Capítulo 01: A Chegada de Mariana
No topo do morro, onde os becos sinuosos se entrelaçaram como veias pulsantes, um sol escaldante lançava sua luz sobre o emaranhado de barracos e vielas de terra batida. Era ali, no coração da favela, que Mariana desembarcava, carregando consigo uma pequena mala e um coração cheio de expectativas e incertezas.
Seus passos eram hesitantes enquanto ela avançava pela rua principal, observando atentamente os rostos desconhecidos que a rodeavam. Os olhares curiosos dos moradores locais pareciam penetrar sua alma, fazendo-a sentir-se sentir vulnerável em meio àquela comunidade tão distinta daquilo que ela conhecia.
Mariana ergueu o queixo, tentando mostrar determinação apesar da insegurança que a dominava. Ela sabia que essa mudança representava mais do que uma simples troca de endereço; era uma nova fase de sua vida, repleta de desafios e oportunidades desconhecidas.
Ao chegar à pequena casa de tijolos aparentes que agora seria seu lar, Mariana foi recebida pela senhoria, Dona Clara, uma mulher de meia-idade com um sorriso acolhedor e olhos cansados que pareciam esconder inúmeras histórias. A casa era simples, mas limpa e aconchegante, com um pequeno quintal nos fundos onde algumas plantas lutavam para sobreviver sob o calor implacável do sol.
Dona Clara conduziu Mariana até o quarto que ela ocuparia, um espaço modesto com uma cama de solteiro e um armário antigo. Enquanto desfazia suas poucas roupas, Mariana deixou seu olhar vagar pela janela entreaberta, observando o vai e vem constante dos moradores da favela.
Uma sensação de desamparo a invadiu, misturada com uma ponta de excitação pelo desconhecido que a aguardava lá fora. Ela sabia que teria que se adaptar rapidamente àquela realidade tão diferente da sua vida anterior na cidade grande.
À medida que a tarde avançava, Mariana decidiu explorar os arredores, deixando a timidez de lado em busca de familiaridade naquele lugar estranho. Ela percorreu as vielas estreitas, cumprimentando os vizinhos com sorrisos tímidos e trocando algumas palavras corteses.
Foi durante esse passeio que ela conheceu alguns jovens da sua idade, que se reuniam em uma praça improvisada no centro da favela. Entre risadas e brincadeiras, Mariana começou a se sentir mais à vontade, percebendo que, apesar das diferenças, havia uma essência comum que os unia.
Ao cair da noite, Mariana retornou à sua nova casa, sentindo-se exausta, mas ao mesmo tempo revigorada pela experiência do dia. Ela se deitou na cama simples, olhando para o teto enquanto pensava nas possibilidades que se estendiam diante dela.
Apesar dos desafios que sabia que enfrentaria, Mariana estava determinada a fazer daquele lugar seu lar. Com o coração repleto de esperança e coragem, ela adormeceu, pronta para enfrentar o que amanhã quer que o trouxesse.
***
Era outro dia, enquanto o céu se tingia de tons escuros e a noite avançava sobre o morro, Mariana se preparava para jantar na pequena cozinha da casa de Dona Clara. O aroma reconfortante de feijão fresco e arroz recém-preparado pairava no ar, misturando-se com o cheiro suave de temperos e especiarias.
Enquanto servia seu prato, Dona Clara comentou casualmente sobre o baile que aconteceria naquela noite, um evento aguardado com entusiasmo por muitos jovens da favela. Ela olhou para Mariana com um brilho travesso nos olhos e perguntou com um sorriso malicioso:
― Você vai ao baile hoje à noite, Mariana?
Mariana sentiu-se um pouco sem jeito com a pergunta, mexendo timidamente no arroz em seu prato antes de responder:
― Na verdade, Dona Clara, eu tinha planejado estudar esta noite. Não vim para o Rio para me divertir, mas sim para focar nos meus estudos.
Dona Clara suspirou, balançando a cabeça com um sorriso afetuoso.
― Ah, minha querida, eu entendo sua dedicação aos estudos, mas você também é jovem. Não custa nada se permitir um pouco de diversão de vez em quando. Garotas da sua idade estarão lá, se divertindo e dançando. Você merece isso também.
Mariana hesitou por um momento, ponderando sobre as palavras de Dona Clara. Ela sabia que a senhoria tinha razão em parte; afinal, ela não poderia passar toda a sua juventude trancada em um quarto, mergulhada nos livros.
― Você tem razão, Dona Clara. ― ela finalmente admitiu, cedendo à pressão gentil da mulher mais velha. ― Acho que um pouco de diversão não fará m*l. Vou ao baile.
Com um aceno de cabeça satisfeito, Dona Clara ofereceu um sorriso encorajador antes de voltar sua atenção para o próprio prato. Mariana deixou a mesa e se retirou para o seu quarto, sentindo uma mistura de empolgação e nervosismo crescendo dentro dela.
No interior do quarto simples, ela abriu seu armário e começou a vasculhar suas roupas, procurando pelo conjunto perfeito para a ocasião. Após alguns minutos de deliberação, ela escolheu um vestido simples, mas elegante, que realçava sua beleza natural sem chamar muita atenção.
Com habilidade e cuidado, Mariana se arrumou, deixando seus cabelos soltos em ondas suaves que caíam sobre seus ombros. Ela aplicou uma leve maquiagem, realçando seus olhos castanhos com um toque sutil de delineador e sombra.
Quando finalmente se olhou no espelho, Mariana sentiu um calafrio de excitação percorrer sua espinha. Ela estava pronta para enfrentar a noite, pronta para mergulhar de cabeça na atmosfera vibrante do baile que a esperava lá fora.
Com um último suspiro nervoso, Mariana deixou seu quarto e se dirigiu para a porta, pronta para embarcar em uma nova aventura.