CAPÍTULO 5 – Depois do Despertar

2251 Words
Seis meses depois da transformação precoce, Mia e Bryan corriam pela floresta como dois cometas vivos atravessando o dia. Bones e Mika. Dois mitos recém-nascidos. Dois jovens que já eram lendas e ainda nem tinham completado dezoito. As folhas se afastavam com o vento levantado por seus corpos, troncos sendo ultrapassados em velocidade, sombras e luz dançando ao redor dos dois enquanto eles avançavam como flechas. Num salto, Mika encurtou a distância entre eles. Foi então que ele provocou: “Você acha que consegue me alcançar, Luna?” A voz mental de Bryan ecoou grave, zombeteira, cheia daquela autoconfiança irritante que só ele tinha. Mika soltou um rosninho divertido enquanto desviava entre duas árvores. “Com certeza consigo, alfa… eu fui feita pra te alcançar.” O riso dele reverberou pelo vínculo. Um som quente. Masculino. Possessivo. E então o sol abriu uma clareira à frente. Mia acelerou. Saltou. E Bryan veio junto — um borrão cinza gigante atravessando o ar para encontrá-la. Eles se chocaram no espaço como dois jovens deuses brincando de guerra. Rolaram pela grama ensolarada, o cheiro de madeira e terra subindo no ar, até que Bones virou o corpo e prendeu Mika por baixo, a pata enorme firme nos ombros dela. Ele lambeu o focinho dela com provocação lenta, cheia de significado. “Te peguei, Luna.” O mundo pareceu parar. A energia prateada e cinza começou a subir dos corpos lupinos, vibrando… derretendo… transformando… Até que os dois estavam ali humanos é totalmente nus. Bryan sobre Mia. O sol queimando a pele bronzeada dele, o peito firme subindo e descendo rápido. O cabelo loiro despenteado pelo vento. Os olhos azuis iluminados por algo que não era só desejo… Era instinto. Era vínculo. Era fome. E Mia… Mia não era mais a menina de antes. Seu corpo tinha mudado. Curvas mais marcadas. Cintura mais fina. Pele luminosa. Olhos prateados tão intensos que pareciam engolir a luz. Ela era nova. Era selvagem. Era linda como o inferno feito de luar. Bryan sentiu o corpo inteiro apertar com aquilo. — Você acaba comigo … — ele murmurou, sem conseguir esconder o impacto. Mia riu baixinho e puxou o rosto dele para si. O beijo veio sem delicadeza. Quente. Fome pura. Respirações misturadas. As mãos dela subindo pelas costas dele. Os dedos dele apertando sua cintura com força. Os corpos se encaixando como se o mundo sempre os tivesse moldado um para o outro. Mia gemeu — um som pequeno, mas capaz de incendiar qualquer lobo. Bryan respondeu com um rosnado baixo, instintivo, rouco, perigoso. A vibração percorreu o corpo dela inteira. Mia passou a perna por cima dele, aproximando ainda mais os quadris. Bryan encostou a testa na dela, ofegante. — Mia… — a voz dele era um tremor. — Isso… isso tá ficando difícil de controlar… — Eu sei… — ela sussurrou, puxando-o de volta pelo pescoço. — Eu também quero… O beijo recomeçou — mais urgente. Mais profundo. Mais proibido. Até que— – BRYAN! MIA! A voz cortou o ar como uma faca. Os dois congelaram. Bryan praguejou mentalmente antes de olhar para o lado. Ben estava parado na entrada da clareira, braços cruzados, expressão de “meu Deus vocês dois vão me matar do coração”. E ao lado dele… Chloe. Chloe Ashworth-Blackwolf. A irmã mais velha de Mia. A esposa de Ben. A futura Lambda. Com uma sobrancelha arqueada tão alta que parecia tocar o céu. — Seja lá o que vocês estiverem fazendo — Chloe disse, indignada — PAREM AGORA e voltem para o hotel. IMEDIATAMENTE. Bryan rolou os olhos com tanta força que quase viu o próprio cérebro. Mia tentou esconder a risada com a mão. — Fiscais do amor alheio… — Bryan resmungou, e a voz saiu grossa, rouca, carregada do desejo interrompido. — Eu ouvi isso! — Chloe rebateu. Ben apontou para os dois como se estivesse lidando com filhotes. — Vamos. Antes que vocês façam uma besteira que a alcateia inteira vai ouvir. Bryan levantou primeiro, ainda respirando rápido, e estendeu a mão para Mia. Os dedos dela se encaixaram nos dele sem nem pensar. Ela ficou de pé, o rosto ainda corado, o cabelo bagunçado, a boca levemente inchada. Ele olhou pra ela com aquele olhar que dizia vou terminar isso mais tarde. Mia corou mais ainda. Eles seguiram juntos pela trilha. — Bem… — Mia murmurou, sorrindo de canto. — Poderia ter sido pior. — Poderia — Bryan concordou. — Poderia ter sido o meu Pai. Os dois riram. A alcateia estava reunida naquele fim de tarde para celebrar as bodas de Joel e Evy, um evento tradicional e anual. O dia inteiro havia sido festa, dança, música, comida, rituais… E Mia e Bryan? Tinham passado a tarde fugindo para aproveitar tempo a sós. E o problema era simples: quanto mais cresciam… mais difícil ficava ficar longe um do outro. A transformação havia mudado tudo: o corpo, os sentidos, o instinto… e principalmente a intensidade do amor. Um amor que estava deixando de ser doce para virar algo quente, profundo, selvagem. Algo que nem eles sabiam como controlar. A noite chegou e a lua cheia pairava no céu como uma joia prateada, e a festa cintilava sob sua luz. Lanternas penduradas nas árvores iluminavam o jardim da Estalagem Blackwolf com um brilho dourado, música suave preenchia o ar, e risadas ecoavam como pequenas constelações vivas. Mas nada disso importava. Não para Bryan. Porque ela surgiu no topo da escadaria — e o mundo inteiro simplesmente… desapareceu. Mia Ashowrth estava linda demais para ser humana. Vestido rosa bebê, leve e etéreo, caindo sobre o corpo recém-transformado como água cor-de-rosa. Os cabelos prateados caíam em cachos longos pelas costas, cintilando como uma cascata de luar líquido. A maquiagem delicada destacava o brilho natural da pele, o olhar prateado vibrava como estrelas presas em vidro. Ela não entrou na festa. Ela aconteceu na festa. Bryan, parado entre alguns tios da alcateia, sentiu o ar fugir dos pulmões. O coração apertou contra as costelas. Os músculos tencionaram. A marca no abdômen pulsou. O vínculo rugiu. A energia entre eles saltou como um chicote invisível, queimando o ar, puxando-os um para o outro com uma força primitiva e inevitável. Mia sentiu também. Ela procurou por ele — e quando encontrou o olhar azul-oceano atravessando a multidão… o chão desapareceu sob seus pés. Era sempre assim. Era ele. O garoto que era seu lar. Seu alfa. Seu amor. Sua ruína mais doce. Bryan atravessou o salão como quem atravessa um campo de guerra: decidido, focado, guiado por puro instinto. O smoking preto delineava cada músculo que ele havia conquistado desde a transformação; os ombros mais largos, a postura mais forte, o porte de um alfa destinado. Mas nada, absolutamente nada, era mais bonito que a forma como ele a olhava. Como se ela fosse sagrada. Como se fosse feita do próprio céu. Quando Bryan parou diante dela, ninguém respirou. — Se você fosse um pouco menos perfeita, talvez eu conseguisse fingir controle — ele murmurou, a voz baixa, quente, carregada de desejo. Mia sorriu devagar, aquele sorriso que sempre o desmontava. — Não precisa fingir, meu Alfa. Ele tocou a cintura dela com as duas mãos, como quem segura algo precioso demais, e guiou-a para o centro da pista enquanto a música mudava para algo suave, envolvente, quase íntimo. Eles começaram a dançar. E dançar com Bryan era como estar dentro de um sonho perigoso. A mão grande dele subia pela coluna dela com possessividade doce. O rosto deles tão perto que o ar esquentava entre as bocas. Os olhos presos um no outro, famintos. A festa sumiu. O mundo calou. Só restaram eles dois — Mika e Bones. Lua e sombra. Desejo e destino. E a paixão queimando forte demais para ser negada. Mia encostou o nariz no pescoço dele enquanto giravam, e Bryan soltou um suspiro rouco. — Mia… — ele murmurou, apertando a cintura dela de leve. — Você não faz ideia do que me faz sentir. Ela ergueu o rosto e o beijou. Um beijo lento. Profundo. Cheio de promessa e fome contida. O vínculo vibrou como um trovão silencioso. Eles beberam juntos, riram de bobagens, trocaram beijos roubados atrás de colunas, se olharam com tanta intensidade que até o ar tremia ao redor. E Bryan, a cada segundo, se apaixonava de novo. Pela forma como ela falava. Como ela ria. Como ela existia. Ele a amava tanto… mas tanto… que às vezes doía. E naquela noite, especialmente naquela noite, ele percebeu algo com força total: Era o alfa mais sortudo do mundo. Porque sua Luna era linda. Era doce. Era forte. Era divina. E era dele, só dele. — Você está perfeita — Bryan murmurou contra a boca dela, a voz trêmula de emoção. — Eu juro… eu nunca vou me acostumar com você. Mia segurou o rosto dele entre as mãos, os olhos brilhando prateados. — Então não se acostuma — ela sussurrou. — Me ama assim mesmo. E ele amou. Naquela pista. Naquele beijo. Naquele instante. Como se o universo tivesse sido criado só para eles dois. A lua cheia reinava absoluta no céu — redonda, prateada, pulsante. E quando ela alcançou o ponto mais alto, o vínculo entre Mia e Bryan simplesmente… transbordou. Nenhum dos dois conseguiu resistir. Eles escaparam da música, dos risos, das lanternas douradas, das conversas. Subiram as escadas às pressas, tropeçando nos próprios pés, rindo entre beijos que já queimavam demais para serem inocentes. Risos, suspiros, mãos famintas — até caírem dentro do quarto de hóspedes da Estalagem, a porta batendo atrás deles. Sozinhos. Finalmente sozinhos. O vestido rosa deslizou pelo corpo de Mia como seda sendo arrancada. A camisa de Bryan foi aberta com as duas mãos, os botões voando. A respiração deles — entrecortada, urgente, desesperada. Os lábios se encontravam com fome. As mãos exploravam pele. Cada toque acendia faíscas em lugares proibidos, intensos, irresistíveis. Eles eram duas tempestades colidindo. Dois jovens predestinados prestes a cruzar um limite sagrado. Mika e Bones vibravam sob suas peles. Mia nua, entregue. Bryan nu, tremendo de desejo e amor. A voz dele saiu rouca… quebrada… metade homem, metade fera: — Tem… tem certeza, meu amor? Eu não quero te apressar. Mia segurou o rosto dele, os olhos prateados brilhando como um luar líquido. — Bryan… você é meu. E eu sou sua. Eu sempre estive pronta pra você. Ele respirou fundo, o corpo inteiro estremecendo. — Eu não quero te machucar… — Você não vai. Eu confio em você — ela sussurrou, a boca roçando a dele. Isso bastou. O resto do mundo deixou de existir. A lua puxou seus corpos. O vínculo queimou. A paixão os engoliu. E eles se entregaram um ao outro como se o universo tivesse sido criado só para aquele momento. A respiração deles se misturou. Os beijos ficaram mais ansiosos. O ritmo aumentou. Bryan a segurava com reverência e fome ao mesmo tempo. Mia gemia baixinho — um som que enlouquecia ele. E então… Mia ficou quieta. Quietinha demais. Tão quieta que Bryan achou que ela estivesse apenas respirando fundo, perdida no prazer. Mas… o corpo dela não respondia. Não o acompanhava. Não tocava de volta. — Mia…? — ele chamou, ainda suave, achando que ela estava só nervosa. Nada. Bryan franziu o cenho e se afastou um pouco. Ela estava molhada — como deveria. Mas havia algo errado. Muito errado. Húmida demais. A ponto de seus dedos deslizarem de forma estranha. Instintivamente, ele levou a mão aos lençóis. E foi aí que sentiu. Quente. Espesso. Abundante. Ele puxou a mão para olhar. Sangue. Muito sangue. O mundo dele congelou. — Mia? — a voz saiu fina. Irreconhecível. — Mia, por que você… parou? Ele se ergueu sobre ela. E o terror tomou conta do coração dele. O sangue escorria pelas coxas dela. Escorria pelo lençol. Escorria pelas mãos dele. — Por Selene… é sangue demais… — ele arfou. Ele tocou o rosto dela. Os olhos dela estavam fechados. Muito fechados. Muito… quietos. — Mia…? Mia, amor… abre os olhos pra mim — ele suplicou, já tremendo. Nenhuma resposta. Absolutamente nenhuma. O pânico o tomou inteiro. Ele a sacudiu de leve. — Mia… Mia, por favor… tá doendo? Você consegue me ouvir? O sangue continuava descendo. Continuava sujando as mãos dele. Continuava encharcando o colchão. Bryan começou a ofegar. Os olhos se arregalaram num terror puro. Ele encostou dois dedos no pescoço dela. E então… O chão desapareceu. Ele não sentiu nada. Nenhum pulso. Nada. A alma dele desabou inteira. — Não… não, não, não… — a voz falhou. As lágrimas caíram sem ele perceber. O corpo dele tremia tanto que parecia prestes a quebrar. Bryan puxou Mia para os braços, o peito dele sujo de sangue, a respiração em espasmos. — Mia… meu amor… por favor… fala comigo… Fala comigo, minha Luna… Por favor, minha Deusa… por favor, não faz isso comigo… Mas ela não respondia. E então… O desespero tomou forma. A dor encontrou voz. O lobo explodiu dentro dele. Bryan ergueu o rosto para o teto… …e soltou um grito. Um urro. Não humano. Não juvenil. Um rugido gutural de um lobo perdendo o que mais ama no mundo. — MIIIIAAAAAAAAAAAAAAAAA !!!! O grito rasgou cada parede. Atraiu cada lobo da alcateia. Fez árvores tremularem. Fez o chão tremer. Um grito que perfurou a noite. Um grito que atravessou cada coração da alcateia. Um grito que fez até a lua estremecer.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD