capítulo 03

1310 Words
Chefe D narrando capítulo 03 continuação. Fiquei na sala, andando de um lado pro esperando mo cota . Tem coisa demais passando na minha cabeça. Não é normal. Eu nunca deixei qualquer um entrar na minha casa, muito menos uma mulher que eu nem sei o nome. Mas tem alguma coisa nela que me prendeu. Não era só o corpo bonito, o jeito perdido... era o olhar. Aqueles olhos diziam mais do que a boca dela conseguiu falar. Tinha dor, tinha segredo, tinha história m*l contada. Me joguei no sofá, afundando no estofado, e fiquei olhando pro teto como se tivesse alguma resposta. A favela tava viva lá fora, dava pra ouvir os moleque no radinho, as batida de funk misturada distante, o cheiro de café que a tia tava passando na cozinha , e eu ali, encucado com uma desconhecida. Será que é isca? pensei. Algum armadilha jogado no meio da quebrada pra ver se eu escorrego? Mas não faz sentido... tava doente, febril, parecia frágil demais pra missão dessas. Ou talvez era tudo cena. Já vi muito mais bandido bom cair por causa de mulher bonita do que por tiro de polícia. Peguei meu cigarro, acendi e dei uma tragada longa. A fumaça ajudava a pensar. Ou a confundir mais ainda. E se ela tiver fugindo de alguma coisa? outra ideia bateu. Aquelas marcas no braço dela... parecia ter levado um aperto, talvez até tapa. O tipo de coisa que homem covarde faz quando perde o controle. Se for isso, alguém mexeu com a mulher errada. Porque agora, ela tá no meu território. Mas aí o outro lado da minha mente falou . E tu? Vai se apegar por quê, D? Vai fazer o quê com uma patricinha assustada? Tu vive no crime, respira morte, e quer ce preocupadar com quem nem conhece ,nunca fui disso . Cresce, p***a. Me levantei irritado, dei dois passos, parei de novo. Voltei pro sofá. Peguei o celular, olhei o relógio. Nada dela descer. Que c*****o essa mulher tá fazendo? Tentando fugir pela janela? Fui até a cozinha, a tia me olhou de canto de olho, sabia que eu tava incomodado. - Ela tá acordada? perguntou - Tá, mas ainda tá meia assustada. respondi sem tirar os olhos da panela. - Não assusta a garota mais ainda meu filho , ela não tem cara de quem veio te fazer m*l , seja educado . - E inimigo tem cara tia ? que papo e esse ? falei e voltei pra sala. A verdade é que eu tava impaciente. O tipo de impaciência que só bate quando a gente não tem o controle da situação. E eu sempre tive o controle. Sempre. Olhei pra arma em cima da mesinha. Pensei , Será que preciso mesmo disso agora? Será que tô em perigo... ou é outra coisa me deixando assim? Pior que era outra coisa. Era curiosidade. Era aquele maldito olhar dela me perseguindo. Me sentei outra vez, dessa vez mais calmo. Encostei a cabeça no encosto, fechei os olhos. Lembrei da hora que segurei ela antes de cair. Do jeito que tremia, da pele fria, dos lábios entreabertos murmurando coisa sem sentido. Não era cena. Aquilo era real. Dor de verdade. E aí a pergunta martelou de novo quem é você, garota? A porta do quarto rangeu. O som foi suave, mas pra mim pareceu trovão. Levantei sem pressa, e olhei pro alto da escada. Ela tava ali. Ainda vestindo meu moletom, os olhos azuis agora menos vermelhos, mas ainda carregados. Cada passo dela era um desafio. Como se descer aquelas escadas fosse uma guerra. E talvez fosse mesmo. Pra ela e pra mim. Porque no fundo, eu já sabia. A partir do momento que botei essa patricinha dentro da minha casa… minha vida não ia ser mais a mesma. Ela desceu devagar, pisando com cuidado como se cada degrau fosse um teste. E talvez fosse mesmo. A casa tava em silêncio, só o tic tac do relógio na parede marcando o tempo que parecia ter parado quando ela apareceu. Os olhos dela me encontraram por um segundo, e depois desviaram. Ainda tava com medo, mas dava pra ver que tava tentando se manter firme. Fingindo coragem, do jeito que muita gente faz por aqui , a diferença é que nela tinha algo verdadeiro por trás da máscara. - Tá melhor? perguntei, tentando manter a voz neutra. Ela assentiu, sem falar. Andou até o sofá e sentou na beiradinha, como quem não quer ficar confortável demais. Manteve o moletom apertado no corpo e os olhos no chão. - Pode falar, não mordo ja disse . Soltei tentando quebrar o gelo, mas ela nem sorriu. Esperei alguns segundos e depois fui direto- Quem é você? Ela demorou. Respirou fundo, ajeitou o moletom de novo e só então respondeu -Meu nome é Erika Pradella .Sobrenome de gente rica, mesmo. Soava como alguém que estudou em colégio particular, fez intercâmbio e tinha conta em banco com sobrenome. - E o que uma Praella tava fazendo descalça, encharcada, no meio da Rocinha, no meio da p***a da chuva? Ela fechou os olhos, mordeu o lábio. Tava segurando alguma coisa. - Eu... fui expulsa, fugi ... - Fugiu de quem? me inclinei pra frente, sentindo o clima mudar. - Da minha casa , do meu ex noivo. a voz dela quase quebrou. - Ele… ele me traiu com a minha melhor amiga ... E meus pais minha família queria me força a casar com ele . Fiquei em silêncio por um segundo. Só encarei. A voz dela não tremeu por drama. Tremia de verdade. Aquilo era trauma fresco, recente. - E por que eles fariam isso. Ela levantou os olhos e me olhou pela primeira vez com firmeza. - Por negócios. Ganância. Pronto, Sabia que vinha merda. Mas não falei nada. Só levantei, fui até a cozinha, servi dois cafés e voltei. Entreguei o dela, que ela pegou com as duas mãos trêmulas. - Quem é seu ex noivo ?perguntei, me sentando de novo. Ela hesitou. - Ele é o filho do governador. a respiração dela tava descompassada, os olhos cheios d’água, mas ela não chorava. Trinquei o maxilar sentindo o gosto amargo de ouvir sobre essa família. - E por que veio parar aqui? Justo aqui? -Não sabia pra onde ir. Só fui caminhando sem rumo . Ela me olhou de novo, como quem pedia desculpa por estar viva. Dei um gole no café, pensando em tudo. Aquela mulher não era só problema. Era encrenca de alto nível. Se tudo que ela disse for verdade, tem tubarão grande envolvido. Mas aí veio outra parte de mim. Aquela que viveu a vida inteira cercado de injustiça. Que viu mulher ser morta porque gritou, criança morrer porque viu demais, e homem subir o morro pedindo ajuda que ninguém deu. Essa parte falou mais alto. - Tu não volta pra esse cara . falei firme. -Aqui, ninguém vai te tocar. Ela me encarou, os olhos brilhando. - Eu só preciso de um teto , eu juro que se me ajudar , eu posso trabalhar, eu vou arrumar um emprego eu não ligo pode ser de qualquer coisa eu só não posso voltar pra casa , eles querem me força a voltar pra ele , eu não vou me casar por conveniência. - Eu posso te ajudar , Mas ce tu tiver mentindo eu te mato , se tiver de troia pro meu lado eu arranco tua cabeça e mando na bandeja . E eu não vou arriscar os meus por alguém que acabou de chegar no meu morro . Ela respirou fundo, assentiu com a cabeça e disse. - Eu juro que tô falando a verdade .Olhei bem pra ela. Sabia que a vida dela nunca mais ia ser a mesma. A minha também não. Comentem meus amores .... começamos
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