O som da respiração suave de Bryan, enquanto ele ainda dormia profundamente, parecia a única coisa constante naquela manhã. Mia, com a mente pesada e um corpo que se arrastava pela exaustão emocional, se levantou da cama com cautela. A dor da noite anterior ainda latejava dentro dela, mas ela se obrigou a seguir em frente. Não queria mais ficar na cama, não queria olhar para ele, mesmo sabendo que ele estava ali, tão perto.
Ela se levantou, com o coração apertado, sentindo o peso de suas decisões. O quarto estava silencioso, exceto pelo som da respiração dele e pelos suaves ruídos da casa ao fundo. As crianças não estavam ali, graças aos avós, e o tempo que ela teria para se distanciar era precioso demais para ser desperdiçado.
Mia caminhou até o banheiro, com os pés descalços tocando o piso frio. Antes de entrar, ela olhou para Bryan mais uma vez. Ele estava virado para o lado, a expressão de um homem que ainda estava perdido em seus próprios pensamentos. Ela sabia que ele não ia ficar quieto por muito tempo. Quando acordasse, ele tentaria se aproximar, tentaria falar, talvez até tentasse pedir perdão de novo. Mas Mia não estava pronta. Não estava pronta para ouvir as palavras vazias que, até agora, não tinham sido suficientes para fazê-la confiar nele novamente.
Ela entrou no banheiro e, de forma automática, trancou a porta. A sensação de trancar o banheiro parecia a única coisa que ela poderia controlar naquele momento. Ela não queria que ele viesse atrás dela. Não agora. Não depois de tudo o que ele fez.
Enquanto se olhava no espelho, Mia não via a vítima; via o campo de batalha. Seu rosto pálido e seus olhos injetados eram a prova do preço que ele pagaria. Ela não estava perdida. Estava recalibrando. A imagem de Bryan e Lívia não era mais uma sombra; era o combustível tóxico que aquecia seu sangue. A dor da perda do filhote não a consumia; ela a afiava. Bryan podia tê-la amarrado pela eternidade, mas Mia pensou: "Se não posso me livrar do laço, vou usá-lo para estrangulá-lo." Ela não precisava de gritos; ela precisava de estratégia. Ele pagaria, e Mia faria de sua vingança uma obra de arte lenta e dolorosa.
O som do chuveiro ligando trouxe um breve alívio. O calor da água morna parecia aliviar os nós tensos que ela carregava nos ombros. Ela fechou os olhos por um momento, deixando que o vapor a envolvesse, mas logo a dor voltou, cortante, quando ela se lembrou da última noite.
O quarto, a traição, a dor da perda do bebê , a humilhação. Tudo estava ali, como uma ferida aberta. Mas o que mais a consumia não era apenas a dor da traição. Era a sensação de que, por mais que ela tentasse, por mais que ela tentasse seguir em frente, nunca conseguiria encontrar o perdão dentro de si mesma. Ela não sabia se conseguiria perdoar Bryan. Ela não sabia se deveria.
Ela se forçou a se concentrar no banho, na água quente que escorria pelo seu corpo, como se isso pudesse de alguma forma apagar a dor que se entranhava em sua alma. Ela ainda estava com a mente cheia de pensamentos conflitantes quando sentiu a pressão em seu peito aumentar.
Mia sabia que, mais cedo ou mais tarde, teria que tomar uma decisão sobre o que fazer com o casamento deles. Ela sabia que, no fundo, já havia tomado a decisão. Mas não estava pronta para enfrentá-la, não ainda.
O cheiro do sabão perfumado a envolvia, e ela desejou que a água levasse não apenas o cansaço físico, mas todas as dúvidas que estavam se acumulando em seu coração.
De repente, uma batida na porta fez seu corpo enrijecer, e ela sentiu uma tensão se instalar. Bryan. Ele estava acordado.
— Mia? — Sua voz soou do outro lado da porta.
Mia mordeu o lábio inferior, sentindo a tensão aumentar. Ele estava começando a perceber que ela estava distante, e sabia que ele tentaria algo, tentaria falar, tentar se explicar. Mas ela não estava pronta. Não estava pronta para enfrentá-lo. Não ainda.
Ela segurou firme no chuveiro, tentando esconder as emoções que estavam começando a transbordar de dentro de si. Por mais que tentasse se convencer de que não precisava dele, de que ela podia seguir sozinha, o simples som da sua voz a fazia duvidar de si mesma.
Ele bateu novamente, com mais força.
— Mia, abre a porta! Por que você trancou?
Mia respondeu, a voz forçadamente calma sobre o barulho da água.
— Já estou terminando. Quando eu terminar, você pode usar o banheiro.
— O quê? Não! Eu quero tomar banho com você! — Ele falou, a voz claramente frustrada. Antes que Mia pudesse sequer pensar em uma réplica, ouviu um estalo alto. A maçaneta rangeu e cedeu. Bryan a havia quebrado. Ele entrou no banheiro, e Mia soltou um pequeno grito, os olhos arregalados de choque.
Ele começou a tirar a roupa, sem se importar com a presença dela.
— Mas o que... Meu Deus, você enlouqueceu de vez? Você quebrou a porta! Essa casa nem é nossa, Bryan!
—
Mia o observava, indignada, enquanto ele entrava no boxe do chuveiro. Ela se encolheu, instintivamente tentando esconder sua nudez do próprio marido e companheiro, por um motivo que ela não conseguia explicar.
Ele percebeu seu gesto e levantou uma sobrancelha, as mãos na cintura, a imagem de um Bryan que ela m*l reconhecia.
— Por que está se cobrindo, Mia? Eu já vi você nua milhões de vezes.
Mia estendeu a mão para pegar a toalha, saiu do boxe e se cobriu, tremendo de raiva.
— Bom, isso não acontecerá mais! Se você quer ver alguém pelada, por que não procura sua amante?
Bryan se moveu rapidamente, fechando a distância entre eles. O chuveiro ainda corria, e o vapor preenchia o ambiente, mas a tensão era palpável. Ele a segurou pelos braços, e Mia sentiu a força em suas mãos, uma lembrança vívida do que ele era capaz.
— Eu não tenho nenhuma amante, Mia. Eu quero só você. — Sua voz estava baixa, mas havia uma intensidade nela que a fez arrepiar. — Eu te disse ontem à noite. Eu te amo, e você é minha. Não há mais ninguém!
Mia riu, uma risada amarga e desolada. — Ama? Você chama isso de amor? Destruir tudo o que tínhamos, trair minha confiança, e agora, depois de tudo, você vem com essa loucura de "eu te amo"? Que amor é esse que eu nunca vi, Bryan? Você nunca fez questão de demonstrar!
Bryan apertou os braços dela, os olhos azuis faiscando com uma emoção complexa que Mia não sabia nomear. Não era a fúria descontrolada de antes, mas algo mais profundo e perigoso.
— É o meu amor, Mia. Imperfeito, talvez, mas é meu. E você não vai a lugar nenhum. Você é a minha Luna, a mãe dos meus filhos. Você é parte de mim, Mia.
Ela tentou se soltar, mas era inútil. A cada palavra dele, a parede que ela tentava construir entre eles parecia ruir. Ela não queria ceder, mas a vulnerabilidade em sua voz, misturada com aquela possessividade aterrorizante, a confundia.
— Você está com raiva, eu entendo. Eu errei, sim. Fui um fraco, sim, um i****a, mas você também foi, se lembra? E mesmo assim eu voltei e casei com você. Você me deve isso.
Ele inclinou a cabeça, os olhos fixos nos dela.
— Eu sei que fui um i****a, Mia. Eu sei que errei. Mas eu vou consertar. Eu prometi a você que daria tudo de mim, e eu vou. Mas você não vai me deixar. Você vai me dar uma oportunidade de te mostrar que eu posso, mudar , eu te amo mais do que ninguém já te amou na vida.
A determinação em sua voz era inquebrável. Mia percebeu que Bryan não estava pedindo, ele estava declarando. Ele não estava tentando reconquistá-la; ele estava reafirmando sua posse, sua crença inabalável de que ela pertencia a ele, independentemente do que ela sentisse. Era o verdadeiro Bryan Blackwolf, não o Alfa frio e distante, mas o homem obcecado e perigoso que ela acabara de testemunhar.
— Me permita te mostrar tudo. — Ele falou, e de repente tudo ao redor ficou nublado. Mia não enxergava mais nada, tudo ficou branco e ela foi transportada para outro lugar.
AS MEMÓRIAS DELE
Era bem ali na mansão Blackwolf, mas diferente. Mais antiga. Todos estavam reunidos na sala. Elizabeth Ashworth e Alaric Ashworth estavam com uma bebê no colo, um pacotinho embrulhadinho, tão pequena, que dormia de forma confortável nos braços de Elizabeth. Eles pareciam bem mais jovens do que atualmente, então isso era em algum momento do passado, Mia notou.
Ela se virou para um menininho pequeno com grandes olhos azuis e uma selvagem cabeleira loiro-escuro que encarava o pacote com ansiedade.
— Você quer conhecer ela? — Elizabeth perguntou ao menininho, que era pequeno demais para enxergar a bebê nos braços da mãe. O menininho afirmou com a cabeça. Ele se sentia ansioso, o coração batia forte, e Mia, que era uma espectadora do que acontecia, parecia sentir tudo o que ele sentia.
E então uma Elizabeth bem mais jovem disse ao menino: — Venha, sente aqui ao meu lado. Você pode segurar ela.
O menininho se apressou e sentou-se ao lado dela. Ela pegou a bebê e colocou no colo dele.
— Ela se chama Mia e ela é sua companheira destinada. Ela só tem 3 dias de vida e nasceu com a sua marca lupina. Isso não é incrível? Geralmente, nós lobos só encontramos nossos parceiros destinados pela Deusa da Lua no baile de acasalamento. Tem lobos que demoram anos para achar seus companheiros, mas você foi privilegiado, é o primeiro lobo da história a ter sua companheira tão cedo. Ela é sua, Bryan. — Ela falou entusiasmada para o menininho que segurava de maneira protetora a pequena Mia em seu colo. A Mia mais velha que observava a cena notou e entendeu perfeitamente o que estava acontecendo. A bebê era ela, e o menininho sorridente e deslumbrado com a bebê Mia em seu colo era Bryan Blackwolf. Ela estava acessando as memórias dele.
O menininho deu um leve beijo na testa da bebê Mia, e a Mia adulta sentiu todo o amor que transbordava dele para ela. A bebê sorriu e abriu os olhos cinzas para ele. Ela sorria confortável no colo dele, e ele a admirava com total devoção. A Mia adulta sentiu que chorava, mas não sentia as lágrimas, pois estava em uma memória, estava dentro da mente do Bryan.
— Sua missão é cuidar dela, Bryan. Você deve proteger ela e fazer ela feliz sempre. Você precisa ser forte e não deixar que nada a machuque, ok? — falou Alaric Ashworth, que estava ao lado do menino que consentiu em afirmação com a cabeça.
O menino olhou para o bebê em seu colo e falou:
— Eu, Bryan Blackwolf, aceito você, Mia Ashworth, como minha companheira única e verdadeira, e prometo cuidar de você e protegê-la sempre com toda a minha força e vida, e prometo te amar eternamente. Eu sou verdadeiramente seu, e você é minha, e quando você crescer, vamos ser o Alfa e a Luna. Eu prometo, Mia, vou amar você com toda a minha alma para sempre.
— A bebê deu um sorrisinho satisfeito para ele, como se entendesse tudo o que o menininho falava. E ele estava sendo totalmente sincero. Mia podia sentir isso.
Continua…