Capítulo 36 - O lado Sombrio do Alfa

2097 Words
Antes que o último estilhaço de vidro encontrasse o chão, um rugido gutural ecoou do outro lado da sala. Axel, o mais velho dos trigêmeos, estava de pé. Seu rosto era uma máscara de fúria e dor pela queda do irmão, mas seus olhos, diferente de todos os outros, não continham medo. Continham um desafio. Bryan o encarou, um sorriso torcido e selvagem estampando seu rosto. — Vem pra cima, seu o****o! — ele rugiu, o convite não era para uma luta, mas para um abate. A aura n***a e opressiva que emanava de Bryan pareceu bater contra Axel como uma onda, mas ele não recuou. Foi essa resistência, esse último ato de desafio, que arrancou os últimos vestígios de humanidade de Bryan. O que se seguiu não foi uma luta. Foi uma demolição. Bryan fechou a distância entre eles num movimento tão rápido que foi pouco mais que um borrão. Axel, um guerreiro formidável por direito próprio, m*l conseguiu levantar os braços para se defender. Eles se chocaram com o impacto de dois caminhões, e o som de ossos rangendo sob a força do impacto foi audível. A investida de Bryan não parou. Ele usou o próprio corpo como um aríete, carregando Axel para trás. Eles atravessaram a parede de gesso como se fosse papel, explodindo em uma nuvem de poeira branca e destroços. A mansão inteira estremeceu com a violência da colisão, e uma chuva fina de gesso caiu do teto. Gritos de pavor genuíno surgiram da sala, misturados aos uivos de alerta dos lobos dentro de cada um. Do outro lado do buraco, na sala de estar adjacente, a fúria de Bryan não tinha diminuído. Ele estava por cima de Axel, que tentava se levantar do chão coberto de entulho. Com um rosnado que não era mais humano, Bryan crava os braços ao redor do abdômen de Axel, afundando-os na carne com uma força que fez o guerreiro gritar de agonia. Erguendo-o do chão como se ele não pesasse nada, Bryan segurou o corpo contorcido de Axel no alto por um breve instante, um troféu de sua própria loucura. — Fraco! — ele rugiu para Axel, o desprezo escorrendo de cada palavra. E então, com toda a sua força massiva, ele arremessou Axel contra o chão. O baque foi horrível, um som úmido e final. O corpo de Axel atingiu o piso de madeira com uma força tão brutal que as tábuas racharam e cederam, formando uma cratera sob seus ombros. A cabeça dele bateu com um ruído seco e ocorreu um silêncio súbito, sua consciência apagada como uma vela ao vento. A poeira assentou-se lentamente sobre ele, um véu funerário improvisado. Bryan, ofegante, ergueu-se sobre a obra de sua destruição, seus olhos já vasculhando a sala em busca do próximo alvo. Bryan avançou, agarrou Gael pela gola da camisa e tentou arremessá-lo contra a parede, como fizera com os outros. Gael resistiu – e, num golpe surpreendente, acertou o rosto de Bryan. Mas Bryan não recuou. Seus olhos brilharam com fúria contida, e o próximo soco veio com força triplicada, direto no torso de Gael. O impacto foi tão brutal que Gael foi lançado contra a parede, que rachou sob o corpo dele. Gael caiu entre escombros, ofegante e derrotado. Bryan olhou para ele, sequer respirando fundo.. E então ele se virou para Noah Guerra e Felipe Guerra, que eram dois Deltas de Bryan. Felipe, o mais ousado deles, levantou os braços em rendição e falou: — Já que você vai me matar, gostaria de dizer que eu não me arrependo de desejar Mia, ela é gostosa e vale a pena morrer por isso e também vou dizer que foi uma satisfação enorme imaginar ela e até bater umas pra ela. Bryan rugiu fazendo com que as paredes da mansão tremesse com o som gutural que ecoou por toda propriedade e então ele deu um soco tão forte nele que Felipe também voou pela sala com uma facilidade que era até difícil de acompanhar. Noah, o mais esperto dos guerreiros de Bryan, já tinha corrido na direção oposta a ele. O pai de Bryan, Nathanael Blackwolf, e o pai de Mia, antigo Beta de Nate, Alaric Ashowrth, ambos seguraram Bryan. — Bryan, chega dessa loucura! Você não pode matá-los! São nossa família, são seus irmãos, seus amigos! — Outros se juntaram a eles para conter um Bryan enfurecido, que estava planejando cometer uma chacina aparentemente pelo fato de ser obcecado pela própria esposa. Mia estava bem na frente dele, as mãos em seu rosto. — Pelo amor da Deusa … Pare com isso! Você enlouqueceu, Bryan! Você não pode agir assim... Havia mais de dez lobos adultos de todas as classes de alfas a ômegas sobre Bryan, tentando contê-lo, mas eles lutavam com dificuldade. Ele rugia, e a cada rugido, o chão tremia sob os pés de todos. Era o Alfa em seu estado mais selvagem e perigoso, um poder avassalador que poucas vezes era visto. Babi se aproximou de Mia, a voz carregada de urgência e desespero. — Você tem que controlar ele, Mia! É para isso que somos companheiras deles! Tente acalmá-lo, faça com que ele te ouça! — Mas eu não sei o que fazer, madrinha! Eu nunca precisei acalmá-lo, ele nunca saiu do controle assim! — Mia estava realmente assustada com o que via, seu corpo tremendo. — Apenas fique no campo de visão dele, fale com ele, chegue perto! Ele vai ouvir sua voz, sentir seu cheiro e isso vai acalmar ele. — A instrução de Babi era clara, uma luz em meio ao caos. Mia fez, sem hesitar. Ela se emaranhou no meio da luta, desviando dos braços que tentavam conter Bryan, e se colocou bem à frente dele. Os olhos de Bryan estavam totalmente negros, os dentes já haviam se transformado em garras longas e afiadas. — Soltem ele! — Mia ordenou, sua voz surpreendentemente firme. "Mika, por favor, fale com Bones, tente se conectar com ele", Mia implorou à sua loba interior. Mika, que estava atenta e tensa, respondeu em sua mente: "Mia, eu já estou fazendo isso, eles estão furiosos, você não deveria ter falado o que falou." Todos soltaram Bryan, e Mia o abraçou imediatamente, caindo de joelhos com ele. Ele estava agachado no chão, um vulcão de fúria e poder. — Bryan, se acalma. Você precisa se acalmar. Eu tô aqui, estou com você, não vou a lugar nenhum, eu prometo. Por favor, me escuta, eu tô aqui, eu sou sua, por favor, me escute. — As palavras dela, sussurradas no fundo do ouvido dele, mas audíveis para todos na sala, eram um bálsamo em meio à tempestade. Os homens formaram um círculo protetor ao redor deles, observando com apreensão. O chão ainda tremia com o poder de Bryan, mas Mia o abraçava com toda a força, sentindo seu corpo tenso contra o dela. Lentamente, ele começou a relaxar. Mia sentiu quando ele finalmente a abraçou de volta, enterrando o rosto em seu pescoço e em seus cabelos. Ele respirava profundamente, mas ainda rosnava, um som de advertência. — Minha. — Ele repetia, a palavra um sussurro possessivo entre os rosnados, que foram se acalmando até que Mia sentiu todo o corpo dele relaxar. Mia não sabia quantos minutos se passaram até que ele se acalmasse por completo. Mas quando olhou para o rosto dele novamente, os olhos dele haviam voltado ao seu tom azul-celeste, e ele havia voltado a si. E, com a calmaria de sua companheira envolvendo-o, Bryan adormeceu ali, nos braços dela, sem que se soltassem. O burburinho na sala havia se transformado em um silêncio tenso, quase palpável. A tensão foi quebrada apenas pela respiração profunda de Bryan, ainda inconsciente em seus braços, e pelos soluços abafados de Mia, que estava ajoelhada, sentindo o peso e o calor do corpo dele. A adrenalina começava a baixar, substituída por um cansaço esmagador, físico e emocional. A batalha dentro de Bryan e o conflito que ela enfrentava a desgastaram mais do que ela imaginava ser possível. Os outros lobos da alcateia, que haviam presenciado a explosão de poder de Bryan, agora se recuperavam lentamente. Niel, Axel e Gael, os trigêmeos, estavam sendo socorridos por outros membros da alcateia. As feridas físicas cicatrizavam, mas o choque em seus olhos era inegável. Cada um deles carregava a marca de ter enfrentado o Alfa em sua forma mais selvagem. O pai de Bryan, Nathanael, e o pai de Mia , Alaric se aproximaram, os rostos marcados pela preocupação. Nathanael, o antigo Alfa, sabia o que estava acontecendo, tinha visto essa transformação de Bryan mais vezes do que gostaria. Ele se ajoelhou ao lado de Mia, colocando uma mão gentil em seu ombro. — Ele está exausto, Mia — disse Nathanael, com a voz grave, mas calma. — O poder que ele liberou foi demais até para ele. Vamos levá-lo para o quarto. Os membros da alcateia, com a força que a situação exigia, ajudaram a levantar Bryan. Mesmo em seu estado de exaustão, ele se manteve apertado a Mia, como se tivesse medo de que ela fosse desaparecer. Ele não queria se afastar dela, não queria a deixar. E isso foi algo que Mia sentiu, algo visceral, que não podia negar. Foi um esforço para levá-lo ao quarto. Sua enorme figura parecia pesada demais para ser carregada com tamanha delicadeza, mas Mia não se afastou dele. Ela ficou ao seu lado, com os membros da alcateia ao redor, até o colocar na cama. Ele se afasta, mas sem querer soltar Mia, como se ela fosse a única coisa que ainda fazia sentido em seu mundo. Quando os outros finalmente saíram, Mia ficou sozinha com Bryan. O silêncio preenchia o quarto, a escuridão da noite envolvia o ambiente. A luz suave da lua que entrava pela janela parecia tocar suavemente o rosto de Bryan, agora relaxado, como se finalmente tivesse cedido à dor da transformação. Mia, ainda sentindo o calor dele em seus braços, olhou para o homem que agora estava em sua cama, mas que ainda parecia distante, como se seu corpo estivesse ali, mas sua mente estivesse em outro lugar. De repente, Bryan se mexeu, despertando lentamente. Seus olhos azuis brilharam, e ele olhou para Mia com uma expressão que ela não conseguiu decifrar de imediato. Não havia mais aquela fúria que ela temia. Em vez disso, havia uma vulnerabilidade no seu olhar, algo mais humano do que ela imaginava ser possível. Ele se encaixou em sua direção, buscando o calor do corpo dela. Mia sentiu um aperto no peito, uma dor aguda em sua garganta. Não era uma dor física, mas emocional, aquela que só o amor não correspondido poderia trazer. Ela sabia o que ele havia feito, o que ele lhe fizera, mas ali, naquele instante, com ele deitado nos seus braços, parecia que nada mais importava. Bryan, em sua voz rouca e cansada, sussurrou o nome dela: — Mia...Minha... Mia olhou para ele, sentindo as lágrimas, mais uma vez, se acumularem em seus olhos. Ela não sabia o que fazer. A dor da traição, da perda do bebê, do desgosto ainda pairava em sua mente. Mas ela sabia que, ao olhar para ele, tinha uma escolha: afastar-se completamente ou ceder à força da ligação que ainda existia entre eles. Ele fechou os olhos de novo, o rosto relaxando. Parecia que ele estava em paz, mas Mia sabia que a paz dele não era sincera. Ela sentia o peso da mentira, a fragilidade da confiança. Mesmo depois de tudo, o vínculo deles ainda estava ali, forte e inegável. Ela apenas suspirou, o ar saindo de seus pulmões como se ela não tivesse forças para continuar a lutar. Mas ela sabia que, por mais que quisesse, não podia simplesmente ignorá-lo. Ela era a Luna dele, e ele o Alfa dela. Aquela ligação, aquela sentença, ainda estava entre eles. Mia deitou-se, mas não pôde deixar de perguntar a si mesma: Por quanto tempo ela continuaria nesse ciclo? Ela tinha medo de que, se deixasse seu coração se abrir novamente, seria mais uma vez destruída. Ela fechou os olhos, sentindo o peso de sua própria decisão, e esperou que, de alguma forma, o futuro traga as respostas que ela tanto procurava. A única coisa que ela sabia, e que não podia negar, era que Bryan era verdadeiramente seu. Mesmo que ela não o quisesse. Mesmo que ela sentisse que merecia mais, algo maior. Ela era dele e ele era dela. E, enquanto isso fosse verdade, ela não sabia como poderia seguir em frente.
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