essa carga. Eu quero que você me faça um favor: tu vai ligar pro nosso contato da polícia e vai perguntar quanto ele quer pra fazer um trabalho sujo pra mim. E quando eu digo sujo, é MUITO sujo mesmo. Mas como ele gosta mais de dinheiro do que de outra coisa, ele vai topar.
Búfalo: eu não gosto quando você fica desse jeito, porque eu sei que você vai fazer uma besteira muito grande. Então, tu pode me contar qual é o favor que você quer dele?
Voraz: eu quero o bebê. E também quero outra coisa: eu quero que ele consiga uma mulher ruiva, do cabelo igual ao dela. Eu quero que o Panda ache que eu matei ela. Eu vou colocar a mulher dentro do caminhão e a gente vai estragar a cara dela. O Panda vai achar que ela tá morta e nós vamos pegar o bebê. Quando a gente achar o rato, a gente mata o Panda.
Búfalo: se ele descobrir que foi você que pegou o filho dele, só vai virar uma guerra. Ele vai pular pra outra facção e o bagulho vai ficar doidão, a gente vai começar a brigar.
Voraz: eu quero ver se ele sustenta brigar com o chefe da facção dele que ele roubou. Ele tá todo errado no bagulho, pô. Eu tenho provas que foi ele que pegou a minha carga e, qualquer coisa, eu meto uma bala no meio da cara dele sem problema nenhum. Só que, antes de meter essa bala na cara dele, eu quero ele sofrendo. A gente vai fazer uma visitinha pra ele. A polícia vai entrar no meio desse pagode, nessa confusão. A polícia vai pra casa dele, vai pegar o bebê, vai pegar metade da minha carga e nós ainda vamos forjar a morte da ex-mulher dele. Vai ser só p.i.c.a entrando. Ele não vai nem conseguir sentar.
Búfalo: hahaha eu gosto disso.