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Amanda - Parte II

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Amar não é tarefa fácil, nunca foi. Existem percalços, barreiras que se instalam bem no meio do tal conto de fadas, contrário do que se pensam esses desafios nascem de dentro pra fora e não de fora pra dentro. Medo, insegurança, segredos, ambições são o que desmoronam castelos e criam muros, separam pessoas que antes só queria estar juntas.

Antes de se ajustar a dois é preciso se ajustar como um. Cabeça, coração e membros não em sintonia perfeita, mas só ajustados entre si, todas as engrenagens girando de forma efetiva e equilibrada mesmo em meio ao caos. Um ajustado se vê completo e precisam dois ajustados para o amor funcionar.

Não foi fácil amar no primeiro, não vai ser fácil amar no segundo.

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Capítulo 1
A vida é exatamente como esse mar, a imensidão do desconhecido. As ondas batiam nos meus pés e voltavam da onde vieram, elas não se importavam com a minha presença ali, vinham com força e voltavam levando tudo com elas, não se importavam com as rochas que se erguiam na areia, quebravam nelas espalhando água por todo lado, moldavam-nas, esculpiam rochas firmes e milenares com sua insistência. A vida era insistente como as ondas, parecia clara como água, convidativa, fácil. Pessoas são rochas, tão seguras de si, inabaláveis, exibidas tal qual, elevam-se mais alto que podem, mas em cada choque com uma onda perdia, nem notava, mas perdia, algo seu era levado pra ser jogado em outro canto como areia, algo seu era transformado em pó, farelo. As rochas eram moldadas todo o tempo. O oceano era traiçoeiro, podia se apresentar tão pacífico, calmo quando na verdade escondia suas correntes, perigos ocultos, mas ainda assim te desafiava a enfrentá-lo, te exigia coragem, te hipnotizava com sua beleza. Eu não tinha medo. Passo atrás de passo eu dei de encontro a ele, as águas vindo e indo sob meus pés. Eu não tinha medo. Meus pés não tocavam o chão, caminhavam acima dele, eram mais leves que água e só tocavam a sua superfície, quando nada se teme é possível andar sobre as águas e eu nada temia. Segui sem hesitar rumo ao horizonte que nunca chegaria, estava sempre distante de mim, pra lá do alcançável, me vi rodeada por águas profundas, escuras, se recusavam a revelar a mim aquilo que escondiam, seus perigos e mistérios protegidos pela cor turva. Meus pés começaram a afundar. Lentamente a água foi engolindo centímetro por centímetro da minha pele, eu estava sendo consumida pela imensidão, eu continuava andando certa de que voltaria a flutuar, mas a cada passo que eu dava mais eu me afundava. A água já passava das minhas coxas quando meu coração se acelerou ao ponto de senti-lo pulsando em meu cérebro. Eu agitava minhas mãos como se eu pudesse cavar um buraco e tirar minhas pernas dali, tudo em vão. Da cintura pra baixo eu estava submersa e toda a confiança estava afundando comigo. Eu tinha medo. Faltava pouco para água tocar meu rosto, foi quando comecei a gritar, pedi por socorro. Ninguém veio, nada mudou, com exceção do meu corpo cada vez mais e mais submerso. O medo me cegava, tapava meus ouvidos, inutilizava meus sentidos, sem ele, o medo, talvez eu sentisse o quanto a água estava fria, sem ele talvez eu já tivesse sentido o toque estranho nos meus pés. O som dos meus batimentos se tornaram mais altos que o barulho das ondas e eu nem percebi, meus ouvidos só ouviam o Tum Tum causado pela adrenalina nas minhas veias. Perdi a batalha quando a água cobriu o último centímetro do meu corpo, meu grito se tornou borbulhas, meus olhos se acostumavam com a falta de nitidez. Não precisava de muito esforço pra ver que eu estava rodeada de peixes e toda sorte de animais marinhos, eles me olhavam, alguns mais curiosos vinham e beliscavam minha pele, eu sacudia minhas pernas para afastá-los, mas quanto mais eu me mexia mais eles vinham. Eu gritei mais alto, mais borbulhas. Impotente, desesperada, amedrontada e sozinha. Estava à mercê de algo mais poderoso do que eu, mais forte, mais implacável. Quem foi que disse que eu podia brincar com o oceano? Quem foi que disse que eu poderia ganhar? Quem foi que disse que eu era alguém? O oceano era como a vida, te convidava, te balançava, te deixava acreditar que estava no comando, “eu sei nadar” se garantia o t**o e de tocaia o mar esperava, assistia a confiança superar a inteligência pra em um movimento só tragar toda a estupidez humana. “Olha por onde, babaca” era a lição que cuspia aos valentões derrotados, aos arrogantes perdedores que percebiam tarde demais sua ignorância, sua pequenez diante do oceano/vida. Todos afundados, todos comida de peixe assim como eu. ***  Os pesadelos não me deixaram dormir, o cansaço vinha, eu pregava os olhos e os maus sonhos chegavam, com ele os gritos, o suor, até que alguém me sacudia e chamava meu nome, aí vinha o choro. Era minha segunda noite no hotel, a primeira depois de voltar ao trabalho no restaurante, mais uma vez a vida não para pra eu me reerguer. Tremi todo o tempo de medo do Davi aparecer por lá, não estava preparada para um confronto, não depois do que ele fez, não depois do que eu fiz. Mas ele não apareceu e nem me ligou, isso foi como pisar nos meus cacos. O único a ligar foi o Murilo, pra Beca, mas ela se recusa a atendê-lo, nunca a vi tão brava em toda minha vida. Só que eu não culpo o Murilo, eu não culpo a prima dele, eu culpo o Davi. “Uma coisa é o cara pisar na bola comigo, outra coisa é pisar na bola com minha melhor amiga, não tem perdão.” Foi o que ela me disse a respeito dele e tia Vânia, coitada, com o coração na mão sem saber o que fazer com as duas filhas. Em uma semana tínhamos tudo, na outra nada, uma montanha russa impiedosa e c***l. No terceiro dia adoeci, corpo febril, dolorido, doença da mente era meu diagnóstico, doença de tristeza. - Vai passar, minha querida, vai passar. – tia Vânia sussurrava em meus ouvidos, deitada em seu colo em meio aos prantos. Não parei, nem por um segundo eu parei, se o mundo não parava de girar eu também não pararia. Acordava, chorava, lia o material do estágio, chorava, ia para o restaurante, chorava, mas não parei, doía feito ferro quente em lombo de bezerro, mas eu não ia parar. Trabalhei todos os dias da semana como era minha obrigação, coração partido não dava atestado e nem enchia barriga. Confesso que olhava pra porta esperando que ele entrasse ou que ao sair me deparasse com ele parado ao lado do carro como no meu primeiro dia, mas não aconteceu. Na sexta quem me esperava era a Beca com um sorriso no rosto, como todos os outros dias, era o meu exemplo real da amiga que guarda a própria dor no bolso pra cuidar da dor da outra. Beca não falava da sua própria dor, Beca não chorava pelo Murilo, Beca sequer falava sobre o Murilo. E de certa forma a culpa me corria. - Hoje é sexta, acho que a gente devia sair. – ela passava o braço pelos meus ombros. - Nem fudendo. - O coração é de mocinha, mas o linguajar... - Beca, são meia noite, não tenho nem pernas depois de tanto andar de um lado para o outro, eu só quero dormir, desculpa. - Tudo bem, só queria te fazer espairecer um pouco. - Amanda! – a voz que me grita é de um cara loiro escuro parado exatamente atrás de nós e com uma expressão ansiosa. – Beca. – acena a cabeça pra ela. - Eu disse pra você não me procurar, Murilo! – Beca me abraçou com mais força como se quisesse me proteger dele. - Beca, eu sei que você não quer falar comigo, mas eu preciso conversar com a Amanda. - Não, não precisa. – ela me vira voltando ao nosso trajeto. - Amanda, por favor. – eu parei, não sentia raiva do Murilo, pelo contrário, me sentia em dívida com ele, eu sempre soube que ele teve problemas pra aceitar meu envolvimento com o Davi, só nunca ia imaginar que era porque seu melhor amigo vivia dividido entre sua própria prima e eu. Me virei. – Amanda, não vim pedir pra que você perdoe o Davi. – ai! Esse nome era como uma agulhada no meu coração. – Até porque foi difícil pra eu perdoá-lo, então não dá pra cobrar isso de você. Eu só não quero que você tenha a impressão errada dessa situação toda. Davi é um i****a? - É! – Beca respondeu sua pergunta mesmo ela sendo retórica. - ... ninguém pode questionar isso. – ele continuou como se ela não o tivesse interrompido. – Talvez o maior i****a de todos os tempos, mas ele não enganou a Emily, eu jamais me sentaria em uma mesa de jantar com vocês dois se ele tivesse algum compromisso com minha prima. – a Beca trocou o peso das pernas em um movimento que eu interpretei como “hum, vamos ouvir o que esse rapaz tem a dizer”, eu não sabia o que eu sentia. – Ele terminou com ela logo que vocês começaram a se envolver, ele nunca foi muito claro com ela e por mim estava tudo bem, não achava que a Emily merecia saber de tudo. Eles estavam enrolados há muito tempo e já começavam a se assumir, ela estava em outro país e não sabia o que pensar da mudança repentina dele, foi por isso que ela veio e só se apresentou a você daquele jeito porque queria chegar até ele e viajou até aqui de surpresa, nem eu sabia. - Murilo, a única coisa que eu sinto em relação a sua prima é vergonha. - Mas não precisa, Amanda! Eu estou aqui falando exclusivamente por ela, não por ele. Talvez a Emily nutrisse sim, uma esperança de reatar com o Davi, mas porque ela não sabia da sua existência, não sabia do que estava acontecendo aqui e quando soube foi ela que se envergonhou por ter causado toda essa confusão, mas também não foi culpa dela. – ele passou a mão no cabelo, ansioso ainda. – Pra falar a verdade, nem sei se eu posso culpar o Davi por isso, ele errou por não te contar, mas você só aconteceu quando ele pôs um fim no rolo dele com minha prima, nunca ia imaginar que ela ia aparecer por aqui se apresentando por um título que nunca foi dela. Foi difícil pra mim no começo, porque eu não sabia que ele já tinha terminado, ele nunca tinha me dito nada sobre você, então imagina minha surpresa quando entro naquele escritório e vejo vocês dois visivelmente amassados de se pegarem. – olhei para o chão por uns instantes. – Mas eu entendi depois, aceitei, fiquei feliz por ele, por vocês, nunca tinha visto o Davi tão empolgado, tão envolvido com alguém. - Você disse que não veio defendê-lo. – Beca se intrometia de novo, ele apenas olhou para ela, um olhar doído de quem foi largado de lado, e voltou o olhar pra mim. - Não teve uma só pessoa que não foi afetada com toda essa confusão e eu acho muito errado eu ser o único a tentar resolver tudo. – outro olhar fatal para minha amiga. - O Davi pode ser um filho da p**a, mas não estou nem um pouco feliz em vê-lo chorando em posição fetal naquela cama, eu não me importo com a ausência dele na empresa porque eu dou conta de assumir todos os pepinos, mas eu me importo pra c*****o em ver ele sofrendo desse jeito e nessas horas não interessa muito se ele agiu errado ou não, interessa que ele é meu amigo. – e outra olhadela pra Beca que murchou feito flor sem água. – É só isso que vim te dizer, Amanda. Se despediu e foi embora, ficamos as duas com essa bomba na mão. Olhei para minha amiga ao meu lado e pela primeira vez vi a dor estampada em seus olhos, ela sentia a falta dele como eu sentia a do Davi, não dava pra negar. Ela podia estar certa do que estava fazendo, mas vendo o quanto ele estava triste pela atitude dela acho que ela titubeou, doeu um pouquinho nela. E eu, bom, eu ainda me sentia uma peça usada em um jogo muito do mesquinho e egoísta, fui colocada no meio de uma situação complicada e não resolvida porque o i****a do Davi achou que estava tudo bem, a opinião ou a vontade de ninguém mais importava. Estávamos ali paradas olhando para o lugar em que segundos atrás o Murilo fazia seu discurso um tanto quanto perdidas, abracei minha amiga e voltamos a fazer o caminho pro hotel, as duas em silêncio, desejando arduamente chegar logo pro colo mais quente que já existiu.

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