Do outro , na mansão Ashowrth, Mia Recebe a Mensagem.
O celular vibrou sobre a cama, iluminando o quarto escuro com uma luz azulada. Mia, deitada de bruços com um livro aberto nas mãos, esticou o braço para pegar o aparelho. Quando leu a mensagem, seus olhos prateados se estreitaram por um segundo, os lábios se apertando em uma linha fina.
“Me encontre na beira da praia às 18 horas em ponto. Use roupas confortáveis.”
Era típico de Bryan — direto, sem firulas, era uma ordem e não um convite. Ela soltou um suspiro, jogando o livro de lado.
Mia ficou parada diante do espelho, analisando as opções. “Roupas confortáveis”, ele dissera. Ela poderia simplesmente ir com um moletom e calça de treino, mas algo dentro dela — algo teimoso e vaidoso — a fez hesitar.
Pegou um vestido leve, da cor rosa, que balançava suavemente a cada passo. Não era nada demais, mas sabia que o tecido iria capturar a luz das velas de um jeito que faria Bryan engolir seco. Deixou o cabelo solto, apenas prendendo uma parte atrás, uma trança com um grampo simples — o mesmo penteado que ele uma vez disse gostar.
Um último olhar no espelho. “Não é nada demais”, repetiu para si mesma, como se a frase pudesse conter o pulso acelerado.
A noite estava calma quando Mia saiu, o ar carregado do cheiro do mar. A trilha para a praia deserta começava na borda da floresta, e foi ali que ela viu o primeiro pote de vidro.
Dentro, uma vela tremeluzia, lançando sombras dançantes no chão. Ao lado, riscado na areia, duas palavras:
“Por aqui.”
Mia sorriu, apesar de si mesma. Era tão Bryan — prático, mas com um toque que só ela saberia ler.
Ela seguiu, cada passo revelando mais potes de vidro, cada um iluminando o caminho como pequenos faróis. As mensagens na areia continuavam, breves e diretas:
“Continue.”
“Quase lá.”
“Você vai gostar.”
O coração batia mais rápido a cada passo
Mia seguiu o rastro de luz como uma miragem no deserto, cada passo na areia morna afundando mais fundo do que o necessário. O vestido rosa - aquele que sabia que faria os olhos azuis de Bryan escurecerem - colava-se às suas pernas a cada rajada de vento salgado.
“i****a”, pensou, enquanto os dedos ajustavam a trança que prendia parte de seus cabelos prateados. “Por que ainda me importo? Com certeza ele vai me machucar de novo, como sempre”
Mas sabia a resposta.
Sabia no modo como seu pulso acelerava ao avistar o próximo pote de vidro, como seu estômago embrulhava ao decifrar cada palavra riscada na areia.
“Por aqui.”
“Continue.”
“Quase lá.”
Cada mensagem uma facada no orgulho que tentava manter.
Quando a última curva se abriu, revelando a enseada, Mia parou.
Sob um manto de céu noturno, onde as estrelas cintilavam como faróis distantes, Bryan aguardava. O ar fresco da madrugada envolvia seu corpo imóvel, enquanto o tempo parecia desacelerar, suspenso na vastidão azul.
De pé entre velas que lançavam sombras dançantes em seu rosto angular, ele parecia um sonho - ou um pesadelo. A camisa branca, aberta no colarinho, revelava a pele dourada que ela conhecia tão bem. As calças caqui moldavam coxas que já a envolveram em noites muito diferentes desta.
• Você veio - disse ele, a voz mais áspera que o normal.
Mia cruzou os braços, sentindo o tecido do vestido roçar contra os s***s.
• Você chamou.
Bryan engoliu seco, seus olhos percorrendo cada centímetro dela como um homem faminto.
• Está…
• Adequada? - completou Mia, com um sorriso amargo.
Ele fechou os olhos por um segundo, como se lutasse contra si mesmo. Quando os abriu novamente, havia algo neles que fez Mia esquecer como respirar.
• Deslumbrante.
A palavra caiu entre eles como uma declaração de guerra.
Mia avançou, sentindo a areia quente entre os dedos dos pés.
• Então esse é o seu “dia comum”? - perguntou, girando para observar as velas, o tapete de pétalas, a garrafa de vinho resfriando na areia.
Bryan a alcançou em dois passos largos, sua mão quente envolvendo seu pulso.
• Nada sobre nós - ele sussurrou, o hálito quente contra seus lábios - Jamais foi comum.
E quando seus lábios finalmente se encontraram sob a Lua prateada, Mia soube - tanto quanto ele - que essa guerra particular nunca teria um vencedor.
Depois que se sentaram, o rubor após o beijo ainda queimando nas bochechas de Mia, ela se sentiu apreensiva. Havia uma mesa improvisada na areia, como um piquenique elegante: uma mini cascata de chocolate borbulhava suavemente, com frutas ao redor e Bryan serviu o champanhe para os dois com um sorriso frio, calculado.
Então, ele a olhou de uma forma diferente. Mia sentiu o arrepio percorrer a espinha. O olhar dele não era mais brincadeira; havia algo perverso, predatório, deliberado ali. Bryan fez um gesto lento, quase teatral, e falou alto:
— Pode vir, linda.
Mia virou-se rapidamente na direção da voz. Seu coração disparou, e um gosto amargo subiu à garganta. Bryan, com um movimento preciso, tirou algemas de algum lugar que havia escondido e prendeu os pulsos de ambos.
O sangue gelou nas veias de Mia. Ela reconheceu imediatamente quem ele chamava. Nyx Nightfall. A loba com quem ele havia tido transado meses atrás, logo após terminar com Mia. O choque foi instantâneo.
O coração de Mia acelerou descontroladamente, bile subindo na garganta, os olhos marejando. Cada passo de Nyx em direção à mesa parecia uma sentença, uma humilhação planejada com frieza cirúrgica. A raiva, o medo e a incredulidade se misturavam dentro dela, enquanto Bryan observava, imóvel, com o mesmo olhar de quem saboreia cada segundo do tormento dela.
Mia m*l conseguia respirar. A visão de Nyx usando a pulseira que ela mesma havia dado a Bryan mais cedo a fez sentir como se o mundo inteiro tivesse desmoronado. Nyx se sentou do outro lado de Bryan, que não perdeu tempo e a puxou pela cintura de forma íntima.
Mia, do outro lado de Bryan, sentiu o rosto arder. Tentou se afastar, escapar daquele inferno, mas era impossível. Não era um encontro romântico — era uma armadilha cuidadosamente planejada. Seu corpo reagia como se uma bomba tivesse explodido, e tudo ao redor soava apenas como um zumbido distante em seus ouvidos.
— Me deixe ir — conseguiu pronunciar, quase um sussurro, atordoada, os olhos marejados.
Bryan deu um largo sorriso, frio, c***l.
— Ah, não, amor. Você não vai a lugar nenhum. Só tem duas opções: ou participa, ou observa.
Mia o encarou, incrédula.
— Você não pode fazer isso comigo! Não vou aceitar traição, já te disse!
Ela cuspiu as palavras e tentou se levantar, mas ele a segurou pelo pulso e a sentou quase em cima dele de forma brusca. Ela caiu no assento, desajeitada. Bryan riu, um riso gélido:
— Na verdade, amor, eu sou um alfa. Posso fazer o que quiser. Como já disse: ou você participa ou fica só olhando. Mas sair daqui? Não vai.
Ele se virou para Nyx, que observava a cena com deleite, claramente saboreando cada segundo do sofrimento de Mia. Quando tentou beijá-la, Mia puxou a algema com força, a raiva lhe dando energia suficiente para quebrá-la. As lágrimas escorriam, o coração queimando, mas ela não se deixou parar.
De pé, ergueu o braço de Nyx e arrancou a pulseira do pulso dela. Nyx protestou:
— Ai! Isso doeu!
Ainda tremendo, Mia se virou nos calcanhares e tentou sair. Bryan tentou puxá-la de volta, mas ela se esquivou.
— NÃO ENCOSTA EM MIM, SEU ESCROTO! — gritou, lutando para se afastar.
— Pare com essa pose de boa moça. Nos dois sabemos que você não é nenhuma santa! — retrucou ele.
Mia continuou andando, indo em direção ao mar, não à floresta. Chegando à beira da água, lançou a pulseira que havia feito para Bryan, chorando e tremendo de raiva. Ele ainda a seguia:
— Para de pirraça, garota. Resistir não vai adiantar nada.
Ela acelerou o passo em direção à floresta, tentando se desvencilhar dele. Num surto de raiva, empurrou-o no peito:
— Vai se f***r! Me deixa em paz!
Percebendo que ainda não estava perto da saída, Mia simplesmente sentou-se no chão, mãos na cabeça, desnorteada, soluçando:
— Meu Deus… como eu fui burra… — murmurava para si mesma.
Bryan riu, irônico:
— Eu não sabia que você era tão puritana assim. Só queria um ménage. Mas já que não quer, vamos embora, então!
Ele tentou parecer firme, mas nem ele conseguia enganar a própria consciência. O que Bryan queria era machucar Mia; vê-la naquele estado, porém, não lhe trouxe a sensação de prazer que ele buscava.
Mia nem se moveu, , Ele então se virou e saiu de perto dela. Caminhou até Nyx e ordenou:
— Pode ir agora. Já consegui o que queria.
Nyx cruzou os braços, ergueu uma sobrancelha e respondeu, provocante:
— Por que eu vou embora? Ela não foi embora? Vamos ficar aqui nós dois, tá tudo tão lindo...
Sua última frase saiu como um ronronar sedutor. Bryan apenas revirou os olhos:
— Nyx, já falei, pode ir embora. Não teste minha paciência.
Ela fez um bico, mas não teve efeito sobre ele. Relutante, levantou-se e foi embora.
Bryan voltou para Mia, que permanecia na mesma posição: pernas erguidas, cabeça nos joelhos, mãos na cabeça, ainda chorando. O lobo dentro dele se contorceu de raiva e angústia, impotente diante da companheira sendo tratada daquela forma. Respirou fundo:
— Mia... ela já foi. Vamos, levanta daí.
Mia levou um tempo para se acalmar. Levantou-se, passando pelo caminho que ele havia preparado, não para amá-la, mas para humilhá-la. A presença dele atrás dela só intensificava a vergonha.
Antes de entrar na mansão Ashowrth, Mia parou bruscamente e se virou para Bryan, deixando-o sem fôlego. O corpo dela rígido, o coração acelerado como se fogo vivo queimasse em suas veias. As lágrimas escorriam sem controle, mas o ódio nos olhos prateados brilhava como brasas.
Ela o encarou, reta, desafiadora, o queixo erguido, punhos cerrados, cada músculo tenso. A respiração dele se misturava à dela, o vínculo fazendo cada faísca de raiva e desejo percorrer seus corpos.
— Você acha que me quebrou com esse joguinho i****a? — sua voz era baixa, rouca, mas cortante como lâmina.
Devagar, como uma pantera, Mia se aproximou, os olhos em chamas. Cada passo parecia carregar eletricidade pura, o ar entre eles pesado, carregado de tensão.
— Pode despejar todo o seu ódio sobre mim — sussurrou, os lábios comprimidos, a garganta fechando — eu vou continuar aqui. E vou te amar... até você me odiar.
Um riso amargo escapou de seus lábios, enquanto as lágrimas escorriam, iluminando o ódio em seus olhos esbugalhados.
— Você costumava ser sedento por mim — sua voz falhou, entrecortada pela emoção — e agora quer ser livre, não é?
A respiração deles se sincronizou, o vínculo tornando impossível qualquer movimento de Bryan sem sentir cada batida do coração dela, cada faísca de raiva e paixão. Mia continuou, a voz tremendo, mas firme:
— Você não vai me quebrar. Eu vou te amar até doer, até sangrar, até o dia em que eu te odiar. Pode me dar todo o seu ódio... eu nunca vou me render. No final... será você quem vai se curvar. E não importa o quanto fuja, você vai entender, dentro da sua alma, que você não é nada sem mim.
Com isso, ela se virou abruptamente e bateu a porta com força, deixando o ar carregado do vínculo, da raiva e da promessa de que aquela guerra estava apenas começando. Bryan ficou encarando a porta por uns segundos e antes de ir embora pensou:
"Ótimo... agora vou ficar sem t*****r. Belo plano," pensou, dando meia-volta e indo para a própria mansão, que ficava bem ao lado da dela.