📓 NARRADO POR MIGUEL SANTANA
O sol já queimava o cimento e o ar cheirava a óleo de motor, fumaça e impaciência.
O Cruzeiro tava vivo, barulhento moto subindo, criança rindo, mulher brigando na venda.
Mas o Touro…
O Touro vinha subindo a ladeira parecendo que tinha saído de uma guerra.
Camisa aberta, boné torto, olheira de três dias e o cigarro pendendo do canto da boca.
Cada passo dele era um palavrão não dito.
A cara de quem dormiu m*l e sonhou pior.
— “Tu tá parecendo um cadáver ambulante.” — falei, sem tirar o olho da vista da laje.
Ele bufou, largando a mochila no chão.
— “E tu tá parecendo minha ex. Já chega falando merda.”
Soltei um meio sorriso.
— “Relaxa. Só vim te dar um presente.”
— “Se for bala, recuso.” — respondeu, acendendo outro cigarro.
— “Melhor.” — falei. —
