Mia, com o coração pesado e a garganta apertada, não suportava mais a humilhação escancarada que Bryan e Lívia haviam proporcionado. Sem dizer uma palavra, afastou-se do grupo, sentindo cada passo na areia fria pesar como chumbo, e caminhou em direção a um canto mais isolado da praia. As amigas, percebendo seu estado, não hesitaram e a seguiram, a indignação estampada em seus rostos.
— Ele tá cada vez mais i****a, e a nojenta da Lívia tá adorando, aquela cobra venenosa. — comentou Sara Montserrat, cruzando os braços, enquanto lançava um olhar de desprezo em direção a Bryan.
— Que tipo de irmã aceita ser paquerada de forma descarada? — acrescentou Selena Starlight, balançando a cabeça em desaprovação, os dentes cerrados de raiva pela situação.
Mia sentiu as lágrimas ameaçarem cair, mas se conteve, mordendo o lábio até o gosto metálico do sangue se misturar à amargura da frustração. A sensação de impotência era sufocante, uma mistura de raiva, tristeza e desespero que só aumentava ao ouvir os comentários das amigas sobre Bryan.
— Toma, amiga, peguei pra você. Esquece aquele i****a, ele não te merece. — Yasmin Donavan disse, entregando a Mia uma bebida. O toque firme das mãos trouxe um conforto momentâneo, mas a bebida parecia apenas um alívio temporário diante do turbilhão de sentimentos que não diminuía.
— Não vamos deixar que essa noite seja sobre as minhas humilhações diárias. — murmurou Mia, a voz quase firme, tentando se apoiar na força das amigas que a cercavam.
— Vamos aproveitar, meninas. — acrescentou Alícia Salazar, tentando mudar o clima, mas Mia m*l conseguia esboçar um sorriso verdadeiro. Ela se apoiou no ombro de uma amiga, sentindo o calor e a presença que contrastavam com o frio que Bryan sempre deixava em seu peito. Por um instante, tentou devolver uma expressão leve, apenas para não desmoronar completamente diante de todos.
A luz suave da lua refletia na areia úmida, e o som constante das ondas quebrando na praia parecia acalmar o corpo, mas não a mente. O turbilhão de emoções conflitantes girava em sua cabeça: raiva, tristeza, frustração, desejo de distância, e, ao mesmo tempo, a lembrança dolorosa de tudo que Bryan já significara. Cada riso alto dele, cada olhar que lançava a Lívia, reverberava como uma lâmina na sua memória. Mia respirou fundo, sentindo o perfume salgado do mar misturado ao aroma doce das flores da costa, e tentou se ancorar na amizade que a cercava, ainda que o coração permanecesse em pedaços.
Algum tempo depois, as amigas já estavam distraídas e Mia resolveu se afastar — precisava de um tempo só. Ela se sentou na areia fria, sentindo as lágrimas queimarem seus olhos. Por que era sempre assim? Por que ela nunca parecia ser suficiente para Bryan? Ela se sentia solitária, não importava o quanto se esforçasse para ser a garota que ele queria. Ela amava-o, e ele… ele a usava. Um sentimento amargo se espalhou por ela enquanto a dor da rejeição a invadia.
Foi quando Axel apareceu. Ele se aproximou silenciosamente, o som dos seus passos na areia foi o suficiente para Mia levantar a cabeça. Axel, o do meio dos trigêmeos, sempre foi diferente de Bryan. Ele a tratava com respeito, com uma gentileza que Bryan jamais demonstrava. Ele não precisava de palavras; sua presença falava por si só.
Ela o encarou, os olhos ainda turvos, vendo nele não apenas o rapaz à sua frente, mas toda a dor contida em cada gesto. Não havia suavidade, nem pena fingida — só verdade crua, dura como pedra. Com um movimento preciso, ele se sentou ao lado dela.
— Que destino injusto, não é? — Axel começou, a voz firme, carregada de raiva contida. — Como a lua, que controla as marés, guia nossos passos, e dita nossos destinos, podia ser tão cega? Como podia criar um laço tão forte… só para te colocar com alguém que não te ama de verdade?
As palavras ficaram pairando no ar, pesadas, e Mia sentiu como se cada uma fosse uma onda batendo contra ela.
— Ele já amou… um dia… — disse ela, a voz baixa, rouca, mas direta. Carregada de dor, mas também de certeza.
— Ou você achou que amou de verdade, Mia — ele continuou, firme, olhando direto nos olhos dela —, mas ele só estava fazendo o que precisava. O papel de herdeiro, de Alfa perfeito, da alcateia perfeita. Antes do despertar, antes do peso real do destino… tudo era fácil de fingir. Um jogo. Um jogo onde ninguém precisa sentir nada de verdade.
Ele fez uma pausa, deixando o silêncio se instalar entre eles, pesado como a brisa fria da noite.
— Mia… talvez o que você achou que era amor nos olhos dele não passava de uma versão que você inventou na sua cabeça. Quando a verdade bateu, a máscara caiu. Não foi amor que morreu… foi descobrir que ele nunca existiu de verdade. A única coisa que você pode consertar é você mesma.
Mika rugiu baixo dentro de Mia, uma mistura de medo e indignação que se transformava em palavras angustiadas na mente da garota:
“Não… nosso Alfa nos amou… isso não foi farsa. Nós sabemos disso!”
O silêncio entre eles era pesado, quase sufocante. Mia ainda tinha o rosto molhado pelas lágrimas, e Axel, hesitando por um instante, estendeu a mão. Seus dedos tocaram suavemente a bochecha dela, limpando as lágrimas com uma delicadeza que fez o coração dela acelerar.
— Eu te trataria muito melhor do que ele. Ele não merece suas lágrimas. — murmurou ele, baixo, quase para si mesmo, mas o tom alcançou Mia como um sussurro íntimo, próximo demais.
Mia quase riu, um sorriso de dor e tristeza escapou enquanto murmurava:
— Nós seríamos tão melhores juntos…
A dor na voz de Mia era um campo magnético, puxando Axel para mais perto. Cada palavra dela era uma confissão agonizante, e ele se moveu quase sem perceber, fechando a distância fria que a areia representava. Sua mão encontrou o rosto dela, a palma grande e quente contra a pele macia e úmida de lágrimas. O toque não era de pena, mas de reconhecimento, de revolta silenciosa contra a dor que ela se infligia.
Os olhos deles se encontraram, o dele azuis elétricos, os dela cinza-prateados, próximos tão próximos que a respiração se misturava. Cada batida do coração parecia ressoar entre eles, pulsando no mesmo ritmo.
— Mia… — O nome dele saiu como um suspiro rouco, carregado de uma emoção que ia muito além da amizade.
Ela estremeceu sob o toque, mas não se afastou. O calor do corpo dele, a firmeza da mão, o aroma misto de mar e madeira queimando da fogueira, tudo criava uma corrente invisível que os puxava um para o outro. A distância diminuiu ainda mais, a iminência do beijo queimando entre os lábios.
Os olhos de Mia se abriram bruscamente. Ela viu a paixão nublando os olhos azuis elétricos de Axel, viu a própria fraqueza refletida neles. E, por trás de seu ombro, viu a lua — fria, impiedosa, testemunha de seu quase-deslize.
Um soluço escapou de sua garganta, um misto de horror e arrependimento. Ela se afastou bruscamente, quebrando o feitiço, seu corpo tremendo como uma folha.
— Não… — a palavra foi um gemido de agonia. — Não podemos. Eu não posso.
Ela se levantou, pernas bambas, recuando alguns passos como se queimasse por dentro. A culpa, sua companheira constante, inundou-a com força avassaladora. Não havia apenas carregado a culpa — quase se perdeu no calor, na proximidade e na beleza que Axel representava.
Axel ficou parado, a mão ainda no ar onde o rosto dela estivera, a respiração ofegante. A rejeição doía, mas a resignação em seus olhos mostrou que ele sempre soube que seria assim. Ele havia se oferecido como um porto seguro, e ela, mesmo naufragada, não podia abandonar o navio a que estava acorrentada.
Na penumbra, sua beleza era quase sobrenatural. A luz da lua prateava os contornos perfeitos de seu rosto, os fios negros desalinhados, o maxilar forte tensionado pela emoção. Mas eram os olhos, elétricos azuis intensos, que a prendiam, refletindo a agonia dela e o fogo contido de sua própria paixão e frustração. O calor de seu corpo, o hálito quente, o cheiro inconfundível — tudo isso se entrelaçava, quase fazendo-a ceder.
Ela se afastou, soluçando, corpo tremendo, e Axel ficou ali, monumento de resignação e desejo contido, a beleza crua e honesta que queimava na retina de Mia. O quase-beijo, o toque, o calor compartilhado — tudo perdido, guardado apenas na memória de uma noite que prometia muito e entregou apenas dor.
Mia engoliu em seco, sentindo o toque dele ainda queimando em sua pele, os lábios e a respiração quentes na memória. O coração apertado, a areia fria sob as mãos… e Axel ali, parado, observando a devastação que ele mesmo acabara de revelar.
Ela sabia que precisava se recompor. Axel estava certo. Como a lua poderia fazer isso com ela? Como poderia estar ligada a alguém que nunca a via como ele via?
— Eu sinto muito, Axel… eu queria que as coisas fossem diferentes — murmurou, a voz baixa, quase se perdendo no som do mar.
Ele colocou o braço ao redor dela por um instante, gesto silencioso de conforto, mas Mia se afastou, respirando fundo, tentando sufocar o calor do beijo que ainda ardia em sua pele. Cada segundo ali era uma tentação, e ela não podia ceder.
Com um último olhar para Axel, o desejo contido nos olhos dele e o calor de sua presença quase a quebrando, Mia se endireitou. Forçou os ombros para trás, levantou o queixo e caminhou em direção às amigas. O rosto leve, o sorriso falso, a postura de quem nada sentiu… mas por dentro, tudo estava em chamas. O coração doía, a memória ardia, mas ninguém podia perceber. Ela precisava proteger a si mesma… pelo menos por enquanto.