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SINOPSE
ISABELLE
Jericho St. James odeia minha família.
Poderoso, rico além da conta, ele é o homem mais perigoso que conheço.
E eu pertenço a ele.
Ele me tirou da minha casa.
Ele vai me fazer sua esposa.
E ele deixou bem claro que vou dormir na cama dele.
Mas minha b***a tem um segredo.
Sua única fraqueza. Uma que torna impossível odiá-lo.
Ele tem uma filha.
E ele fará qualquer coisa para mantê-la segura.
JERICHO
Os Bishop roubaram o que o dinheiro não pode substituir.
Uma vida por uma vida. Agora vou pegar um deles.
Isabelle é meu peão.
Vou fazê-la minha esposa.
Eu vou dormir com ela.
Ela será minha em todos os sentidos.
E uma vez que eu pegue o que preciso dela, vou apagar a família Bishop como se eles nunca tivessem existido.
CAPÍTULO UM
ISABELLE
Um baile de máscaras. O que pode ser mais bonito? Mais perfeito? Especialmente um colocado pela Sociedade.
Buquês de flores se espalham pelas mesas postas com a melhor porcelana. Garçons servem champanhe em taças de cristal e uma orquestra de oito peças toca uma valsa sob o brilho deslumbrante de uma dúzia de candelabros.
É a fantasia de toda garota.
Todas as garotas menos eu.
Fico nas sombras e observo os dançarinos. Homens e mulheres se movem juntos como se tivessem praticado isso durante toda a vida. Gostaria de saber se eles são convidados ou dançarinos profissionais contratados pela The Society para adicionar ao ambiente. Eu não ficaria surpresa se fosse o último, porque eu tenho certeza que eu não parecia com eles quando eu dançava com o fluxo de homens que meu irmão, Carlton, arranjou para mim.
Estremeço ao pensar no meu último parceiro de dança. Um homem com idade suficiente para ser meu avô.
Uma brisa sopra no grande salão barroco quando alguém abre uma janela a poucos metros de mim. A chuva diminuiu para uma garoa e o salão está abafado, mesmo com o ar condicionado ligado no máximo.
Depois de uma rápida olhada para confirmar que Carlton não está olhando, bebo o resto do meu champanhe e coloco a taça vazia em uma mesa próxima. Deslizo silenciosamente em direção à saída e saio pelas portas duplas francesas que estão abertas, apesar da noite úmida.
No pátio, pequenas tendas foram erguidas para proteger os hóspedes da chuva. Eles são decorados com lanternas calorosamente brilhantes e flores demais para contar. Homens e mulheres se reúnem sob as barracas bebendo, fumando seus cigarros e rindo muito alto.
Todo mundo se vira para olhar para mim quando eu passo. É o vestido. É ridículo com sua saia de penas que m*l chega ao meio da coxa e a cintura apertada do top do espartilho que está limitando seriamente meu suprimento de oxigênio. A escolha de Carlton. Mostrar todos os meus melhores atributos aparentemente. Pelo menos a máscara, que comparo a cota de malha, deixa apenas meus olhos à mostra.
A máscara é bonita com suas delicadas correntes de ouro e moedas roçando meus ombros a cada passo. E oferece alguma proteção contra olhos curiosos. O vestido muito revelador que eu poderia prescindir.
Decidindo arriscar na garoa que provavelmente fará as penas do meu vestido murchar, corro para a pequena capela do outro lado do pátio. Ninguém estará lá. Eu sei disso com certeza. Os membros da sociedade podem professar ser religiosos, mas pelo que tenho visto, eles estão seguindo os movimentos. Aparecendo em suas melhores roupas de domingo, cada um superando o outro, pelo menos no que diz respeito à moda.
A porta de madeira é pesada. Ela se abre o suficiente para me deixar entrar. Eu a fecho atrás de mim e dou um suspiro de alívio com a visão familiar, cheiro familiar. Sinto falta de incenso quando estou longe demais e Carlton não é do tipo que vai à igreja.
Gosto especialmente desta capela em particular. Eu venho desde que eu era pequena e minha mãe me trouxe com ela quando ela limpava o complexo. Ainda me lembro de sentar no banco da frente, minhas pernas curtas demais para meus pés tocarem o chão. Lembro-me de como me senti em casa quando ela me sentou aqui para esperá-la enquanto ela fazia seu trabalho.
Eu ando até aquele banco agora, observando as sombras habituais do lugar. A única luz vem de velas acesas nas alcovas das paredes e nas do altar. Quando chego ao centro do corredor, inclino a cabeça, faço o sinal da cruz e me sento . Eu tiro meus sapatos. Os saltos são muito altos e o ajuste muito estreito. Eu toco a escultura familiar no banco. Duas iniciais. CY.
É o mesmo lugar que sempre tomo quando posso chegar aqui. Bem na primeira fila, como se Deus pudesse me ver melhor por isso. Não é que eu peça nada. Eu sei melhor do que isso. Nem é que eu rezo. Eu apenas fecho meus olhos e sinto o silêncio aqui. A absoluta ausência de som.
É melhor do que qualquer baile de máscaras. Melhor do que dançar com cem homens enquanto Carlton negocia um sindicato que beneficiará a família. Acho que não passou pela cabeça dele o que eu quero. Não pense que ele considerou o fato de que, embora possa beneficiar sua “nossa” família, isso já me tirou do curso que eu havia traçado anos atrás.
Mas eu não posso me alongar. Agora não. Eu preciso de um adiamento e esta capela, estes momentos roubados, são isso.
E assim, abro os olhos e levanto o olhar para o altar. Uma das velas normalmente acesas apagou. Eu me pergunto se fiz isso quando entrei. Levanto-me para reacendê-la.
Um rangido na parte de trás da capela me assusta. Eu suspiro, giro ao redor. É mais escuro lá, pouco antes da pia batismal. Quase breu. Eu espio nas sombras, mas não vejo nenhum movimento, não ouço nenhum outro som.
— Tem alguém aí? — Eu pergunto, me sentindo boba quando ninguém responde.
É madeira velha rangendo. Isso é tudo.
Eu me viro, tentando afastar o frio que se apoderou de mim a noite toda. Mas me lembro de que na capela é sempre mais fresco e retomo minha caminhada até o altar. Lá, encontro a caixa de fósforos e risco um. A chama brilha forte e eu tenho que ficar na ponta dos pés para alcançar o pavio da vela alta.
Logo está aceso e estou apagando o fósforo quando o som de risadas do outro lado da porta interrompe a paz deste lugar. Antes que eu perceba, a porta da capela bate contra a parede.
Eu pulo.
Dois homens tropeçam, rindo como eles fazem, um corre para fechar a porta atrás dele. Com eles trazem o fedor de álcool e maconha. No momento em que vejo seus rostos, tenho certeza de que ambos estão chapados. Eu posso ver isso em seus olhos vermelhos, no rubor de sua pele, ouvir isso em sua risada estranha e vertiginosa.
Eu acho que eles têm vinte, vinte e um talvez. Apenas um ou dois anos mais velho que eu. E reconheço um deles. Eu dancei com ele nem uma hora atrás. Embora eu não consiga lembrar o nome dele. Só que eu não gostava dele. Não gostei do jeito que seus dedos acariciaram a pele exposta das minhas costas enquanto ele me girava pela pista de dança.
— Lá está ela. — diz ele, como se me reconhecesse também. Sua máscara é empurrada para o topo de sua cabeça e ele lambe os lábios, permitindo que seu olhar permaneça na curva dos meus s***s acima do corpete do vestido. — Essa é a garota. — ele diz a seu companheiro com um cutucão de seu cotovelo.
Os outros olhos estão fixos em mim, a boca dura, em uma linha feia.
— A menina Bishop. — diz ele. Ambos se aproximam, um parando atrás de mim. — Meio-Bishop. — ele esclarece.
— A metade certa. — diz o outro, os dois riem, embora eu não entenda a piada. — Vamos tirar essa coisa da sua cabeça para que possamos dar uma boa olhada em você. — diz ele, pegando o clipe que segura minha máscara no lugar.
— Acho que não. — digo a ele, saindo de seu alcance, mas ao fazê-lo me encurralo contra o altar.
— Por que não? Eu não faria um acordo com seu irmão sem ter visto. Você nunca sabe, estou certo?
— Eu acho que Manson é quem está fazendo o acordo, mano. — seu amigo diz e faz uma careta.
Ele estende a mão novamente e desta vez, quando ele coloca os dedos no meu cabelo, eu o empurro com as duas mãos, conseguindo empurrá-lo para trás. Ele está desequilibrado porque está drogado e bêbado. Percebo o quanto isso o torna mais perigoso quando seus olhos se estreitam em fendas de raiva enquanto seu amigo ri.
— Com licença, eu preciso voltar. — eu digo, virando-me para escapar, conseguindo dar um passo antes que ele pegue meu braço.
Eu paro, olho para a mão dele e depois para ele. Eu colo um sorriso no meu rosto e me aproximo. Meu coração bate contra o meu peito. Não tenho certeza se estou mais com raiva ou com medo, mas sei de duas coisas.
Primeiro, preciso ficar longe desses dois ou não vai ser um bom presságio para mim. E segundo, não posso mostrar meu medo, não importa o quê. Alguns homens ficam chapados só com isso.
— Meu irmão está a caminho. Ele não vai gostar que você coloque suas mãos em mim. — eu digo.
— Eu não chamaria isso de colocar minhas mãos em você. — diz ele, então se vira para seu amigo. — Você iria?
Seu amigo balança a cabeça. — Não.
— Agora, isso eu chamaria de colocar minhas mãos em você. — diz aquele que me segura, me virando um pouco e batendo na minha b***a com tanta força que eu tropeço para frente. Isso faz os dois homens explodirem em gargalhadas quando seu aperto em volta do meu braço aumenta.
Mas é quando ouço o mesmo som que ouvi antes. Vindo do mesmo canto sombrio. Só que desta vez, não é madeira rangendo.
Algo se move quando olho para o local.
Partículas de poeira dançam a luz de velas, mas os dois que invadiram a capela não percebem a mudança no ar até ouvirmos os passos. Eles se viram e todos nós observamos enquanto a escuridão toma forma e começa a se mover em nossa direção.
Meu coração bate no meu peito e por um momento, não tenho certeza se é homem ou fera pela sombra que projeta. Mas então reconheço o longo manto n***o dos Filhos Soberanos. Ele se espalha ao redor do homem tornando a escuridão que o segue ainda maior, mais assustadora.
Ele é muito alto. De ombros largos demais. Tudo nele é muito escuro, desde o preto sobre preto sob o manto tradicional, até a máscara com chifres que esconde seu rosto, até a fúria dirigida aos homens que me encurralaram.
Ele não se incomoda com as palavras. Ele simplesmente anda em nossa direção, os dois parecendo garotos enquanto ele se aproxima, elevando-se sobre eles em constituição, altura e pura presença. Ele olha apenas momentaneamente para mim antes de seus olhos focarem no que está segurando meu braço. Parece não exigir nenhum esforço para ele tirar a mão do homem de cima de mim. O rosto do meu algoz se contorce de dor quando o estranho mascarado torce o braço atrás das costas. Seu amigo recua um passo, dois antes de correr para a porta.
— Que p***a é essa, cara? — chora aquele que não pode correr. — Solte!
O estranho torce um pouco mais.
— Ela não é sua para quebrar. — ele sussurra, a voz baixa e dura.
Eu processo as palavras, estremeço com a estranha sensação de prenúncio.
Percebo que recuei contra o altar. Estou olhando, boca aberta, coração acelerado. E eu vejo o que a máscara que ele está usando retrata. Algum tipo de b***a com chifres. Um d***o.
Mas é quando ele me fixa com o olhar que algo cai no meu estômago, possivelmente meu coração, porque eu paro de pensar. Paro de respirar.
Eu olho de volta para os olhos mais escuros que eu já vi.
Perigoso.
É o único pensamento que tenho. A única palavra que minha mente pode reunir.
Um de seus olhos é azul meia-noite, o outro é cinza-aço. E seu olhar está cheio de algo tão malévolo, eu sinto como fogo queimando minha carne.
É uma eternidade antes que ele me liberte de seu olhar e simultaneamente empurra o homem bêbado em direção à porta. Um momento depois estou sozinha com o estranho mascarado.
Ele esteve aqui o tempo todo. Sentado nas sombras silenciosamente me observando.
A noite toda eu senti isso. Olhos em mim. A noite toda eu senti aquele calafrio. Estremeço agora porque era ele. Este homem mascarado. Reconheço a sensação, o desconforto. Essa sensação de estar exposta. Sozinha em uma sala cheia de gente.
Minha boca fica seca. Eu pressiono minhas costas no altar, mãos segurando a borda dele.
Seu olhar vagueia sobre mim deixando arrepios em seu rastro. Eu estremeço. Ele deve ver. Deve perceber que estou apavorada. E só quando ele dá um passo para trás meus pulmões são capazes de funcionar novamente. Eu sou capaz de respirar novamente.
— Você não deveria estar aqui sozinha. — diz ele. — Não é seguro para uma mulher sozinha quando há álcool e idiotas por perto.
Eu olho para ele, estupefata.
— Seus sapatos. — diz ele.
— O quê? — Eu pergunto, minha voz um sussurro.
Ele gesticula para baixo e eu olho para meus pés descalços, depois para ele. Aponto para onde os deixei. Ele pega meus sapatos e os carrega de volta para mim. Ele fica um pouco perto demais, muito no meu espaço como se fosse dele, como se pertencesse a ele e eu fosse à invasora.
Eu ainda não consigo me mover.
— Eu não vou comer você. — ele diz com aquela voz baixa e retumbante.
Meu peito estremece com uma respiração profunda. Digo a mim mesma para relaxar. Não é nada. Ele acabou de me salvar. O que eu senti, aquele calafrio, é só minha imaginação.
— Ainda não de qualquer maneira. — diz ele, eu sei que ele está sorrindo por baixo da máscara.
Eu engulo. Estou tremendo.
Ele se inclina para colocar meus sapatos no chão. Eu observo o tamanho dele. Ele é facilmente duas vezes maior que eu. Ele se endireita e estende a mão, palma para cima. Ao longo de seu pulso, vejo o rastejar de uma tatuagem. A cauda de uma serpente.
Eu estou olhando. Leva tudo o que tenho para arrastar meu olhar até o dele.
— Coloque seus sapatos. — diz ele.
Minha garganta está seca demais para falar, para formar palavras ou emitir sons, então coloco minha mão na dele e suspiro com o choque repentino.
Ele fecha seus dedos ao redor dos meus e eu sinto o poder absoluto na palma de sua mão enquanto ele me segura firme. Ele me estuda por um longo momento antes de eu piscar, baixando meu olhar e colocando meus sapatos.
— Bom. — diz ele, eu continuo ali, minha mão presa dentro da dele.
O gongo anuncia o jantar. Eu olho para ele.
Ele deixa seu olhar cair para os meus lábios, depois para baixo, para a curva dos meus s***s. O suor desliza pela minha nuca. Ele solta minha mão e segura as correntes de ouro penduradas na minha máscara como se as pesasse, franzindo as sobrancelhas.
— Isabelle Bishop. — diz ele, olhando para mim novamente.
Ele sabe meu nome. Como ele sabe meu nome?
O gongo soa uma segunda vez. E, depois de longos momentos de silêncio, um terceiro.
Ele dá um passo para trás.
— Volte para a festa, Isabelle Bishop e lembre-se de ficar longe de ambientes escuros. Você nunca sabe quem está esperando.