***Enrico***
- Agora foi Enrico, já podemos descansar, só falta entregar a chave do contêiner para o novo proprietário, e eu posso fazer isso no caminho de casa – disse senhor Luigui enquanto víamos o avião de carga levantar voo com o último carregamento de suprimentos que tínhamos aqui na ilha.
- Pois é, Luigui, acabou – solto o ar com força – foi um prazer, meu amigo – com uma mão apoiada em seu ombro, estico a outra para cumprimentá-lo – e é uma pena que não continue conosco no próximo empreendimento, espero encontrar um empreiteiro tão bom quanto o senhor – ele aperta minha mão com um largo sorriso.
- Que isso menino, vocês são excelentes patrões, tenho certeza de que vão encontrar gente muito melhor do que eu – ele balança os ombros – e sabe como é, nasci e cresci nessa ilha, pretendo me aposentar aqui também – me dá dois tapas nas costas – saibam que vocês têm um amigo aqui, sempre que quiserem voltar.
É bem bacana ouvir essas coisas de uma pessoa de fora, ainda mais do Luigui, um senhor com seus mais de sessenta anos e que esteve com a gente desde o início de tudo, e ver aquela aeronave decolando me soa como o encerramento de um ciclo, deu pra viver muita coisa, cresci bastante profissionalmente e fiz bons amigos, vou sentir falta dessa ilha, da vida noturna agitada com o vai e vem de muitas, muitas mulheres bonitas.
Assim que cheguei no meu quarto, tomei um banho e me joguei na cama, mesmo sendo sexta feira eu tô num misto de dever cumprido, nostalgia, ansiedade pelo que temos pela frente e uma certa saudade. Eu e Dominique continuamos nos falando todos os dias, ela ainda não sabe exatamente a data que vem, e isso me deixa estranhamente mais ansioso.
Felipe já me ligou umas trinta vezes, mas tô zero animado pra sair, amanhã é meu último dia aqui, a maioria já foi, Analiz e Thomaz foram pro Caribe para darem início a obra do hotel novo, mas estão de volta ao Brasil, Diana voltou pra casa e está trabalhando diretamente com meu pai, só sobramos eu e Felipe, ele porque tinha umas coisas da outra obra pra terminar e eu porque fiquei pra finalizar a logística reversa.
Amanhã é aniversário do meu irmão e depois de jantar com meus pais, vamos comemorar no antigo pub de sempre, e decido ficar no hotel pra acordar de boa.
Já passei por todos os canais da TV, abertos, fechados, streaming e não tem nada, nenhum filme, programa ou série que eu queira ver, olho meu celular pela milésima vez e nada, nem uma mensagem, uma notificação ou uma chamada de vídeo.
- Quer saber, vou dormir, amanhã eu tenho muito o que fazer antes de ir embora –resmungo apagando a luz e afundando a cara no travesseiro.
- Muita coisa p***a nenhuma, eu só tenho a minha mala pra arrumar – me sento na cama de novo olhando em volta, olho meu celular mais uma vez, e ele continua do mesmo jeito que a sessenta segundos atras.
Sessenta segundos... sorrio ao lembrar daquela morena safada, gostosa que fez o favor de sumir nos últimos dias, ela não sumiu de vez, só diminuiu a o que, um por cento a frequência que fala comigo e compartilha sua vida?
- Que c*****o, Enrico, para de pensar nessa mulher – me jogo na cama de novo com as mãos apertando minha cabeça.
Admiro o teto branco por um tempo, essa garota tá virando a minha cabeça, deve ter feito um feitiço ou coisa assim, só pode, sempre fui eu que sumi, não elas, elas que me ligam, mandam mensagens, correm atrás, mas agora eu tô aqui, igual a um adolescente que tem a cara cheia de espinha me controlando para não ligar pra Dominique pelo simples motivo dela ter me ignorado por quatro dias.
Pego o celular e começo a stalkear suas redes sociais e nada, não encontro nada, a última foto postada tem data de uma semana atrás, e ela estava linda, sentada de lado em uma canga estendida na grama, com um chapéu e óculos escuros no que parece ser uma vinícola, a luminosidade realça cada parte do seu rosto, me perco a admirando por alguns minutos.
- Aaaah, fodaa-sė!
A chamo por vídeo, e a cada toque não atendido me incomoda bastante. Liguei pelo menos três vezes e Dom recusou todas as minhas tentativas, na última ela me manda uma mensagem.
- Não posso atender agora, nos falamos amanhã.
E fica offline de novo.
- Ótimo – falo a mim mesmo – quer saber, não vou ficar aqui a espera dessa maluca não – me levanto da cama e sigo para o banheiro.
- Te encontro no Bigode em meia hora – mando um áudio para o Felipe e recebo um “ok” como resposta.
Tomo um banho, troco de roupa, escovo os dentes, passo perfume e sigo pro boteco mais badalado da ilha, Bianca, a mineira gostosinha estava a minha espera.
***
Acordei com a claridade vinda da varanda, me espreguicei, olho pro lado e a cama está vazia, sorrio de lado lembrando da noite de ontem, foram só alguns beijos e uns amassos.
- Pelo menos não estou de ressaca – falo levantando e indo para o banheiro.
Arrumo minha mala assim que saio do banho e sigo para o hangar, pego o primeiro helicóptero de volta pra casa.
Bianca até que era mesmo gostosinha, não era nenhuma figurinha especial, mas valeu a pena, até que ela tirou Dominique dos meus pensamentos, mas devo dizer que só até hoje de manhã.
Já estou dirigindo pra casa quando resolvo ligar pra Analiz que atende no segundo toque.
- O que tá acontecendo com a sua amiga? – pergunto.
- Oi pra você também, Enrico – ela ri – como assim, o que está acontecendo com ela?
- Dominique anda muito estranha, não me liga mais, quase não me manda mensagem e não fala mais das novidades comigo – paro em um sinal vermelho – ela m*l me responde há quase uma semana, Analiz – posso ouvir as risadas da minha cunhada do outro lado da linha – e por que você está rindo? O que tem de tão engraçado?
- Não é nada, pirralho – Ana tenta se controlar – não tá acontecendo nada, ela só tá do outro lado, agindo como você agiria – solto o ar com força.
- Tá, mas então me diz, onde aquela morena está? O que ela está fazendo de tão importante que me ignora quase que cem por cento? – estaciono o carro na garagem da casa que moro com meus pais, e o carro de nenhum dos dois está aqui, melhor assim, tenho um tempo pra descansar antes do jantar.
Entro em casa com a mochila nas costas, coloco o telefone no viva-voz e sigo para o meu quarto stalkeando de novo aquela gostosa.
- Não sei, Enrico, tem uns dias que só trocamos mensagens e ela não me disse nada – ela faz uma pausa – e mesmo que eu soubesse nerd, se ela não te disse, por que eu diria?
- Ah, Analiz – jogo a mochila de lado, tiro os tênis e me sento na cama ainda mexendo no celular – eu duvido que você não saiba! – Nada, nenhum sinal dela em nenhuma rede social – mas tudo bem cunhadinha, eu vou descobrir – sorrio com uma foto de Dom de biquini, de costas, com aquele r**o redondo empinado. Ana solta o ar com força.
***
Poucas horas depois já estávamos terminando o jantar de aniversário do Thomaz, minha mãe sempre fez questão de comemorar, seja com uma enorme festa ou até um café da manhã em família, dessa vez, por termos pouco tempo, foi só um jantar e combinamos com alguns amigos de nos reunirmos em um camarote fechado do X-Perience Pub.
- Juízo, Enrico Ferraro, não quero nenhuma mulher batendo na minha porta quando você for pro Caribe – minha mãe diz divertida lembrando de uma maluca que eu saí umas duas vezes e depois que eu fui pra ilha, ela descobriu nosso endereço e veio me procurar aqui.
- Relaxa, dona Eva, agora eu tenho me ocupado mais com as turistas, assim não corre o risco de acharem a nossa casa – respondo rindo beijando o topo de sua cabeça e pegando as chaves do meu Lotus Evora GT410.
- Você vai dirigindo, meu filho? – minha mãe questiona – por que não vai com Thomaz? – diz fazendo meu irmão e Analiz pararem na porta.
- Olha bem pra mim, mãe – começo fazendo-a me olhar – eu me pareço com uma vela? – dou uma volta em meus calcanhares a fazendo rir – além do mais, eles podem não vir dormir em casa.
- Nós vamos voltar, nerd – meu irmão fala.
- Que seja – faço uma pequena pausa – eu posso não dormir em casa!
Digo já caminhando para a garagem com o casal logo atrás.
- Vê se não arruma problema, Enrico! – minha mãe diz alto da porta da sala enquanto meu pai se aproximava.
O pub não era longe de casa, e não demorou mais do que meia hora para estarmos todos em um camarote, brindando, Analiz e mais algumas meninas quiseram beber espumante, eu, Thomaz e alguns dos caras optaram por Vodka Beluga, pelo menos a minha ressaca vai ser de leve amanhã.
Já passava de duas da manhã, já tinha uma ruiva gostosa se esfregando em mim, mais uma ou duas taças de espumante pra ela e sairíamos daqui, por mim, já poderíamos ir de uma vez, mas ela disse que queria dançar mais um pouco.
Clara virou de frente pra mim e disse próximo ao meu ouvido.
- Vou ao banheiro, depois prometo que é a última taça pra gente ir embora daqui, gostoso – eu concordei e nos beijamos.
A vejo se afastar em direção ao banheiro, tomo um gole da minha Vodka e escuto uma voz sexy que me faz engasgar.
- Se divertindo, Enrico? – Dominique está ao meu lado tomando um longo gole do que me parece ser gin tônica, pisco algumas vezes pra ter certeza de que não é só a boa e velha alucinação.
- O-o que está fazendo aqui? – ela tira o canudinho da boca e me responde de forma ainda mais sexy.
- Eu disse que viria ao Brasil – bebe mais um pouco e continua – quem é a moça? Bonita – sorri de lado sem mostrar os dentes.
- Ninguém importante – a meço com os olhos, Dom está incrivelmente sexy em um short preto muito justo e curto, o que parece ser um body também justo com um decote profundo e alças grossas que deixam suas costas cobertas apenas pelos longos cabelos castanhos e sandálias bem altas – como veio parar aqui?
- Analiz tinha me dito que iriam comemorar o aniversário do Thomaz aqui – a seguro pela cintura colando seu corpo ao meu e beijo logo abaixo da sua orelha, entre o pescoço e rosto, sinto sua mão em meu peito e ela fala quase que em um sussurro – sua garota pode não gostar – se afasta devagar.
- Ela não é minha garota – a morena sorri.
- Vou falar com a Liz, a gente se vê – ela se aproxima colando seus s***s em mim, beija meu rosto e sai rebolando pelo camarote atrás da amiga, a observo até que suma no meio das pessoas.
- Vamos, gatinho? – Clara para a minha frente e suga meu lábio inferior.
- Ah, é, você já quer ir embora? – pergunto.
- Sim, tô cansada e já está tarde.
- Tudo bem, vou pedir um carro de aplicativo pra você – digo caminhando com ela em direção a saída.
- Você não vai comigo? – me pergunta confusa.
- Hmn, hoje não, gata, é aniversário do meu irmão, vou ficar mais um pouco com ele – pego meu celular no bolso abrindo o aplicativo, a vejo puxar o ar com força e soltar.
- Não precisa, Enrico, vou encontrar minhas amigas na pista – ela me dá um selinho – aproveite a noite – segue em direção a pista de dança.
Nem espero que ela se afaste muito e volto pro camarote pra procurar Dominique.
- Cadê a Dom? – pergunto a Analiz que estava encostada em um banco alto conversando com algumas meninas.
- Não sei, não está com você? – responde e eu balanço a cabeça negativamente.
- Ela disse que vinha te procurar – olho a nossa volta.
- Ela passou por aqui e disse que não demorava, achei que tivesse ido atrás de você – Ana bebe um pouco me olhando.
- Vou ver se eu acho – saio andando a procura daquela morena.
O lugar não é tão grande, mas tem bastante gente porque tinha mais um aniversário rolando. De longe vejo aquelas pernas bem definidas com coxas grossas, o cabelo liso na altura da b***a, ela passa a mão por eles o jogando de lado, tem alguém do lado dela, e a julgar pelo braço peludo a abraçando pelos ombros, tenho certeza que é um homem, me aproximo devagar a observando gargalhar em meio a rodinha a sua volta.