Carol O relógio marcava quase meia-noite quando deixei o quarto, os passos silenciosos sobre o chão frio da casa que, por fora, parecia um palácio da Rocinha, mas por dentro era só prisão de luxo. A penumbra envolvia os corredores, e o único som era o da minha própria respiração, um sussurro abafado no silêncio opressor. Gabriel dormia, ou pelo menos eu esperava que sim. Sua respiração, irregular e pesada, denunciava o cansaço e a dor que o consumiam. Não só no corpo, marcado pelos recentes confrontos, mas na alma, ferida por cada traição e cada perda que o poder trazia. Desde o último ataque, a paranoia de Gabriel dobrara, transformando-o em uma sombra de si mesmo. Ele vivia à espreita, desconfiando de cada olhar, de cada sussurro. As paredes desta casa, antes testemunhas de um amor pro

