A chuva chegou naquela madrugada como um presságio.
Gotas pesadas batiam nas janelas da mansão Jung, acompanhadas por trovões que rompiam o silêncio da madrugada. Cassie estava acordada, sentada na beirada da cama com o celular em mãos. A audição havia acontecido dois dias antes, e desde então, ela vivia em um limbo entre ansiedade e esperança.
O som de uma notificação fez seu coração acelerar.
Ela abriu o e-mail com mãos trêmulas, lendo cada palavra duas vezes para ter certeza de que entendia corretamente.
> "Parabéns! Você foi selecionada para integrar o Grupo Experimental de Dança da Universidade. O talento e a entrega demonstrados em sua audição foram notáveis. Esperamos contar com sua presença no ensaio inaugural, nesta sexta-feira."
Cassie soltou um riso baixo, incrédula. O coração parecia prestes a explodir no peito.
Ela queria gritar, dançar, correr pela casa.
Mas havia apenas o silêncio da madrugada e o som da tempestade lá fora.
Vestiu um moletom leve, desceu as escadas pé ante pé e foi até a varanda da casa. A chuva caía com força no jardim, mas o ar úmido parecia mais leve naquela noite.
— Não conseguiu dormir também?
A voz de Hoseok soou atrás dela.
Cassie se virou, o coração ainda acelerado. Ele estava com uma manta nos ombros, uma xícara de chá nas mãos e os olhos semicerrados de sono.
— Acabei de receber a resposta da audição — ela disse, com um sorriso que m*l conseguia esconder. — Eu entrei.
Hoseok se aproximou devagar, parando ao lado dela sob o pequeno telhado da varanda.
— Eu sabia que ia acontecer. Você nasceu pra isso.
Cassie olhou para ele. O sorriso no rosto dela era de verdade, diferente de todos os que ela usava para esconder a dor.
— Você sempre tem certeza de tudo?
— Não. Mas com você... é difícil duvidar.
Houve um silêncio carregado. O som da chuva preencheu o espaço entre os dois. E então, Hoseok se virou levemente, olhando direto nos olhos dela.
— Você não quer fugir de mim, quer?
A pergunta a pegou desprevenida.
— O quê?
— Eu tô tentando me aproximar. Sei que você tá ferida. Sei que alguém já quebrou sua confiança. Mas... será que eu não posso ser diferente?
Cassie sentiu o estômago revirar. Ela queria acreditar. Queria se jogar naquele sentimento que crescia entre eles como uma faísca prestes a virar incêndio. Mas algo dentro dela ainda gritava: Não se entrega. Vai doer.
— Eu... eu não sei — respondeu por fim. — Eu tô aprendendo a viver sem olhar pra trás. Ainda é tudo muito novo.
Hoseok assentiu, compreensivo.
— Tudo bem. Eu espero. Mas não foge.
Ela o olhou por um momento longo. E então, sem pensar demais, se aproximou e encostou a testa no ombro dele.
Foi um gesto pequeno, silencioso, mas tão íntimo quanto um beijo.
Hoseok envolveu os braços ao redor dela, devagar. Ficaram assim por minutos, ouvindo a chuva, sentindo o calor um do outro, como se naquele instante, o mundo lá fora tivesse deixado de importar.
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Dois dias depois...
O clima na universidade era de tensão.
Cassie começava seus ensaios com o novo grupo de dança, onde conheceu novos colegas — entre eles, Min Yoongi, o assistente do coreógrafo, um cara reservado, de voz baixa, mas olhar afiado. Desde o primeiro contato, Yoongi demonstrou interesse por Cassie — não de forma explícita, mas havia algo nos olhares dele, nos elogios discretos, nos pequenos sorrisos que entregavam mais do que ele dizia.
E Hoseok notou.
Não gostou.
Depois do ensaio, Cassie saiu do estúdio rindo de algo que Yoongi havia dito. Hoseok a esperava do lado de fora. Estava encostado no carro, braços cruzados, semblante fechado.
— Quem era aquele? — perguntou, seco.
— Um dos assistentes do grupo — respondeu, arqueando uma sobrancelha. — Por quê?
— Ele tava rindo demais.
Cassie bufou, descrente.
— Sério? A gente m*l tá se conhecendo, Hoseok, e você já quer escolher com quem eu posso rir?
Ele se aproximou, o olhar firme.
— Não é isso. É que... d***a, Cassie, eu me importo com você. Talvez mais do que deveria. E ver outro cara tentando se aproximar de você me incomoda. Me faz sentir... vulnerável.
Ela ficou em silêncio por alguns segundos. E então se aproximou, os olhos brilhando com raiva contida.
— Você quer que eu confie em você, mas tá agindo igualzinho aos caras que querem controlar. Não faz isso comigo. Não agora.
Ele engoliu em seco, os olhos cheios de frustração.
— Eu só tô com medo de te perder antes mesmo de te ter.
Cassie o olhou fundo nos olhos. E, antes que ele dissesse mais alguma coisa, ela passou por ele.
— Me encontra quando souber lidar com o que sente sem tentar me amarrar.
E entrou na mansão, deixando Hoseok sozinho, parado sob o vento frio da noite.