Narrado por Catarina
Contrariando todas as possibilidades, eu acabei contratada. Nunca imaginei que isso pudesse acontecer, pois a minha entrevista foi um fiasco. Eu fiquei tão nervosa, que parecia um desastre ambulante. Derrubei a caneta, caí da cadeira e amassei meu currículo. Eu tinha certeza que eles iam me escorraçar dali, imaginando o que eu faria com os equipamentos novinhos deles. E se eu não tinha capacidade de me sentar de forma correta, imagina eu puncionando uma veia?
Mas quando encarei os meus entrevistadores, eram três, eles estavam sorrindo divertidos! Achei que estavam gozando da minha cara. Mas o senhor Mamioto apenas disse: está contratada. O RH vai entrar em contato.
Minha família e eu saímos para jantar e comemorar a conquista, e eu dava graças a Deus que não teria que ver aquele homem de novo, que me deixava nervosa e com sensações que eu desconhecia!
Eu sempre fui a nerd rodeada de crianças. Garotos não eram uma prioridade em minha vida. Eu tinha um melhor amigo, Inácio. A gente tinha um acordo: se chegássemos aos 30 anos solteiros, a gente ia casar! Eu estava seguindo o roteiro muito bem, ele pegava todas as meninas que passavam pelo caminho. Eu dei uns beijos na boca, mas nunca namorei. Então minha mãe nunca se preocupou em ter A conversa comigo!
Apesar de conhecer toda a parte técnica da coisa, eu queria entender porque me senti assim com um homem que não conhecia e nem gostava da raça! Pensei em perguntar pro Inácio, mas vai que ele quisesse me mostrar e estragar nossa amizade! Enquanto estava colocando meu avental para meu primeiro dia de trabalho, meu telefone tocou uma mensagem: era Lorena perguntando se a gente podia conversar depois do expediente. Ela passaria na clínica pra gente voltar pra casa juntas conversando. Respondi que sim e guardei o telefone. A enfermeira chefe estava entrando. Enquanto ela aguardava todos se preparar para a reunião, observei meus colegas de trabalho. Os poucos que não eram orientais, eram morenos. Não entendi o padrão, principalmente porque eu era a única loira entre todos os funcionários da clínica, inclusive da recepção!
Ouvi tudo o que aquela mulher linda estava falando. O cabelo dela bem preso em um coque dentro da redinha azul marinho, mostrava que era bem cumprido pela grossura do coque. O uniforme dela era diferente do nosso. A gente usava tudo branco: uma camiseta de algodão, uma calça de linho branca e jaleco. Ela usava uma calça de linho branca, uma camiseta de algodão branca com as mangas azul marinho e colete azul marinho. Nossas redinhas também eram pretas, diferente da dela azul marinho. Nossas sapatilhas eram brancas e as dela azul marinho. Tudo fornecido pela empresa, inclusive as sapatilhas. Recebemos 5 conjuntos e duas sapatilhas. Não sei quanto a senhora chefe recebeu. Marielle ficava extremamente elegante naquele uniforme. Pelo fato de ela usar colete e não o jaleco que escondia nossas formas, dava pra perceber que ela tinha um traseiro avantajado, e s***s fartos!
Senti uma certa invejinha dela! Devia ter uns 28 anos, usava um perfume gostoso, que gritava riqueza. Pra chegar no nível dela, eu precisaria de mais seis anos e meio de estudos. E ser linda como ela acho que nunca!
Depois que ela encerrou a reunião, as pessoas debandaram e ouvi ela falando com um técnico em enfermagem:
— Ouvi dizer que ele vem aqui pra ver como está o funcionamento.
— Como você tem acesso a essas informações?
— Ser filha de vice presidente tem suas vantagens, bebê!
— Como conseguir o melhor cargo da clínica depois dos médicos.
— Ah, cala a boca! você está como técnico, não está? Só tinha uma vaga para enfermeiro, e você sabia que era minha desde o começo!
— Mesmo como técnico, o salário ainda é melhor do que como enfermeiro no nosso último serviço! Só por isso aceitei ser rebaixado!
— Ah, claro! Além do salário e benefícios melhores, o fato de ser no horário comercial, sem plantões puxados de 12 horas, não trabalhar de final de semana e nem à noite, não contou não né?
— Claro que contou, e também uma equipe altamente qualificada, com pessoas extremamente experientes. Não vou ter que trabalhar com nenhum idiotä, de quem vou ter que ficar limpando a bagunça!
— Ah, não sei! Tem um nome entre a equipe que eu não conheço, vou checar durante o dia, depois eu te conto!
Tenho certeza que eles não me viram. Então saí dali o mais rápido e silenciosamente possível. Tinha certeza que estavam falando de mim, que não tinha experiência nenhuma! Fiz minha oração antes de começar o plantão, pedindo a Deus para não fazer nada errado e não acabar na mira daqueles dois. De repente, ela não me parecia mais tão bonita! Arrogante e precisou da indicação do paizinho pra entrar lá. Como todo riquinho, ela me irritava. Na verdade, acho que ela me irritava mais. Porque pelo menos os filhinhos de papai herdeiros tinham alguma coisa! Ela só era filha de funcionário. De alto escalão, com certeza, mas ainda assim funcionário, dono de nada, e mesmo assim ela falava com a arrogância dos filhinhos de papai herdeiros. Asco!
Enfim, assumi meu plantão e estava em meu posto quando a clínica abriu, as 7:30 da manhã. Quanto trabalho até a hora do almoço, meu Deus! Éramos duas auxiliares, e revesavamos os intervalos. Nosso horário era das 7 às 18, com meia hora de intervalo da manhã, meia hora de intervalo a tarde e uma hora e meia de almoço. Mas como éramos auxiliares, tecnicamente na base da cadeia alimentar, tínhamos que esperar os nossos superiores tirar seus intervalos para depois nós, uma de cada vez. A escala que a Mariele fez, dava pra uma auxiliar pegar dez minutos de um técnico e a outra dez minutos de outro, mas nunca podíamos sair juntas porque éramos as duas únicas "escravas". Éramos nós quem fazíamos todo o serviço pesado!
Eu nem ligava, porque assim a hora passava rápido e eu poderia ir embora logo. Nunca pensei que meu primeiro dia pudesse ser mais puxado do que quando atendia no Mac!
Por volta do meio dia, Marielle reuniu nós duas e disse pra decidir entre nós quem ia sair primeiro para o almoço. Natasha perguntou se eu me importava de deixar ela ir primeiro, pois era diabética e tinha hora pra comer. Permiti tranquilamente. Depois que almocei, assumi plantão que parecia mais calmo, quando Mariele me disse que recebeu ordem para eu ir para a sala de exames que tinha um paciente me esperando, pra eu triar antes de mandar para o médico. Meu primeiro paciente! Durante toda a manhã, nós duas só corremos de um lado pro outro com papéis, limpamos as salas, chamamos paciente, fizemos reposição de material para os exames dos técnicos!
Entrei na sala com um enorme sorriso para meu primeiro paciente, que murchou na mesma hora quando vi o grande CEO Mamioto sentado na cadeira me aguardando. Minhas mãos começaram a tremer e entendi quem eles disseram que viria pra checar o andamento, e eu sabia que ia ser demitida no meu primeiro dia de trabalho!