Gabriel
A manhã começou com um silêncio pesado, como se a própria Rocinha prendesse a respiração. Eu me arrastei até a varanda, apoiando o peso do corpo na bengala improvisada—resquício do ferimento que não permitia pressa. Lá embaixo, o burburinho já tomava conta dos becos: tiros de guerra cederam lugar ao som de vozes, carros e sirenes que anunciavam patrulhas de polícia. Mas um ruído se destacava no meu rádio: uma sequência de chamadas truncadas, códigos que eu já conhecia bem demais. Havia traição entre nós, correntes invisíveis que se fechavam em silêncio. E eu precisava saber até onde as garras do inimigo alcançavam o nosso círculo.
Levantei-me com esforço, sentindo o peso do corpo e da responsabilidade. Cada passo era um sacrifício, mas eu sabia que Carol estava lá fora, escondida
