Erika narrando
capítulo 07
- Bora, menina. Hoje é o primeiro dia. Chega atrasada não, que a Iara é mais brava que muita gente armada por aí. Dona Celeste bateu na porta
Levantei num pulo. A ansiedade já ocupava todo o espaço . Já pensando em como eu iria trabalhar , estava com uma camiseta branca simples que ela separou pra mim dormi e disse que lavaria meu vestido , amarrei o cabelo como pude e abri a porta , sentindo o coração bater forte. Ela estava com um sorriso amigável e Varias sacolas na mão .
- D mandou entregar essas coisas que ele comprou pra tu , se ajeita que eu tô terminando o café e tô te esperando lá embaixo.
- Meu Deus .... muito obrigado eu m*l dormi a noite pensando em como eu iria me vestir pra meu primeiro dia de trabalho ....falei emocionada .- Eu prometo que quando eu receber eu pago tudo .
- Fica em paz menina. ela disse com um sorriso carinhoso , e saiu , fechei a porta e coloquei as sacolas em cima da cama fui abrindo uma por uma , tinha algumas peças até estilosa que eu poderia montar propostas lindas .Olha se realmente foi ele quem comprou essas peças ele tem um bom gosto, optei por uma calça jeans clara com botões no tornozelo , uma t-shirts com flores de estampa e um tênis branco , as peças íntimas confesso que senti meu rosto corar ,imaginando ele escolhendo essas peças. Fui pro banho me aprontar , lavei o cabelo e fiz toda a minha higiene, saí do banho sentindo o perfume dos produtos exalando pelo quarto , tem de tudo aqui ,não é as coisas que eu estou acostumada a usar mais eu estou muito grata por tudo que eles estão fazendo por mim , sinceramente eu não esperava que ele fosse comprar roupas pr mim . Me arrumei e desci , o cheirinho de café exalava por toda a casa , quando eu cheguei na cozinha Dona Celeste estava na pia lavando alguns copos, ela percebeu minha presença e olhou pra trás e disse.
- Toma seu café minha filha que eu estou encarregada de te levar lá na Iara e já está quase no horário. assenti com a cabeça e hesitei em perguntar onde ele estava , queria agradecer. Dona Celeste pareceu ler minha mente e antes que eu perguntasse ela falou .- O D já saiu pra resolver as coisas dele , mas acho que no jantar você consegue agradecer ele pelas coisas.
- Sim , sim ... Muito obrigado a senhora também por tudo eu realmente não sei como agradecer de verdade .
- Agradeça com sorriso no rosto e sinceramente é tudo que eu preso menina .
A caminhada foi curta, mas cheia de degraus. A cada esquina, eu via olhares que me mediam , alguns desconfiados, outros curiosos, e uns, sinceramente, perigosos. Mas ninguém se aproximava. O respeito parecia blindar meus passos. Por enquanto.
Dona Celeste me deixou na porta de uma casa de muros descascados e janela com grade torta.
- Bate e entra. Ela tá te esperando. Assenti, respirei fundo e bati duas vezes. Antes mesmo de terminar o segundo toque, uma voz seca veio de dentro.
- Entra logo.Obedeci.
A sala era estreita, com máquinas de costura alinhadas contra a parede, tecidos empilhados em cores que disputavam espaço, e uma mulher sentada no canto, ajeitando um zíper com precisão . Ela não me olhou. Só falou.
- Fecha a porta. Fechei. O barulho pareceu alto demais.
- Sentada pra quê? Vem cá.Me aproximei, tentando não tropeçar nos rolos de linha no chão.
-Você é a moça nova? A protegida do D?
-Sou… Erika. Ela me olhou pela primeira vez. Os olhos escuros, afiados. Mediu cada gesto meu.
- Aqui não tem cafézinho, nem drama. Não é terapia. É trabalho. Se tu quiser ficar, aprende rápido. Se não, a porta é a mesma que entrou. Assenti, sem conseguir esconder o nervosismo.
-Sim, senhora.
- Senhora é tua avó. Eu sou a Iara. Me chama pelo nome, e só fala quando eu perguntar. Ela se levantou e pegou um monte de tecidos dobrados.
- Isso aqui são os kits de embalagem. Tu vai aprender a cortar, dobrar, embalar. Depois a gente vê se tem mão pra máquina.
Me mostrou como fazer com calma, mas sem simpatia. Cada dobra tinha uma ordem. Cada fita tinha um tamanho. Cada pacote era mais que pano , era dinheiro, era confiança.
Eu tentava acompanhar, mas minhas mãos tremiam. Errei a primeira vez. A segunda. Na terceira, ela puxou meu braço com força.
- Tá com medo do pano? Ele não morde, não. Respirei fundo. De novo. Uma, duas, três vezes. A quarta tentativa saiu melhor. A quinta, quase perfeita.
-Melhor. Ainda tá torto, mas melhora.
Ficamos em silêncio por horas. O som da máquina costurando, do ferro assobiando no tecido, das tesouras cortando. E no meio disso tudo, minha cabeça gritava. Será que eu ia dar conta? Será que aguentava aquele lugar? Aquela rotina? Mas então, no meio do barulho, ela falou, sem olhar pra mim.
- Vi muita menina cair porque achou que era princesa no meio da guerra. Tu tem cara de princesa. Mas se quiser ficar viva, aprende a ser soldado.
Olhei pra ela, surpresa. E por algum motivo, aquela frase ficou. Princesa? Talvez um dia. Mas agora, eu era só um caco tentando virar pedra. No fim do dia, minhas mãos estavam cheias de cola, linha e pequenas marcas de agulha. Mas também havia um certo orgulho . Eu não desisti. Não pedi pra ir embora. Não chorei. Quando me despedi, Iara me olhou nos olhos. Pela primeira vez com algo que talvez fosse respeito.
- Se vier amanhã no mesmo horário, te ensino a operar a reta. Mas não vem me atrasar. Assenti. Um sorriso pequeno escapou.
- Obrigada, Iara.
Ela não respondeu. Só voltou pro trabalho. Mas aquilo já era suficiente.
Na volta Dona Celeste me esperava na esquina . As ruas pareciam menos ameaçadoras. Ou talvez eu tivesse mudado um pouco. Um passo por vez. Um dia por vez.
E naquele fim de tarde, com as mãos doendo e a cabeça cheia de pensamentos, eu entendi não era um emprego. Era a prova de fogo. E eu tinha passado na primeira parte.
Já não tremia tanto ao dobrar os tecidos. Meus dedos ainda doíam, mas a memória começava a obedecer. Os movimentos estavam mais firmes, a rotina mais familiar. A Iara não era de elogio longe disso , mas quando ela não reclamava, já era sinal de que eu estava indo bem.
- Hoje tu vai pra máquina. Vamos ver se teu dedo serve pra mais do que esmalte caro.
Ela não disse com sarcasmo. Só com verdade. E, por incrível que pareça, eu entendi o jeito dela. Era direta. Sem curvas. Como o mundo que eu nunca conheci antes, mas agora precisava aprender a viver.
Sentei diante da máquina com o coração na garganta. Iara mostrou rápido, depois mandou eu repetir. E de novo. E outra vez. Eu errei, claro. Mas também acertei. Aos poucos, o medo virou foco.
-Não se perde não. Essa máquina aí sente tua insegurança. Deixa claro o que quer fazer.
Assenti, mordendo o lábio, concentrada. Estava tão imersa naquilo que nem ouvi quando a porta abriu. Só percebi porque Iara parou o que estava fazendo e levantou a cabeça.
- Olha só quem veio ver a princesa costureira.
Me virei devagar, sem saber o que esperar. Ele estava ali. D. Encostado no batente, de braços cruzados, olhar sério como sempre mas tinha algo mais. Uma curiosidade, talvez.
- Tá se virando? ele perguntou, sem entrar.
Eu me levantei num impulso, quase tropeçando no pedal da máquina.
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