A visão se dissolveu, e Mia se viu novamente na festa. A música eletrônica, vibrante e alta, soava agora como um pano de fundo distante para o riso agudo de sua euforia adolescente, uma camada fina sobre a tensão que se formava. Ela aceitou a mão estendida de Axel, o calor do toque dele superficial e efêmero em comparação com a eletricidade inegável que sempre existira entre ela e Bryan, mesmo no silêncio.
A jacuzzi borbulhava como um caldeirão de segredos, o vapor quente subindo e envolvendo seus corpos, a atmosfera pesada de flerte, irresponsabilidade e descaso. Axel se aproximava, o braço dele roçando a cintura de Mia de uma maneira possessiva e proibida que deveria tê-la feito recuar. Ela riu de algo que ele disse, um som despreocupado que ecoou vazio na mente da Mia adulta.
Ela flertava, completamente inconsciente do par de olhos azuis que a observavam da escuridão acima—os olhos de Bryan—cada movimento seu, cada sorriso lançado a Axel, como um prego sendo cravado em um caixão. O cheiro de Mia misturado ao de Axel era um gatilho biológico para Bryan, uma bomba-relógio acionada. Ele tentava beber para anular o instinto primitivo que o dominava, mas era inútil; seu lobo, Bones, arranhava as paredes de sua consciência, inquieto e exigindo a presença de sua fêmea.
De repente, a paz aparente se quebrou. Como uma tempestade irrompendo em um céu estrelado, Mia foi puxada para fora da jacuzzi com uma força bruta e irracional que a fez ofegar. O ar frio da noite, gélido em contraste com a água quente, arrepiou sua pele molhada enquanto ela cambaleava, olhando para cima e encontrando a máscara de fúria selvagem no rosto de Bryan. Os olhos azuis estavam vermelhos de raiva, injetados e quase líquidos.
Axel, pego de surpresa, levantou-se da água com um movimento rápido, os músculos tensos, pronto para a briga que ele sabia ser inevitável. O tumulto se espalhou como fogo em palha seca; a música perdeu o sentido, e os gritos e as exclamações dos convidados perfuraram a noite, a curiosidade mórbida tomando conta da multidão.
E então, a voz de Bryan, selvagem e carregada de uma dor dilacerante, um rosnado m*l contido, cortou o ar:
— Como você ousa ficar se esfregando no meu irmão igual a uma c****a no cio?
O tapa estalou no rosto de Bryan como um trovão em céu azul, o som ecoando no silêncio que se fez. A humilhação e a raiva incendiaram os olhos de Mia, sua própria fera adolescente emergindo.
— Eu te odeio, Bryan! Eu não quero mais saber de você. Terminamos aqui!
A dor excruciante que emanou do Bryan adolescente atingiu a Mia adulta como uma onda de choque, o remorso a afogando em sua intensidade. Não, não diga isso, ela queria gritar, sentindo a desesperança dele, mas as palavras estavam presas em sua garganta espectral, a visão paralisante.
— Não podemos terminar, Mia. Estamos destinados um ao outro — respondeu Bryan, a voz rouca e desesperada, o tremor em suas mãos expondo a máscara de raiva brevemente rachada, revelando a vulnerabilidade crua por baixo.
— Destino? Até parece que você se importa com isso! Você não me ama, não quer fazer nada comigo, m*l me toca! Isso não é destino, é um fardo! Eu estou cansada disso, não quero mais fazer isso! Essa coisa estranha que nós temos acabou. Você está livre, e eu também! — declarou a Mia adolescente, cada palavra um golpe frio e certeiro, carregado da mágoa de se sentir negligenciada e ignorada.
A Mia adulta sentiu como se cada sílaba proferida pela sua versão mais jovem fosse uma faca de gelo cravada no coração exposto de Bryan, a promessa de uma vida juntos se esvaindo em meio à amargura e à incompreensão. A semente da discórdia estava plantada.
A Farsa e do Alfa
A visão mudou, arrastando Mia para um dia que ela havia jurado esquecer, um túmulo lacrado na galeria de suas memórias. Já se passavam alguns meses desde o rompimento, um tempo que, para a Mia adolescente, era uma tentativa desesperada de costurar os retalhos de sua normalidade desfeita. Ela buscava algum alívio para a ferida aberta em seu peito e se esforçava, com uma visível e dolorosa dedicação, para construir algo com Axel Blackwolf, e os gêmeos. E Bryan, por sua vez, não havia perdido um segundo sequer, apressando-se para a órbita de Lívia Ashworth, a própria irmã de Mia, num ato de retaliação e desespero.
Era outra festa, o ar vibrante e denso com a pulsação da música, os risos estridentes e as conversas que se misturavam em um burburinho quase ensurdecedor. Para Mia, no entanto, a atmosfera era sufocante, uma armadilha forjada pela hipocrisia de sua própria tentativa de felicidade. Ela forçava sorrisos, um esgar doloroso nos lábios, tentava se divertir, mas o gosto amargo de suas decisões preenchia sua boca, um veneno lento e constante. Era uma tortura velada observar Bryan com Lívia, um sorriso que ela nunca havia testemunhado direcionado a ela, sua companheira destinada, a qual ele jurava amar. Aquele carinho, aquela atenção romântica que Bryan, agora, esbanjava para Lívia, era como um lembrete c***l para a jovem Mia: ele podia ser tudo aquilo – carinhoso, atencioso, amoroso – mas ele não quis ser com ela. O pensamento era um ferro quente cravado em seu peito.
Mas a Mia adulta, espectadora fantasmagórica naquele turbilhão de lembranças, sentia a memória em camadas, percebendo a farsa, o teatro doloroso por trás dos gestos de Bryan. Ele estava fingindo. Cada sorriso para Lívia era um esforço hercúleo, cada toque uma performance ensaiada para os olhos que, ele esperava, estariam observando: os olhos de Mia. A Mia adulta sentia o desespero e a dor que corroíam Bryan por dentro, tão intensamente quanto a Mia adolescente estava sofrendo. Aquela festa também era uma prisão para ele, uma encenação dolorosa para provar um ponto.
Bryan observava Mia fixamente. Dentro dele, os sentimentos eram um turbilhão caótico de ciúme, mágoa e desejo reprimido. Lívia se aninhava em seu colo enquanto ele estava sentado na poltrona, uma garrafa de cerveja long neck quase vazia na mão, mas era inútil. Não importava o que Lívia dissesse, seu interesse era um só: Mia com aquele vestido preto, curto e decotado, rindo para seus irmãos como se lhes pertencesse.
O ciúme queimava suas entranhas, subindo por sua garganta como bile quente e metálica. Ele nem percebeu quando seus olhos se tornaram totalmente negros, a íris engolida pela pupila dilatada, sem piscar, fixos nela. O lobo interior, Bones, estava assumindo o controle da visão, e sua presença era palpável. Cada toque de Gael em Mia fazia Bones rosnar em sua mente, um som sibilante e violento: "NOSSA COMPANHEIRA. ELE NÃO PODE TOCAR NA MINHA COMPANHEIRA... FAÇA ALGUMA COISA." E, para coroar a fúria interior, era noite de lua cheia, uma lâmpada prateada e maciça no céu, amplificando cada instinto e emoção primitiva ao máximo.
Lívia, percebendo que havia perdido sua atenção para um ponto além dela, levantou-se com birra e se afastou, o drama dela irrelevante. Bryan não se importou nem um pouco, m*l ouvindo suas queixas. Ele desprezava fazer cena, considerava o descontrole uma atitude de lobo fraco, mas Mia o fazia perder o domínio sem sequer olhar em sua direção. A mera presença dela era suficiente para corroer a força impassível que ele tanto cultivava.
Então, ele se levantou, a garrafa caindo no chão sem ser notada, o som abafado pela batida forte da música.
A Posse Brutal do Alfa
Aproximou-se da mesa de bilhar onde Gael "ensinava" Mia a jogar a bola no buraco, a proximidade física dos dois uma afronta final à sua sanidade. E, então, agiu. Puxou-a para si com uma violência controlada, um aperto de ferro que a fez cambalear, recostando-se contra a mesa enquanto o clima ficava pesado e mortal. Com uma mão, segurou sua cintura de forma firme, encaixando perfeitamente o corpo dela contra o seu, sentindo a familiaridade do toque, como se fossem feitos para aquele encaixe. Com a outra, traspassou seu pescoço e enterrou a mão aberta dentro do decote dela, sentindo o seio quente e cheio contra sua palma. Ele apertou os s***s dela sem pudor, um gesto cru de posse. Aquilo o acalmou, mas apenas um pouco. Através do vínculo, sentiu Mia arfar de choque com a i********e crua, mas estranhamente, sentiu que ela correspondia ao toque. Ela estava arrepiada, e o desejo dela era um perfume intoxicante que o inebriava. Ele então subiu a mão, inclinou seu pescoço para o lado—expondo a pele—e beijou o local, roçando com a boca. Sem dignar-se a olhar para Gael, que assistia tudo com ódio impotente e paralisado pela audácia do irmão.
Com a voz rouca, grave e perigosa, sussurrou contra sua pele:
— Acho que não vou esperar nosso casamento para marcar você... Você já me pertence, e a marca será uma mera formalidade...
Suas presas já estavam expostas, pontiagudas e afiadas, arranhando o pescoço dela até fazer o sangue escorrer. Suas garras surgiram, e ele mantinha a cabeça de Mia imóvel—Bryan era grande e forte demais, e ela, mesmo assustada, transbordava desejo, uma contradição terrível que a dilacerava. Mia tremeu por inteira, engolindo em seco, sentindo a inevitabilidade.
Foi quando Benjamin, seu futuro beta e a voz da razão, se aproximou, tenso, tentando intervir.
— Irmão, não faça isso. Não é a hora certa... se acalma.. Por favor.
Mas o vínculo já brilhava, pulsando com a força da Lua Cheia. Mia segurava o braço que a dominava, e o laço do destino que os conectava pulsava como prata líquida—uma linha que formava um infinito, passando do pulso de Mia ao pulso de Bryan. Ele rosnava, sentindo a Lua, o vínculo, a força crua que os unia, perdendo-se na urgência primal. Já não ouvia mais nada, apenas a voz de Bones em sua mente, urrando. A fera estava faminta por sua companheira:
"FAÇA. TORNE-A NOSSA. AGORA."