— Sem problemas. — Eu sorri. Tentei parecer natural e não mostrar a decepção que estou sentindo e, no meu julgamento, eu consegui.
Ele abre a porta do carro para eu entrar, entrando logo em seguida.
— Desculpa não te ter avisado antes. Eu queria ver como você reagiria à surpresa e tinha um paparazzi escondido... Para começar os rumores eu achei que seria uma ótima foto. — Toda a sua fala é sussurrada ao meu ouvido para que o motorista que guia o carro não escute. Imagine-me assim, m*l recuperada do melhor beijo da minha vida, com ele sussurrando ao meu ouvido, e seu perfume inebriando os meus sentidos. Ficou difícil não demonstrar o quanto ele estava me afetando e espero eu ter conseguido disfarçar.
Quando o carro para no local do show, eu me assusto com a quantidade de gente que há fora dele. Inúmeras garotas gritando o seu nome, chorando e algumas até mesmo desmaiando. Tudo bem, ele é lindo, cheiroso, talentoso, simpático e perfeito, mas desmaiar já é demais.
Respiro fundo e me preparo para descer. Rafael me olha com cuidado e me pergunta se eu estou preparada. Assinto afirmamente, mas ele ainda não se convence.
— Tem certeza? Lá fora vai ser complicado.
— Não, eu tô bem. Pode ficar tranquilo.
Mas ele tinha razão. Foi tanta mão pegando em mim, e se a gritaria de dentro do carro era chata, do lado de fora era insuportável, tinha vontade de gritar-lhes para calarem a boca, mas tenho certeza que não me escutariam. A única coisa boa nisso tudo foi a mão do Rafael segurando a minha, seu apoio e a sua demonstração de que estava ali, pelo menos eu não estava sozinha nessa loucura de vida dupla. Pelo menos eu tinha alguém que apesar de ter acabado de conhecer, se mostrava presente e conseguia atrair a minha confiança.
Eu consegui chegar no camarim sem nenhum arranhão e com o cabelo penteado, o que já considero um golpe de sorte. Minha roupa também não parecia estar rasgada, então eu acho que fui bem.
— Você ta bem? — Ele pergunta receoso, assim que conseguimos nos distanciar do volume de pessoas.
— Eu estou sim, mas como você aguenta isso tudo, todos os dias?
Ele sorri, de um jeito moleque e atraente.
— Talvez pareça loucura, mas esse é o meu combustível.
— Tem razão. Isso é loucura.
No camarim dele tem todo o tipo de guloseimas, doces e tortas. A minha boca enche de água quando vejo aquelas delicias. Ele parece que percebe, pois sorri para mim, do mesmo jeito que sorriu antes, como um menino travesso.
— Eu sou viciado em doces. Não como sempre, mas às vezes eu peço para colocarem opções no meu camarim, o pessoal costuma me chamar de formiguinha.
— Também sou louca por doces. A Poly me odeia, por que ela é tão louca por doce quanto eu, mas eu como quilos e não engordo e ela costuma dizer que engorda só de olhar. Pura mentira, se quer a minha opinião.
— Ah, então quando ela receber alta do hospital vou fazer um doce de abacaxi que ela nunca mais vai se esquecer na vida, você vai ver. Sou um mestre na cozinha.
— Sério senhor perfeito? Sabe cantar, encantar, cozinhar... Mais algum talento que eu desconheço? — Pergunto divertida.
— Também sei beijar, mas acho que esse talento você já conheceu.
Ele me lança uma piscadela e eu prefiro desconversar, as lembranças daquele beijo ainda estão frescas demais na minha mente e no meu corpo para ficar citando ele e muito menos fazer piada.
— Ah estou confusa, qual desses eu como? — Apontei para a quantidade absurda de sobremesas na minha frente.
— Um pedaço de cada, não tem erro. — Ele pega uma taça com o que parece um pavê e põe um pouco na boca, fechando os olhos ao ter contado com o doce e deixando escapar um gemido dramático. — Você tem que provar esse pavê de nutela, está divino.
Ele pega um pouco na colher e põe na minha boca, e eu percebo que não foi uma reação exagerada sua, pois sem nem mesmo perceber eu fecho os olhos e deixo um gemido involuntário escapar. Divino não define, com certeza não. Quando abro os meus olhos ele está olhando para mim, de uma forma que não sei decifrar, mas que de repente me dá um calor, e seu sorriso antes moleque, agora ganha um ar safado. Minha cabeça volta pra sua orientação s****l com uma grande e imensa interrogação. Sério? Pra que me provocar tanto assim?
Não dá tempo ficar refletindo porque o empresário dele entra no camarim. Aquele clima sério que sempre o acompanha me tira de meus devaneios instantaneamente.
— Então, se conheceram? — Ele entra e pega um brigadeiro, jogando-o inteiro na boca.
— Com certeza, ela é bem mais bonita pessoalmente. — Rafael se senta e continua a olhar-me, agora de uma maneira diferente, mas igualmente indecifrável, parecia que ele queria me analisar, descobrir o que estou pensando, me deixando ainda mais desconfortável. Ainda bem que ele não pode, porque saberia que pelo menos no momento, os meus pensamentos são dominados por ele.
— Sabia que você ia gostar dela, a personalidade dela é bem parecia com a da Raissa.
Raissa Nero. Eu pareço com ela? Sempre achei que ela deveria ser o tipo patricinha mimada pelo irmão famoso.
— Falando nisso, quando eu apresento a Lara a minha família?
— Você quem decide. Agora se prepara para entrar que a banda de a******a já ta na terceira música.
— O que? Por que não me avisaram antes?
— Porque atrasar o show depois de ter entrado com de mãos dadas com a Lara vai aguçar a imaginação dos abutres.
Ele suspira e n**a com a cabeça, claramente não concordando com a atitude do empresário. Ele vem até mim e me dá um beijo na testa, pegando-me de surpresa com um contato tão carinhoso.
— Eu vou trabalhar agora, e, mais uma vez, desculpa por tudo isso.
Assinto com a cabeça, sem saber qual outra coisa fazer. Ele sai e me deixa com seu empresário. Sento-me em um sofá que tinha ali, e continuo a comer o pavê que estava comendo antes dele chegar. Finjo que não percebo seu olhar em mim, me analisando. Toda essa atenção avaliativa tá fazendo eu me sentir em um seminário da faculdade. Odeio seminário. Mas ele não fica assim por muito tempo, logo começa a falar me obrigando a olhar para ele.
— Então, mudou de opinião a respeito do Rafael?
— Ele parece ser uma pessoa do bem. É diferente do que achei que seria, tenho que concordar.
Volto a minha atenção para o doce delicioso que tem nas minhas mãos, mas ele parece que não entende o recado, pois continua a falar.
— Só cuidado para não se apaixonar garota. — Ele fala e eu desisto e me levanto dali, já dá para ouvir a gritaria das meninas e a voz do Rafael cantando uma das suas músicas.
— Bom, eu também vim aqui assistir um show. E é exatamente isso que vou fazer.
Quando chego na lateral do palco, ele já iniciou outra música. Está sentado num banquinho com um violão no colo, ele ainda não me viu, parece completamente penetrado na canção que dedilha no violão, com os olhos fechados, parece quase angelical. E quando a sua voz de anjo soa no microfone, não há ninguém que não preste atenção naquele lugar lotado.
— Sabe aquele jeito que você sorri? / Como se um arco-íris estivesse sempre ali / Enchendo o mundo inteiro de cor. / Sabe aquele jeito que você olha pra mim? / Como se eu fosse o único homem aqui / Enche o meu peito de amor.
Meus olhos se fecham e sem que eu tenha controle minha boca já está cantando o refrão.
— Foi por isso que me apaixonei por você...
Após terminar de cantar o refrão eu abro os meus olhos e encontro os seus me fitando, novamente aquele sorriso moleque abrilhanta seu rosto, hipnotizando não apenas a mim, mas a qualquer um que ponha os olhos nele.
__________________________________________________
Pois quando te vejo
Uma noite cinza de enche de estrelas
Um dia nublado dá lugar ao sol. – Olha para mim (Rafael Nero)