O mundo de Mia havia desmoronado em horas.
Paralisada no jardim, sentia o corpo pesar, a alma rasgar — as promessas de Bryan ecoando como lâminas, e os trigêmeos, magoados, ainda presos entre o amor e a dor.
Mas algo no ar estava diferente…
Um arrepio percorreu sua pele.
E então — o som.
Não foi um uivo qualquer, um aviso distante ou um chamado de caça. Era um rugido. Um som gutural, primitivo, que surgiu das profundezas da floresta e cortou a noite como uma lâmina. Não vinha de um, mas de muitos. Era um coro de fúria e fome, um anúncio de carnificina.
O instinto ancestral de Mia disparou um segundo antes de sua mente consciente processar. O cheiro mudou. O aroma familiar da terra molhada e das flores noturnas foi subitamente varrido por uma rajada de vento carregada de um fedor estranho—musgo podre, suor de animal selvagem e o doce metálico de carne fresca.
Invasão.
A adrenalina explodiu em suas veias, um dilúvio químico que varreu a dor emocional e a substituiu por um terror visceral e aguçado. Seus sentidos se ampliaram de forma quase dolorosa. Cada som se tornou cristalino, cada sombra, uma ameaça em potencial.
Antes que ela pudesse se mover, o caos se abateu sobre a Mansão Blackwolf.
De todas as direções, sombras enormes e velozes jorraram da escuridão. Eram lobos de todos os tamanhos e cores—pelagens marrons escuras, negras como carvão, cinzas sujos, manchadas de ferrugem—mas todos compartilhavam o mesmo olhar: pupilas dilatadas e vazias, injetadas de um breu n***o e sede de violência. Eles não eram uma alcateia organizada; eram um enxame, uma praga.
A resposta dos Blackwolf foi imediata e aterradora. Um clarão de energia Alfa cortou o ar, tão potente que Mia sentiu os pelos dos seus braços se eriçarem. Ao seu lado, Bryan já não estava mais. Em seu lugar, erguia-se Bones, o lobo cinza-tempestade, grande e implacável.
Sua transformação não fora um processo, mas uma explosão de poder puro. Ossos se realinharam com estalos secos e nítidos, músculos se expandiram como cordas de aço, e seu pelo, da cor de nuvens de tempestade, brilhou sob a lua. Quando suas patas tocaram o chão, a terra tremeu e o céu um trovão ecoou em resposta. Não foi uma metáfora. O tremor foi real—uma rachadura fina abriu-se no caminho de pedra aos seus pés, e nas janelas da mansão, os vidros mais antigos estremeceram em seus caixilhos. Já apostos ele fala através do link mental:
“Protejam a entrada da mansão! Os filhotes estão lá dentro!” — Bryan rugiu na mente de todos.
A energia que emanava de Bones…. Era um poder que Mia nunca testemunhara. Na noite anterior, durante seu confronto, ele não liberara nem um décimo disso. Bones era a tempestade personificada. Ele rugiu, e o som não era apenas audível; era tátil, uma onda de pressão que fez os lobos invasores mais próximos recuarem, ofegantes, suas investidas ferozes transformadas em hesitação instintiva.
Ele não esperou. Bones tornou-se um borrão cinza-escuro, uma força da natureza imparável. Um lobo preto colossal, maior que dois cavalos, investiu contra ele. Bones não desviou. Encontrou o avanço, suas mandíbulas poderosas fechando-se sobre o pescoço do adversário com um estalido úmido e grotesco de vértebras se partindo. Com um sacudir violento da cabeça, ele arremessou o corpo inerte contra o tronco de um carvalho centenário. O impacto foi tão brutal que a árvore inteira estremeceu, e o crânio do lobo invasor espatifou-se como uma melancia madura.
Mia não podia mais ser espectadora. A dor e a humilhação que a consumiam encontraram uma válvula de escape na fúria primal de sua loba. Mika não pediu permissão; ela exigiu liberdade.
A transformação de Mia foi diferente. Menos uma explosão e mais uma erupção de luz. Seus ossos estalaram, seus músculos se esticaram, e quando a forma lupina se solidificou, era como se a própria lua tivesse descido à terra. Seu pelo era branco puro, mas as pontas brilhavam com um prata metálico, e sob a luz lunar, nuances de roxo e azul profundo dançavam em sua pelagem, como nebulosas cósmicas presas em seu corpo. Seus olhos, da cor do céu estrelado, não tinham mais a vulnerabilidade de Mia. Eram poços de fúria gelada e antiga.
Quando Mika rugiu, não foi um som de desafio, mas de soberania. Uma aura de poder prateado emanou dela em uma onda visível, um pulso de energia que fez o ar cintilar. Quando essa onda atingiu os lobos da alcateia Blackwolf, seus olhos brilharam em uníssono com uma luz azulada. Eles se endireitaram, seus movimentos se tornaram mais rápidos, mais precisos, suas feridas doíam menos e começavam a cicatrizar. Era a bênção de uma Luna.
Um lobo vermelho terra, mais astuto que os outros, tentou uma investida sorrateira pelas suas costas. Mika não precisou virar-se por completo. Seu corpo girou com uma graça mortal, suas garras prateadas riscando o ar e encontrando o flanco do inimigo. Ela o agarrou pela nuca com uma pata, e com a outra, dilacerou sua garganta. O sangue jorrou, quente e escuro, pintando seu focinho imaculado. O gosto era de metal e vitória. Ela cuspiu o pedaço de carne e rugiu novamente, um aviso para todos.
A batalha era um turbilhão de corpos, sons e cheiros. O ar, outrora puro, tornara-se espesso e pesado. O cheiro metálico do sangue se misturava ao miasma de entranhas abertas, ao suor de bestas e ao perfume acre do medo. Gritos dilacerantes—humanos e lupinos—cortavam a cacofonia dos rosnados, dos ossos se partindo e dos corpos pesados caindo no chão com baques surdos.
Bones e Mika lutavam em sincronia perfeita, um balé de destruição. Enquanto Bones esmagava um lobo com um impacto que fazia o chão estremecer, Mika dançava entre dois outros, suas garras sendo uma extensão reluzente de sua fúria. Ela era o raio, ele, o trovão.
E foi nesse caos que algo ainda mais sombrio se aproximou e o grito de socorro que fez Mia travar…