Carol As janelas agora tinham grades. Finas, pintadas de branco para parecerem elegantes, como se enfeites disfarçassem o propósito real: prisão. Mas eu via por entre elas, e era isso que ainda me restava — o mundo em pedaços do lado de fora. A Rocinha seguia pulsando, viva, suja, intensa. Eu via as crianças correndo nas escadarias, os becos se enchendo de vozes ao anoitecer. Eu via a liberdade. E a ausência dela. Era pela janela do banheiro que eu observava mais. Gabriel ainda não havia mandado reforçar ali — talvez por distração, talvez por acreditar que dali não haveria risco. Mas ele se esqueceu de uma coisa: nem tudo que se prende está contido. Naquela noite, enquanto a casa silenciava e o calor me colava ao lençol, tomei uma decisão. Levantei em silêncio, vestindo um moletom vel

