Estabelecendo limites

1215 Words
— Posso ver minha filha? — perguntei, a voz quase um sussurro. Evan assentiu rapidamente. — Sim, logo você poderá. — Ele segurou minha mão com firmeza, como se pudesse transferir sua força para mim. O tempo passou em uma sequência nebulosa de exames e conversas, mas finalmente, após o que pareceu uma eternidade, um enfermeiro entrou. — Podemos levá-la até você, Daria. O coração disparou novamente. Eu estava prestes a conhecer minha filha, e, ao mesmo tempo, sentia um medo crescente pelo que poderia acontecer. Evan ficou ao meu lado, sua presença um ancla em meio ao caos emocional. Quando a enfermeira me trouxe a pequena, enrolada em um pequeno cobertor, não consegui conter as lágrimas. O bebê, com os olhos fechados, parecia tão vulnerável, mas ao mesmo tempo tão perfeita. — Olá, minha menina... — murmurei, a voz embargada. Evan olhou para nós duas, um sorriso radiante rompendo seu rosto. — Ela é a sua cara, Daria. As lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto eu a segurava pela primeira vez, percebendo que, apesar de tudo, tinha conseguido. A vida estava renascendo diante de mim, e eu estava determinada a protegê-la de qualquer sombra do passado. A batalha que ainda tinha pela frente parecia menos assustadora agora. A dor e a angústia se transformaram em esperança e amor, e, por um momento, tudo parecia possível. Enquanto eu estava cuidando de minha pequena em meu colo, percebo a porta do meu quarto no hospital abrir e vejo minha mãe e meu padrasto, mas eu não fico muito feliz em vê-los. — Oi, como estão? — minha mãe disse, com um sorriso no rosto, se aproximando para ver o bebê. — Ela é tão linda. Aquele sorriso me irritou instantaneamente. Eu queria que ela estivesse longe, longe de mim e da minha filha. A lembrança de como sua presença contribuíra para o estresse que quase custou a vida da minha bebê ainda ardia dentro de mim. — O que você está fazendo aqui? — perguntei, tentando manter a calma, mas a raiva transparecia na minha voz. Ela hesitou, o sorriso vacilando. — Eu só queria ver minha neta, Daria. — Você quase causou um desastre no nascimento dela! — gritei, sentindo a emoção subir. Evan se endireitou ao meu lado, sua mão apertando a minha. A expressão da minha mãe se tornou defensiva. — Eu não sabia que você ia entrar em trabalho dr parto tão cedo. Eu só… queria estar aqui para você. — Para mim? — retruquei, minha voz tremendo. — Você estava brigando comigo, causando todo meu estresse. Como posso confiar que você realmente quer ajudar agora? Ela abriu a boca, mas não encontrou palavras. O desconforto era palpável. Eu sentia que precisava proteger minha filha de qualquer sombra do passado. Meu padrasto apenas permaneceu em silêncio ao lado dela. — Eu não quero que você segure ela agora — declarei, firmando ainda mais o colo. A pequena estava em meus braços, e eu estava determinada a mantê-la segura. Evan deu um passo à frente, defendendo-me. — Daria tem razão. Este é um momento delicado para ela. Minha mãe olhou para Evan, um olhar de frustração misturado à confusão. — Eu só quero estar aqui, fazer parte da vida dela… — Não assim — respondi, a raiva agora era uma chama dentro de mim. — Não quando você nunca respeitou meus limites antes. Se você nunca tivesse me escondido a verdade, isso seria bem diferente agora. O silêncio que se seguiu era pesado. Eu queria que ela entendesse a gravidade da situação. — Você precisa me dar espaço, mãe. Não é fácil para mim, e ter você aqui só traz mais pressão. Ela baixou a cabeça, e eu soube que a ferida estava mais profunda do que eu imaginava. Mas eu não podia me preocupar com isso agora. Minha prioridade era minha filha e sua segurança. — Por favor, saia. Eu preciso de tempo para me ajustar. A expressão da minha mãe era uma mistura de dor e compreensão, mas eu não me importava. Eu precisava proteger minha pequena a qualquer custo. Ela hesitou, mas finalmente se afastou, deixando-me com Evan e o silêncio reconfortante da sala. Olhei para minha filha, respirando fundo, e senti a raiva se dissipar um pouco. Com Evan ao meu lado, eu sabia que poderia enfrentar o que viesse. A batalha não acabara, mas agora havia esperança e amor para guiar meu caminho. A porta se fechou com um leve estalo, e o silêncio que se seguiu foi quase reconfortante. Eu olhei para Evan, que permaneceu ao meu lado, seu olhar repleto de compreensão. — Você fez a coisa certa — ele disse, sua voz calma. — Você precisa proteger nossa filha. Eu acenei com a cabeça, mas a tensão ainda pulsava dentro de mim. O que havia acontecido entre minha mãe e eu era apenas uma parte da batalha que ainda estava por vir. Enquanto segurava minha filha, a fragilidade dela me lembrava do quanto eu tinha a perder. — Como você está se sentindo? — Evan perguntou, um cuidado genuíno em seu tom. — Eu… não sei. Estou aliviada e, ao mesmo tempo, irritada. Sinto que a presença dela só traz complicações. — É compreensível. Você passou por tanto — ele disse, puxando uma cadeira e sentando-se perto de mim. — Não está sozinha nessa. Olhei para minha filha, seu rostinho suave e tranquilo, e senti uma onda de amor me inundar. Era isso que eu queria proteger, a vida que eu estava trazendo ao mundo, longe das sombras do passado. — Eu só quero fazer o melhor por ela. — Minha voz saiu embargada. — Não quero que minha mãe interfira. Ela me enganou demais, eu sinto que ainda está me enganando. — E você tem todo o direito de estabelecer seus limites. O importante agora é vocês duas. Concordei, respirando fundo. O medo de repetir os mesmos erros que o dela, mas sabia que com Evan ao meu lado, eu não estava sozinha nessa jornada. Depois de alguns minutos, a enfermeira entrou novamente, com um olhar amigável. — Como vocês estão? Precisam de algo? — Estamos bem, só um pouco de paz — respondi, tentando relaxar. — Claro! Estou aqui se precisarem de qualquer coisa. — Ela sorriu e saiu. A presença de Evan me trouxe um pouco de alívio. Ele se inclinou para olhar melhor a bebê. — Ela realmente é a sua cara, amor — disse, admirando-a. Sorri levemente, reconhecendo a verdade em suas palavras. O vínculo de nossa família parecia muito mais forte, e eu sabia que, independentemente do que acontecesse, estaríamos juntos nessa. — Obrigada por estar aqui — disse a ele, a gratidão transparecendo. — Não sei o que faria sem você. — Você não precisa agradecer. Estou aqui para isso, eu sou o seu marido e o pai da nossa pequena princesa. O momento que se seguiu foi silencioso, mas cheio de significado. Enquanto segurava minha filha, percebi que, apesar dos desafios à frente, a vida estava apenas começando. A raiva e a frustração eram partes do processo, mas o amor que sentia pela minha pequena era o que realmente importava. Com Evan ao meu lado, senti que podíamos enfrentar qualquer tempestade. E naquele momento, tudo parecia possível.
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