7

773 Words
O silêncio entre nós era denso. Depois da conversa no estacionamento, voltei pro alojamento com um nó na garganta que parecia não querer desatar. Saber sobre o passado de Jace era uma coisa. Ouvir dele, ver o peso nos olhos... era outra completamente diferente. Passei os dias seguintes dividida entre o desejo de me aproximar e o instinto de fugir. Mas ele não me pressionou. Nenhuma mensagem. Nenhuma visita. Só o vazio, que gritava mais do que qualquer palavra. Então veio a noite da festa. Cassie praticamente me arrastou. — Você precisa respirar. Dançar. Sair da sua cabeça por cinco minutos — ela disse, colocando um cropped em mim e me empurrando porta afora. O campus inteiro parecia ter parado naquela noite. A casa onde a festa acontecia era grande, com luzes coloridas, música alta demais e o cheiro constante de cerveja e perfume barato. Eu tentava me divertir. Mas era difícil. E foi ali, no meio da sala cheia, que vi ele. Jace. Encostado na parede, camisa cinza, olhar escuro, braços cruzados. Sozinho. Observando. Como se estivesse à parte de tudo — e ao mesmo tempo, no centro do meu universo. Nossos olhos se encontraram. Por um instante, a música sumiu. O mundo desapareceu. Só existia aquele olhar. E nele, algo estava errado. Ele se virou antes que eu pudesse chegar perto. Sumiu pela porta dos fundos. Fui atrás sem pensar. Saí para o quintal, que estava quase vazio. O ar frio da noite me bateu no rosto, e então o vi: Jace, de costas, com os punhos cerrados e o corpo tenso. — Jace? — chamei, me aproximando devagar. Ele virou o rosto. Havia algo quebrado nele. Algo... perigoso. — Você não devia estar aqui. — Então me diz por que você está assim. — É nada. Esquece. — Não — insisti. — Me fala. O que aconteceu? Ele hesitou. Depois, soltou um riso curto e sem humor. — Acabei de ver o cara que quase acabou com a vida do meu irmão. Aqui. Nessa festa. Como se nada tivesse acontecido. O impacto da frase me atingiu no peito. — Eu não sabia que você tinha um irmão. — Tinha. Ele morreu faz três anos. Overdose. Por culpa de um desgraçado que vendia pra menor de idade e sumiu depois. — E você o viu hoje? Jace assentiu, os olhos escurecendo ainda mais. — Ele tá aqui, livre. Rindo. Como se a vida não tivesse tirado nada dele. E eu... tô aqui tentando fingir que eu tô bem, que eu posso ser bom pra alguém como você. Meu coração disparou. Me aproximei mais. — Você não tem que fingir nada comigo, Jace. Ele me olhou. E era como se todas as barreiras estivessem prestes a cair. Os olhos dele estavam cheios — de raiva, de dor, de alguma coisa que eu ainda não sabia nomear. — Eu não consigo respirar quando tô perto dele. Eu sinto tudo voltando, Ellie. E eu não posso... eu não posso quebrar de novo. Dei um passo à frente. E foi ali que aconteceu. Num segundo, ele me puxou pela cintura. No outro, sua boca estava na minha. Não foi um beijo suave. Foi intenso. Desesperado. Como se ele precisasse daquilo pra não explodir por dentro. Seus lábios eram quentes, firmes, cheios de urgência. E mesmo com o caos ao redor, eu beijei de volta. Beijei como se aquele momento fosse a única coisa que restasse no mundo. Suas mãos tremiam nas minhas costas. Meu coração batia descompassado. E quando ele se afastou, apenas o suficiente pra encostar a testa na minha, estávamos ofegantes. — Me desculpa — ele sussurrou. — Eu... não queria que fosse assim. Mas eu não aguentava mais segurar. — Você não precisa pedir desculpa — falei, ainda tentando entender o que acabara de acontecer. — Eu queria também. Ele fechou os olhos, como se minhas palavras fossem um alívio. Mas o rosto dele ainda carregava sombras. — Eu tô tentando, Ellie. Juro. Mas tem dias que tudo volta. Que o passado parece mais forte do que eu. — Então deixa eu ser seu presente. A frase saiu antes que eu pudesse pensar. E quando ele me olhou de novo, havia algo diferente em seu olhar. Um brilho novo. Um fio de esperança. Mas ele não disse nada. Só me puxou de novo, dessa vez num abraço apertado, quase dolorido. Como se quisesse se prender ali, por um minuto, por um instante... por quanto tempo fosse possível. E eu deixei. Porque mesmo com o medo, com o caos, com as dúvidas — eu queria ficar. E isso, talvez, já fosse o suficiente.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD