— Posso ver minha filha? — perguntei, a voz quase um sussurro.
Evan assentiu rapidamente.
— Sim, logo você poderá. — Ele segurou minha mão com firmeza, como se pudesse transferir sua força para mim.
O tempo passou em uma sequência nebulosa de exames e conversas, mas finalmente, após o que pareceu uma eternidade, um enfermeiro entrou.
— Podemos levá-la até você, Daria.
O coração disparou novamente. Eu estava prestes a conhecer minha filha, e, ao mesmo tempo, sentia um medo crescente pelo que poderia acontecer. Evan ficou ao meu lado, sua presença um ancla em meio ao caos emocional.
Quando a enfermeira me trouxe a pequena, enrolada em um pequeno cobertor, não consegui conter as lágrimas. O bebê, com os olhos fechados, parecia tão vulnerável, mas ao mesmo tempo tão perfeita.
— Olá, minha menina... — murmurei, a voz embargada.
Evan olhou para nós duas, um sorriso radiante rompendo seu rosto.
— Ela é a sua cara, Daria.
As lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto eu a segurava pela primeira vez, percebendo que, apesar de tudo, tinha conseguido. A vida estava renascendo diante de mim, e eu estava determinada a protegê-la de qualquer sombra do passado.
A batalha que ainda tinha pela frente parecia menos assustadora agora. A dor e a angústia se transformaram em esperança e amor, e, por um momento, tudo parecia possível.
Enquanto eu estava cuidando de minha pequena em meu colo, percebo a porta do meu quarto no hospital abrir e vejo minha mãe e meu padrasto, mas eu não fico muito feliz em vê-los.
— Oi, como estão? — minha mãe disse, com um sorriso no rosto, se aproximando para ver o bebê. — Ela é tão linda.
Aquele sorriso me irritou instantaneamente. Eu queria que ela estivesse longe, longe de mim e da minha filha. A lembrança de como sua presença contribuíra para o estresse que quase custou a vida da minha bebê ainda ardia dentro de mim.
— O que você está fazendo aqui? — perguntei, tentando manter a calma, mas a raiva transparecia na minha voz.
Ela hesitou, o sorriso vacilando.
— Eu só queria ver minha neta, Daria.
— Você quase causou um desastre no nascimento dela! — gritei, sentindo a emoção subir. Evan se endireitou ao meu lado, sua mão apertando a minha.
A expressão da minha mãe se tornou defensiva.
— Eu não sabia que você ia entrar em trabalho dr parto tão cedo. Eu só… queria estar aqui para você.
— Para mim? — retruquei, minha voz tremendo. — Você estava brigando comigo, causando todo meu estresse. Como posso confiar que você realmente quer ajudar agora?
Ela abriu a boca, mas não encontrou palavras. O desconforto era palpável. Eu sentia que precisava proteger minha filha de qualquer sombra do passado. Meu padrasto apenas permaneceu em silêncio ao lado dela.
— Eu não quero que você segure ela agora — declarei, firmando ainda mais o colo. A pequena estava em meus braços, e eu estava determinada a mantê-la segura.
Evan deu um passo à frente, defendendo-me.
— Daria tem razão. Este é um momento delicado para ela.
Minha mãe olhou para Evan, um olhar de frustração misturado à confusão.
— Eu só quero estar aqui, fazer parte da vida dela…
— Não assim — respondi, a raiva agora era uma chama dentro de mim. — Não quando você nunca respeitou meus limites antes. Se você nunca tivesse me escondido a verdade, isso seria bem diferente agora.
O silêncio que se seguiu era pesado. Eu queria que ela entendesse a gravidade da situação.
— Você precisa me dar espaço, mãe. Não é fácil para mim, e ter você aqui só traz mais pressão.
Ela baixou a cabeça, e eu soube que a ferida estava mais profunda do que eu imaginava. Mas eu não podia me preocupar com isso agora. Minha prioridade era minha filha e sua segurança.
— Por favor, saia. Eu preciso de tempo para me ajustar.
A expressão da minha mãe era uma mistura de dor e compreensão, mas eu não me importava. Eu precisava proteger minha pequena a qualquer custo. Ela hesitou, mas finalmente se afastou, deixando-me com Evan e o silêncio reconfortante da sala.
Olhei para minha filha, respirando fundo, e senti a raiva se dissipar um pouco. Com Evan ao meu lado, eu sabia que poderia enfrentar o que viesse. A batalha não acabara, mas agora havia esperança e amor para guiar meu caminho.
A porta se fechou com um leve estalo, e o silêncio que se seguiu foi quase reconfortante. Eu olhei para Evan, que permaneceu ao meu lado, seu olhar repleto de compreensão.
— Você fez a coisa certa — ele disse, sua voz calma. — Você precisa proteger nossa filha.
Eu acenei com a cabeça, mas a tensão ainda pulsava dentro de mim. O que havia acontecido entre minha mãe e eu era apenas uma parte da batalha que ainda estava por vir. Enquanto segurava minha filha, a fragilidade dela me lembrava do quanto eu tinha a perder.
— Como você está se sentindo? — Evan perguntou, um cuidado genuíno em seu tom.
— Eu… não sei. Estou aliviada e, ao mesmo tempo, irritada. Sinto que a presença dela só traz complicações.
— É compreensível. Você passou por tanto — ele disse, puxando uma cadeira e sentando-se perto de mim. — Não está sozinha nessa.
Olhei para minha filha, seu rostinho suave e tranquilo, e senti uma onda de amor me inundar. Era isso que eu queria proteger, a vida que eu estava trazendo ao mundo, longe das sombras do passado.
— Eu só quero fazer o melhor por ela. — Minha voz saiu embargada. — Não quero que minha mãe interfira. Ela me enganou demais, eu sinto que ainda está me enganando.
— E você tem todo o direito de estabelecer seus limites. O importante agora é vocês duas.
Concordei, respirando fundo. O medo de repetir os mesmos erros que o dela, mas sabia que com Evan ao meu lado, eu não estava sozinha nessa jornada.
Depois de alguns minutos, a enfermeira entrou novamente, com um olhar amigável.
— Como vocês estão? Precisam de algo?
— Estamos bem, só um pouco de paz — respondi, tentando relaxar.
— Claro! Estou aqui se precisarem de qualquer coisa. — Ela sorriu e saiu.
A presença de Evan me trouxe um pouco de alívio. Ele se inclinou para olhar melhor a bebê.
— Ela realmente é a sua cara, amor — disse, admirando-a.
Sorri levemente, reconhecendo a verdade em suas palavras. O vínculo de nossa família parecia muito mais forte, e eu sabia que, independentemente do que acontecesse, estaríamos juntos nessa.
— Obrigada por estar aqui — disse a ele, a gratidão transparecendo. — Não sei o que faria sem você.
— Você não precisa agradecer. Estou aqui para isso, eu sou o seu marido e o pai da nossa pequena princesa.
O momento que se seguiu foi silencioso, mas cheio de significado. Enquanto segurava minha filha, percebi que, apesar dos desafios à frente, a vida estava apenas começando. A raiva e a frustração eram partes do processo, mas o amor que sentia pela minha pequena era o que realmente importava.
Com Evan ao meu lado, senti que podíamos enfrentar qualquer tempestade. E naquele momento, tudo parecia possível.