Capítulo 4

1103 Words
Milena olhou o despertador, apenas cochilara alguns minutos, começaria o estágio com uma cara terrível, os olhos evidenciavam que ela havia chorado uma noite inteira, era realmente uma péssima profissional. Saiu do quarto imersa em autopiedade, desceu as escadas que davam acesso ao piso inferior, pegou uma pedra de gelo no freezer da geladeira e colocou sobre os olhos, precisava de uma aparência de descanso quando chegasse á empresa, o novo estágio não tinha nada de tão refinado quanto o anterior, mas ajudaria e muito no orçamento do mês. Milena caminhou até o banheiro onde viu sua imagem refletida no espelho do gabinete antes de abri-lo para pegar sua escova de dentes. Encarou o reflexo na busca de alguma resposta para sua vida e na falta disso, subiu de volta para o quarto levando consigo o gelo, ficou imersa em pensamentos enquanto sentia as pedras derreterem sobre as pálpebras. — Você estava se transformando numa burguesa s****a, Milena. Você é mais que isso — disse a si mesma em busca de consolo. — Filha, com licença — a mãe abriu a porta e entrou, a jovem abriu os olhos e se preparou para a bronca — Você está tão tristonha, acho que devia ir á igreja, você parece que está em depressão, e isto é obra do demônio. — Mamãe não estou deprimida, e depressão é uma doença, não tem nada de demônio. Regina encarou a filha em um julgamento silencioso e saiu. Milena levantou-se e separou a roupa para o trabalho imaginando o que mãe pensaria se soubesse que passara o mês anterior na cama de um estranho fazendo coisas que fariam uma p********a corar. Aquele pensamento fez seu estômago dar uma volta. Outra coisa que Miguel lhe trouxera uma dor de estômago incurável, e quando o cheiro de café invadiu a casa, Milena teve vontade de morrer. A mãe devia estar preparando café da manhã, dona Regina não aceitava que a filha saísse de casa sem pelo menos tomar o café, a mãe tivera outros três filhos, que a visitavam menos do que ela gostaria, desde então Regina pegou o carinho que tinha pelos quatro filhos e inundava Milena com afetos e cobranças. *** Miguel tomou seu farto café como de costume, mesmo quando os pais não estavam na casa, como era o caso. Exigia que a mesa fosse posta. O carro estava em revisão, então estava usando o carro da mãe, o que o deixava ainda mais mau humorado, detestava outro homem dirigindo pra ele. O motorista estava em frente ao sedan preto Miguel entrou pela porta aberta e o trajeto correu em seu tempo normal. Ao chegar à empresa deu de cara com Cristina, sua ex-esposa. — Miguel que saudade! — disse ela beijando sua bochecha — Você está ainda mais lindo do que na nossa época, se arrependimento matasse, estaria caída em sua frente nesse momento. — Obrigada Cris, e é uma pena que arrependimento não mate — ele sorriu e ela gargalhou como se ele contasse uma piada muito engraçada, o jovem CEO ainda não entendia o que ela fazia ali — Miguel meu pai falou com seu pai e eu vou trabalhar aqui, papai acha que eu tive uma crise, e ele está certo, e concordo que o melhor seria nos aproximarmos naturalmente. — Naturalmente? — o jovem ergueu as sobrancelhas. — Não deveria ter sido assim, você trabalhava muito, e eu estava muito sozinha... Eu ainda te amo. Além do mais, não há ninguém na sua vida, há? — Não, não há ninguém. Ele coçou o queixo e milhares de lembranças de Milena encheram sua cabeça. — Eu posso ir junto com você no seu elevador? Como nos velhos tempos? — Pode, claro — respondeu automaticamente. — Estou tão feliz... Miguel apertou o botão o elevador abriu, o lado bom de ser um objeto exclusivo dele era o fato de que ele nunca esperava como os demais, ele estava sempre no andar certo. Os dois entraram, e o perfume de Cris dominou o ambiente, ela chegou-se junto a ele, a respiração entrecortada, os olhos verdes faíscavam, a boca entreaberta pintada de rosa claro denunciavam dentes perfeitos, o cabelo curto pintado de um vermelho berrante era o auge da sofisticação. Eles haviam sido um casal que abalava as colunas sociais, em outras épocas aquela proximidade terminaria em orgasmos e sussurros. — Te quero Miguel , aqui neste elevador hein? Lembra quando a gente transava na sua sala? Amor eu gozava tanto, sua boca é a melhor lembrança da minha vida, vamos recuperar o tempo perdido, quero você aqui neste quadradinho, vem. A gente nunca fez aqui — ela ergueu a saia, deixando a pele rosada e firme à mostra. Miguel colou-se a ela, sem pensar segurando o corpo esculpido em academias, ela beijou sua boca. — Vem cá, vamos não seja teimoso — e a palavra o despertou daquele transe, a lembrança de Milena desceu como um raio em sua mente. E o corpo dele não queria mais. — Aqui não, vamos em um motel, depois do expediente. Aqui tem câmeras, o circuito foi mudado, sabe como é... Ela olhou em volta, ajeitou a roupa. Não havia circuito de câmeras ali, Miguel nunca permitira. — Mais tarde você não me escapa, delícia — sussurrou Cris em seu ouvido. O vigésimo terceiro chegou, ela desceu e piscou pra ele. Ele apertou o botão do térreo e foi embora da empresa, dirigiu como um louco, chegou em casa e ainda vestido jogou-se na cama. — Que m***a agora fujo de mulher, c*****o. Não que quisesse Cris. Mas a força que Milena exercera nele era imperdoável, foi quase instintivo quando ele pegou o celular e ligou para a loira. — Miguel ? Oi? — Ouvir a voz dela foi como entrar num oásis em meio ao deserto. — Oi Milena, tudo bem? — ela ainda tinha o número dele na agenda, isso era um bom sinal. — Sim, e você? — Também, onde você está, teimosa? — Chegando no trabalho — ela parecia tão perto. — Não quero atrapalhar, bom trabalho — desligou o telefone sem ao menos se despedir. Milena desligou o celular tremendo desde o encontro no Ibirapuera ele não se manifestou, agora ligou e a tratou como tratava na época em que ela lhe era interessante. A jovem chegou no prédio onde faria estágio, e Ingrid a aguardava na porta. — Amiga vai ser bom trabalharmos juntas, porque no fim do curso poderemos montar nosso próprio negócio — Ingrid tagarelava e uma dúvida se instalou na mente de Milena, era possível aquela ligação ser um engano?
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