Flashback – Alguns anos atrás
Mia estava na Mansão Blackwolf, em uma estadia prolongada. Os pais de Bryan e dela haviam viajado, deixando a guarda dos jovens lobos a Vivian Guerra e seu marido, Santiago, Delta do pai de Bryan. Com eles estavam Joenne Montserrat e Malakai Montserrat, leal Gama de Nathanael Blackwolf.
Mia havia terminado com Bryan há alguns dias, mas vê-lo todos os dias na mansão estava se tornando uma tortura. Para piorar, desde o término, eles tinham que fingir estar juntos para os pais. Como eram destinados a serem os próximos Alpha e Luna da alcateia, mesmo que Bryan não quisesse Mia, ele não teria escolha. Escolher outra seria inadmissível para um Alpha, uma afronta à tradição, ao destino e à Deusa Selene. Então, aos olhos de todos — menos dos irmãos e dos amigos muito próximos que sabiam o que havia acontecido na fatídica festa de Mia — eles ainda estavam juntos.
Naquela noite era noite de cinema. O enorme e imponente cinema a céu aberto da mansão estava preparado, e jovens lobos, amigos e familiares se acomodavam, ansiosos pela sessão.
Mia chegou ao jardim e percebeu que vários já estavam sentados, aproveitando o filme. Tentando não chamar atenção, ela se dirigiu à mesa de guloseimas, pegando pipoca e outros doces, distraindo-se da tensão crescente no ar.
Enquanto se servia, Mia desviou o olhar e viu Bryan e Lívia sentados juntinhos, abraçados sob uma manta. O coração dela saltou. Ele estava confortável com ela, completamente alheio à presença dos outros, e Mia sentiu o estômago embrulhar, um nó se formando na garganta. A cena era dolorosa, um golpe direto em sua já frágil estabilidade. A lealdade de sua loba para com seu companheiro destinado lutava contra o desejo de afastar-se da dor.
Bones, o lobo de Bryan, deve ter percebido a presença de Mia, pois ele ergueu a cabeça e os olhos, antes fixos em Lívia, agora se voltaram para ela. Mia ficou paralisada, as lágrimas escorrendo invisíveis na escuridão, enquanto Mika, sua loba interior, a alertava: “Você pediu por isso, não deveria ter deixado ele”.
Desgastada, Mia decidiu que aquela noite terminaria em lágrimas. Sem conseguir suportar mais, ela se afastou discretamente e subiu para seu quarto.
No quarto, Mia trocou de roupa e foi até o banheiro. Enquanto se preparava, um barulho chamou sua atenção, seguido pelo cheiro inconfundível do seu Alfa — uma mistura de tempestade e almíscar. O coração dela disparou. Ele estava ali.
Quando Mia finalmente saiu do banheiro, ele estava sentado na cama dela, como se o ambiente inteiro pertencesse a ele. Seus olhos se encontraram, e a tensão era palpável no ar. Mia não se aproximou, e o silêncio preencheu o espaço, carregado de sentimentos não ditos.
— A sua namoradinha preciosa vai ficar chateada com você por estar aqui e deixar ela sozinha lá, com certeza ela não vai sobreviver sem a sua presença. — A voz de Mia saiu com um tom irônico e cortante, uma tentativa de disfarçar a dor.
Bryan não respondeu. Apenas a observava como um lobo observa sua presa. Ele parecia perigoso, e Mia sentia aquilo no ar, um calafrio percorrendo sua espinha. Para piorar, ele estava com o celular dela na mão, provavelmente lera as mensagens dos trigêmeos.
— Olha, já que você não veio aqui para falar nada, você pode, por favor, ir embora? Eu quero dormir, estou cansada e sem energia para brigas. — Mia tentava manter a calma, sabendo que ele buscava uma reação.
Bryan não se moveu. Ainda a encarava de uma forma que a fazia sentir-se acuada. Com um último esforço, Mia se aproximou, ergueu o queixo e tentou ser mais corajosa.
— Sai do meu quarto e me devolve meu telefone! — A voz vacilou, mas a determinação estava lá.
Bryan apagou as luzes com um gesto dos dedos. O quarto mergulhou na escuridão, mas Mia não se desesperou. O bom de ser uma loba era que, mesmo no escuro, conseguia ver claramente.
Num piscar de olhos, Bryan estava sentado no colchão, como uma estátua de deus grego. No momento seguinte, Mia estava debaixo dele, seu corpo preso ao dele. Ela perdeu o fôlego com a rapidez e força do movimento.
— Me solta, Bryan! Qual seu problema? — tentou Mia, a voz abafada e cheia de desespero. Ele segurava seu corpo firme, mãos dela acima da cabeça como algemas invisíveis.
Os olhos azuis dele flamejavam no escuro. Ele se aproximou do pescoço dela, como um predador apreciando sua presa.
— Estava chorando? — perguntou, com um sorriso sutil.
— Não estava, e desde quando você se importa comigo? — murmurou Mia, a voz embargada de mágoa.
— Você acha que consegue mentir para mim? Eu sinto tudo o que você sente. Você faz parte de mim. — Uma das mãos dela foi solta, e ele acariciou seu rosto de forma desconcertante, possessiva.
— Você e eu somos um só, Mia, sempre seremos. — As lágrimas que Mia tentava segurar escorreram livremente. Cada uma era recolhida pelos dedos dele, gesto c***l e terno ao mesmo tempo.
Bryan a puxou para um abraço, e Mia chorava sua frustração e dor, confusa com seus sentimentos. Ele a envolvia, respirando fundo, com um aperto que parecia querer absorver toda a dor dela.
O abraço foi breve. Bryan se afastou de repente, violento. Seu corpo estava tenso, os olhos vermelhos, os pelos surgindo e garras se formando — a transformação de seu lobo.
— VOCÊ TREPOU COM ELES?! — rosnou, a raiva atingindo Mia como um golpe físico. O medo a paralisava.
— Eu não trepei com eles, mas fizemos preliminares! Eu e você terminamos! — protestou.
— NÃO IMPORTA! Eles tocaram você! Eu vi nas suas lembranças! — Ele rugiu.
Bryan a segurou pelo pescoço, apertando demais. Mia engasgava, sem conseguir se soltar, indefesa. As garras dele afundavam levemente na nuca dela, o terror tomava conta.
— Você não tem direito de achar r**m, Bryan! Você também ficou com outras mulheres!
— FOI TOTALMENTE DIFERENTE, MIA! — ele explodiu, a fúria pura e cruenta.
— Diferente como?! — gritou, a voz embargada. — Você terminou comigo e foi pra cama com outras!
— Ouça-me bem, Mia, você não é nada além de uma ferramenta para que eu seja o Rei Alpha. Eu nunca amei você e nunca vou amar. A única digna de mim é a Júpiter. Mas não se engane, vou fazer você pagar por cada coisa que você fez comigo. — Cada palavra dele era gelada e cortante, calculada para ferir.
Ele a soltou, e Mia caiu no chão, tossindo e tentando recuperar o fôlego. Bryan se levantou, olhando para ela desolada. Ele saiu do quarto com passos pesados, deixando Mia sozinha, quebrada e exausta.
Fim do flashback – Voltando ao presente