Narrado por Miguel Santana O alojamento tava meio apagado. Luz fraca, cheiro de desinfetante barato e suor seco. Os beliches alinhados, os coletes pendurados nas cabeceiras, o barulho dos ventiladores quebrados tentando enganar o calor. Era o tipo de silêncio que o corpo agradece e a mente rejeita. Todo mundo fingia descansar, mas ninguém dormia de verdade. O som do rádio do corredor, o estalo do metal, o farfalhar das botas. Aqui dentro, até o descanso tem disciplina. Eu tava sentado na cama, colete aberto, fuzil desmontado no colo. Passava o pano no cano pela décima vez, mais por hábito do que por necessidade. O movimento repetitivo ajuda a mente a não pensar. Mas o pensamento sempre acha um jeito de voltar. Touro tava deitado na cama de baixo, mexendo no celular e rindo de a

