Capítulo 28 - Observando ela

1137 Words
O jantar findou, deixando para trás um rastro de taças vazias e conversas que minguaram até sussurros sonolentos. O ar ainda retinha o calor do dia e o aroma doce do vinho, mas para Mia, a atmosfera tornara-se opressiva após o encontro no corredor. Ela observou os casais se retirando, aos pares, para a i********e de seus aposentos—Ben com sua parceira, Noah com a sua, Chloe com o marido. Bryan permanecia sentado, conversando com seu pai, Nathanael, sua postura ainda a de um Alfa em vigília, mas seus olhos não buscavam os dela. Mais uma vez, ela se sentiu como uma ilha, cercada por um mar de normalidade conjugal ao qual não pertencia por completo. A necessidade de fuga tornou-se física, uma coceira sob a pele. Ela precisava de espaço, de ar, da única companhia que nunca a julgava: a da lua. — Vou dar uma volta na praia — anunciou, sua voz soando estranhamente distante para seus próprios ouvidos. Bryan finalmente a mirou, seu olhar uma rápida avaliação. Ele acenou com a cabeça, um gesto de permissão distraída. — Não demore. Era sempre assim. Ele não a proibia, não questionava. Sua indiferença era uma gaiola de portas abertas, da qual ela mesma não sabia escapar. Ele não fazia por m*l, Mia sabia. Era simplesmente a natureza dele, um lobo tão focado no todo, no controle do território, que se esquecia de que sua parceira precisava de mais do que a segurança das muralhas; precisava do calor da lareira dentro delas. Mia saiu da varanda e desceu em direção à praia, sentindo a areia fresca e solta ceder sob seus pés descalços. A noite era uma obra-prima. O céu, um veludo n***o infinito, estava salpicado de diamantes cintilantes. E a lua... a lua era uma entidade viva. Cheia, opulenta, pendurada tão baixa no céu que parecia querer beijar a superfície do oceano. Sua luz prateada banhava o mundo, transformando a areia em cristal e o mar em mercúrio líquido. A brisa marinha, suave e salgada, acariciou seu rosto, levando consigo, por um instante abençoado, o peso de seu título. Ela caminhou até a beirada da água, onde as ondas quebravam em suspiros espumantes. Ergueu o rosto para a lua, fechando os olhos, buscando aquela conexão primordial que sempre a sustentara. Era um fio prateado que ligava seu cerne ao astro, um canal direto para Mika, sua loba interior. E Mika estava lá, alerta, respondendo à chamada com um rosnado de satisfação na periferia de sua mente. "Nadar," sussurrou a voz instintiva dentro dela, um anseio profundo. "A água está chamando. Mas preferia correr, sentir o solo sob as patas." Mia sorriu, um sorriso verdadeiro e raro. "Eu também, querida. Mais tarde. Primeiro, o mar." Era um ritual de libertação. Com mãos que tremiam ligeiramente de algo que era mais antecipação do que frio, ela despiu o vestido n***o simples que usava. O tecido escorregou por seu corpo, formando uma poça sombria na areia clara. Estava sem sutiã. Com um movimento decisivo, removeu a calcinha, ficando completamente nua sob o manto da noite e o olhar da lua. Não havia vergonha, apenas uma sensação de totalidade, de voltar a ser um ser puro, despojado de todas as amarras humanas. A água do mar estava surpreendentemente morna, um abraço líquido que envolveu seus pés, seus tornozelos, suas canelas. Cada passo mais fundo era um renascimento. A energia lunar parecia se intensificar, fluindo da abóbada celular para a água e desta para cada poro de seu corpo. Quando a água lhe atingiu a cintura, ela se lançou para frente, seu corpo cortando a superfície lisa com uma graça inata. Ela nadou. Longe da praia, para onde a água era mais escura e o mundo se reduzia ao som de sua própria respiração, ao movimento rítmico de seus braços e pernas, e à vastidão prateada à sua frente. Flutuou de costas, deixando-se embalar pelas suaves ondulações, o céu estrelado seu único teto. Era livre. Por alguns minutos preciosos, não era Luna, não era mãe, não era esposa. Era apenas Mia, um ser elemental em sintonia com a lua e o mar. Mika, dentro dela, ronronava de contentamento, a energia pulsando em harmonia. Mas então, uma sensação estranha começou a se infiltrar em sua paz. Um formigamento na nuca, uma alteração sutil no padrão energético ao seu redor. Ela não estava sozinha. Abriu os olhos abruptamente, virando-se na água, seu corpo ficando tenso. Seus olhos escanearam a praia deserta, as sombras alongadas das rochas. Nada. Nenhum movimento. A mansão ao longe era apenas um conjunto de luzes douradas e silenciosas. No entanto, a sensação de ser observada era inegável, um peso sobre seus ombros nus, um par de olhos invisíveis que a devoravam da escuridão. A liberdade se esvaiu, substituída por uma vigilância aguçada. Ela continuou a nadar, mas agora seus movimentos eram menos fluidos, mais conscientes. A magia da noite fora contaminada por uma presença oculta. O que ela não podia ver, no entanto, era a fonte dessa sensação. Na borda da escuridão, onde a luz da varanda não alcançava, duas silhuetas observavam. Bryan estava lá, seus braços cruzados, uma ruga de preocupação entre suas sobrancelhas. Ele a vira sair e, movido por um instinto que não compreendia totalmente, a seguira à distância. Vê-la assim, tão livre e tão vulnerável, nu sob a lua, despertou nele uma onda conflituosa de admiração e possessividade. E ele não estava sozinho. Ao seu lado, imóvel como uma estátua talhada em sombra, estava Daemon Hemlock. E o olhar de Daemon não era de preocupação ou de admiração pura. Era um olhar de posse primordial, de desejo cru e não disfarçado. Seus olhos, mesmo à distância, pareciam captar cada centímetro do corpo de Mia na água, cada reflexo da lua em sua pele molhada. Ele a observava como o lobo que era: focado, intenso, predatório. A aura dele, mesmo contida, era tão densa que parecia distorcer o ar ao seu redor, uma força da natureza tão poderosa e implacável quanto a maré. Bryan sentiu um rosnado baixo se formar em seu peito. Seus músculos enrijeceram, cada fibra do seu ser de Alfa reagindo à ameaça tácita que Daemon representava. Ele sabia que Daemon estava plenamente ciente de sua presença, e ainda assim, não fazia nenhum esforço para disfarçar sua fixação. Era um desafio silencioso, um teste de dominância que ia muito além de um simples olhar. A cena era um tableau vivo de tensões não resolvidas: a mulher, inconsciente do perigo, entregue à sua liberdade; o marido, vigilante e conflituoso, guardando sua posse; e o estranho, a sombra ancestral, cobiçando o que não lhe pertencia, atraído não apenas pela mulher, mas pelo símbolo de poder milenar que ela carregava em sua alma. O jogo havia começado, e as peças estavam se movendo na escuridão.
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