Capítulo 63 : Cicatrizes no Travesseiro

954 Words

Gabriel A madrugada na Rocinha tem cheiro de pólvora, mas também tem cheiro de medo que nunca vai embora. Lá fora, o morro dorme em cacos de vidro e ruas marcadas por tiros — mas dentro da nossa casa, a escuridão teima em permanecer. Encontro Carol no quarto, de costas para mim, encarando a janela. As cortinas tremulam com a brisa que envolve o morro, trazendo ecos distantes de sirenes e de faróis quebrados. Sobre a cama, o travesseiro guarda cicatrizes de um sono interrompido pela guerra. Ela se agarra a ele como se fosse um corpo querido, soluçando baixinho. Eu fico parado na porta, empunhando o copo de café meio frio que trouxe. Cada passo que dou é um passo sobre o vidro dos meus próprios fantasmas. Quem cuida de quem cuida do mundo? Eu, que ordenei tiros, obriguei corações a bater m

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