Enviados de Starian, duas naves foram de encontro à Darius, muito antes dele anunciar o comando de autodestruição. Sendo um plano completamente fora do comum, Darius arriscou a própria vida e a vida de toda a tripulação para fazer com que chegassem até a base espacial em total poeira. Assim, sabia que só sairiam de lá por algo enviado por Galak.
A confiança era crucial no processo, uma vez que ele confiava que seu superior faria o melhor. E fez. Uma nave de combate foi supervisionando a nave em que estavam operantes os humanos e os Starianos, programados para atender o bem estar de todas. Afinal, era óbvio que com um ataque nas estrelas, alguém sairia machucado, ou sem vida.
Darius movimentava seu corpo procurando mover os músculos enquanto ouvia sua estrutura óssea estalar, adentrando a sala de comando e enxergando com alívio a imagem de seus irmãos com quem estava habituado a trabalhar. Ele recebeu saudações, parabenização pelo processo e as boas vindas. Ele se sentia vivo, e um bom capitão.
— Capitão Goldarx. — Uma equipe médica e humanóide adentrou o posto, cheio de máquinas e um círculo geográfico para o planejamento dos acontecimento que estavam ao dispôr, onde o médico colocou a mão no peito e lhe dirigiu uma saudação Stariana. — Eu gostaria de expressar minha gratidão pelo que fez com nossas mulheres.
— É o meu dever. — respondeu simplório.
— Também gostaria de anunciar que já foi enviado todas as amostras que tínhamos de coletar. Com o ocorrido, Elaine preferiu não perder tempo.
— Sobre as compatibilidades? — Rexor, um Stariano de pele arroxeada e capitão da raça se mostrou curioso.
— Exatamente. — O médico colocou a maleta que tinha sobre o centro da mesa metálica, abriu o compartimento e mostrou a última amostra que havia colocado. Nesse, subia a imagem e o rosto de Gisele, com uma série de dados e números lógicos e científicos sendo analisados pelo programa humano-stariano. — Capitão Darius, sendo o próximo da fila, a preocupação de Elaine era lhe passar um dossiê no qual pudesse ter acesso para facilitar o programa de adaptação.
— Essa não é a fêmea que estava congelando no espaço? — Um dos capitães perguntou.
— Ela mesma. — O humano médico continuou. — Esses são os dados padrões para o primeiro estágio, e temos boas notícias. Todas as fêmeas passaram na primeira fase de testes.
— Starian está salva — concluiu um capitão —, e a missão foi um sucesso!
Darius sorriu sorrateiramente de canto enquanto recebia mais uma salva de parabenizações e se aproximava de um visor que mostrava a sala segura das humanas. Estavam prestes a pousar, então elas estavam acentuadas e vestindo seus trajes espaciais, enquanto ele olhava o nervosismo de Gisele segurando no cinto de contenção cruzado em seu peito.
E por um breve instante, Darius torceu para que ela fosse compatível. Talvez pelo cheiro, ou por sentir as batidas que pulsava sua vida quando ela tocou no vidro ao observá-lo. Era isso, a humana tinha um bom cheiro e um bom toque. Não seria difícil copular com aquela fêmea…
— Qual delas acha que será compatível? — perguntou um capitão, observador e tão curioso quanto Darius.
— Não faço ideia. — respondeu em neutralidade, espantando seus pensamentos e toda a expectativa possível.
Ele só precisa aceitar o experimento, e terá oitenta por cento dos problemas evitados. Foi o conselho de Volkon e é o que vai fazer, não importa quem seja sua humana. E assim ele moveu os músculos mais uma vez, se viu sorrateiramente cansado ao respirar e começou a gerir ordens para que pudessem chegar com cautela e sem imprevistos, assim se aproximando do visor de alcance ao redor.
Mas o processo de pouso para Darius, foi diferente para Gisele. Enquanto ela estava sentada na cadeira metálica e com cintos de proteção super apertado, seu coração, mais uma vez parecia que ia sofrer um faniquito a qualquer momento. Ele pifaria, sim. Ele batia tantas vezes tão rápido que era difícil respirar, e logo se cansaria de bater tanto que se desligaria sozinho.
Pois bem, Gisele era medrosa. Medrosa como uma vara verde, gritona e estava o tempo todo assustada. E dessa vez, ela estava tão assustada com a chegada, nervosa e ansiosa que sua boca secou, sua garganta secou, suas mãos suaram, seu corpo estremeceu e quando os primeiros tremores de chegada na nave balançou levemente o seu corpo, ela fez a única coisa que conseguia fazer naturalmente; gritar.
E quando Gisele abriu os berros, suas companheiras foram levadas pelo efeito manada e sentiram o mesmo pavor de Gisele, juntando-se à ela no mesmo ritmo de gritos. A questão é que, quando a nave pousou, os gritos foram cessados, os Starianos e os humanos presentes foram prestar socorro e encontraram uma Gisele desmaiada na cadeira de aço, com a cabeça baixa e presa pelo cinto de segurança.
— Coitadinha, está traumatizada…! — cochichou uma mulher.
— Ela deve ter achado que era outra explosão! — comentou uma outra.
Gisele, por medo e susto, fez sua chegada triunfal em Starian completamente desmaiada.
(...)
— Muito bom dia, amiga da terra! — Gisele abriu os olhos, se concentrou nos barulhos e na visão do seu teto claro e olhou para o lado, notando a presença de uma humana. Ela era baixa, estava sentada e era notável seu tamanho pequeno. A mulher tinha óculos fundos de garrafa, o cabelo curto e um sorriso grande. E bom humor. — Saudações da amiga de Starian, para a amiga da Terra. — A mulher sorriu, enquanto Gisele tentava se levantar, mas foi impedida por uma negativa e as mãos da moça a impedindo. — Não, não… Não levante agora. Observe o lugar primeiro, respire, crie confiança e me escute. Depois você levanta. Deixe o ambiente entrar em você, nada de se levantar no momento.
— Você é médica?
— Eu prefiro cientista. — Ela sorriu gentilmente enquanto via as feições de Gisele suavizar. — Agora pode se levantar.
Gisele se mexeu devagar, sentiu-se nauseada, mas se sentou na maca e olhou a sala muito semelhante a uma sala hospitalar e médica. Os aparelhos, no entanto, pareciam sofisticados, com imagens amplas no ar e até teclado planando sobre a mesa à frente da cientista. Quando ela olhou para o lado, viu um soro dourado sendo esverdeado sendo injetado em seu braço, e aquilo era o mais próximo de humanamente comum, se não fosse pela cor.
— Ah, não se preocupe. Este é um soro adaptador. — Elaine notou a dúvida em Gisele, antes mesmo dela pronunciar algumas palavras. — Você tem que tomar ele por uma semana, isso ajuda na adaptação do seu corpo. E este lugar é o mais parecido com um hospital humano, mas é apenas para a primeira impressão ser mais confortável. Você está num forte Stariano, altamente protegido. — Então Elaine percebeu que dera ênfase no “protegido”, e tentou se corrigir. — Não que aqui seja perigoso, nem que alguém vá tentar matá-la. É que às vezes algumas coisas acontecem, mas fica tudo bem depois.
Gisele piscou, engoliu devagar e ficou pensando se conseguia desmaiar de novo. Já Elaine respirou fundo, e tentou uma outra abordagem.
— Bom eu… Eu me chamo Elaine. Gisele , não é?
— Elaine? — Aquilo soltou fagulhas na cabeça de Gisele. — A humana favorita de Starian?
— Favorita? Eu? — Elaine riu exageradamente e abandonou as mãos em um deboche não muito apropriado para o momento. — Que isso! Só um pouco. — Ela percebeu que Gisele a olhou com certa curiosidade, parou de rir e pigarreou arrumando sua postura e o jaleco. — Bom eu, estou aqui para me certificar de que está tudo bem. Eu fui relatada dos acontecimentos, e sua chegada nos preocupou. — Ela percebeu Gisele desviar o olhar, então puxou a mesa para perto dela, tocou na imagem digital a sua frente e arrastou com o movimento das mãos, para o lado. Quando ela expandiu a imagem, a frente de Gisele estava um amplo sistema neurocerebral em funcionalidades, mandando sinais para todo lado. E Elaine travou a imagem em um certo foco, dando uma cor avermelhada para uma parte do sistema cerebral a sua frente. — Digamos que eu consiga estudar as coisas de um modo mais complexo. — ela explicou apontando para a imagem, fazendo Gisele prestar atenção. — E essa é a resposta que eu tenho para o que está acontecendo. Este é o seu cerebro. — Ela abriu outras partes do mesmo modelo de amostra digital e fez vários quadros na frente da jovem. — Este é o seu cérebro em vários momentos durante a viagem.
— Como conseguiram captar isso?
— Tecnologia Stariana no capacete espacial que as trouxe da estação até aqui. — Ela sorriu orgulhosa para responder, mas voltou a apontar as imagens. — E em todas as suas reações é uma semelhança significativa nos comandos. Apesar de todos os seus sintomas serem muito semelhantes a uma exposição nervosa à sua ansiedade, eu diria apenas que você está com medo.
Gisele engoliu em seco, desviou o olhar das imagens e Elaine as guardou de volta ao comando do computador digital. Ela percebeu Gisele corar e se compadeceu com a situação.
— Todas nós estamos com medo, mas o seu medo, está te matando. — Gisele respirou fundo e então conseguiu olhá-la. — Quer me contar o que houve? Sua ficha diz apenas que foi voluntária. E que seu futuro era promissor.
— Eu… — Gisele pensou bem e resolveu se despejar. — Eu só estava bebendo com meus amigos e fiz um desafio ao me candidatar. — Gisele a olhou com atenção, evitando julgamentos naquele momento. — Não que eles sejam, mas a todo momento e a todo lugar tem gente falando das aberrações. Tem histórias horríveis de como o nosso mundo vai acabar nas mãos deles! E os idiotas do espaço fazem anúncios prometendo viagens para Starian, como se fosse um cruzeiro de luxo. Ninguém me avisou que iam me colocar no meio de um planeta monstrificado e me obrigar a t*****r com um mando de aberrações para gerar bebês mutantes! Isso é nojento!
Elaine piscou, sem entender.
— Porque não desistiu na terra? — Ela piscou, atenta ao que estava ouvindo.
— Porque ninguém mais volta. — Gisele contou, um tanto nervosa e com os olhos cheios de água. — Porque o pentágono não bateu na porta da minha casa para me dar uma passagem. Eu desapareci indo pra minha casa e acordei num laboratório de treinamento. Quem desistiu, nunca mais deu notícias. A última esperança era ir para essa porcaria de planeta e morrer com essa ideia nojenta de reproduzir aberrações bebês. — Gisele sentiu um leve arrepio em sua nuca e olhou para trás, se assustando quando percebeu um gigante amarelo atrás de si. O que a fez voltar o olhar para frente, enquanto Elaine não tinha reação alguma, apenas parecia impactada com o que ouviu. — A quanto tempo ele está aqui?
Elaine piscou devagar, engoliu em seco e tentou computador as informações para responder a pergunta.
— Eu pedi a Darius para se camuflar. — Ela respondeu devagar. — Ele é um Goldarx, e consegue ficar invisível. Como os nossos camaleões, mas de um jeito melhor. Eu achei que se você o visse assim que acordasse, poderia desmaiar de novo. — Ela olhou para trás, depois para Elaine e a viu se levantar. — Eu vou deixá-los a sós. Suas informações foram extremamente importantes, Gisele. Obrigada por compartilhar.
Gisele queria pedir para Elaine ficar. Não, ela não tinha medo de Darius, mas ele estava lá o tempo todo, então provavelmente ele a ouviu chamar a sua raça de “aberrações” o tempo todo. Não que ela quisesse ofender, mas ela basicamente o ofendeu. E agora ela via Elaine fechando a porta, a deixando completamente sozinha com o Stariano.