3. Borboletas

1755 Words
As borboletas ficaram ainda mais agitadas, soltei o copo e enrolei os braços no seu pescoço, parecia que só existia nós dois, naquele momento... - Desculpa, me lembrei quando era garoto, e levava enquadro quase que diariamente, hoje em dia isso não acontece mais, eu pago bem, e eles me deixam em paz!... você com certeza nunca levou um enquadro! - Claro que já.... não, nunca me aconteceu, mas seria uma experiência diferente – Eu disse rindo. Reparei no cabelo liso dele grudando na testa, de tanto calor, e o olhar provocativo, mordendo o lábio ao me olhar... arrepiei, como ele era gostoso! - Você é linda ruiva, pena que nunca vai ser minha... acho que nem vou viver tanto pra aproveitar uma vida com você... Essa fala veio acompanhada de um olhar levemente amargurado... e um sorriso triste. Lembrei quem era o caio, e sim, nós nunca poderíamos ter nada... isso é fora de cogitação, e nem sei porque pensei nisso. Meu noivo é o homem perfeito, inteligente, honesto, rico... e tão lindo quanto o caio. Mas aquele beijo tinha mexido comigo de uma forma completamente inesperada e nova, não sei se o caio sentia o mesmo, meu pensamento foi interrompido pelo som do celular dele tocando. - Fala memo! – Enquanto escutava a pessoa do outro lado a expressão do caio, se transformou, os olhos perderam o brilho, parecia uma versão sombria.. sem alma. -Pode passar o cerol! – E desligou Me arrepiei, eu entendi certo ¿ele tinha acabado de dar permissão pra m***r uma pessoa? - Caio você.. - Vamos lá pra dentro ruivinha, tem certas coisas que você não entenderia Ele parecia tranquilo de novo. - Onde vocês estavam, sumiram do nada – Disse a minha prima de forma exagerada. - A gente só foi tomar um ar irmãzinha, relaxa que a ruivinha está em boas mãos! O caio exalava uma segurança, que transmitia a sensação de que sim, eu estava segura ao lado dele, e essa idéia me excitava, eu estava com uma excitação imensa! Inconscientemente eu sempre me vi buscando um porto seguro, p******o. Nas sessões de terapia esse comportamento foi explicado pela ausência paterna na primeira infância. O Cláudio entrou na nossa vida quando eu completei oito anos, mas nunca o tive como um pai, os filhos do Cláudio já eram adultos, então acho que ele nunca teve paciência para assumir papel de pai na minha vida. Apesar de sempre ser atencioso, e carinhoso ao longo desses anos. O Leonardo era três anos mais velho do que eu, e desde o início cuidou de mim, eu era o que chamam de namorada ‘troféu’, bonita, magra, inteligente e rica. Busquei nele p******o, segurança, mas o Leo sempre foi muito protegido pelo pai, pela mãe... o que o fragilizava como homem aos meus olhos. Agora o caio, transmitia uma segurança inexplicável, ele era perigoso,temido, e ao mesmo tempo conseguia ser cheio de vida. - Vocês vão me odiar se eu for embora agora¿ - disse a lívia, segurando na mão do garoto enfeitiçado com um olhar pedinte. Caio revirou os olhos, e deu um olhar frio para o garoto, enquanto tragava o cigarro. Dei um abraço nela, e pedi que se cuidasse. - Eu sempre me cuido, vocês dois cuidem um do outro, amo vocês - e saiu dançando com um copo quase vazio nas mãos. Eu e o caio ficamos em uma mesa tomando cerveja, e comendo petiscos bem diferentes do que eu estava acostumada, mas com um sabor mil vezes melhor! - Gente que delicia!!! Uma coisa tão boa assim deve deixar a gente barriguda! - Você tem cara de que só come salada! – Disse o caio, enquanto digitava uma mensagem no celular. - Queria dizer que não, mais eu como muito pouco mesmo, minha mãe sempre teve essa neura com se manter magra.. eu acabei seguindo os passos dela, malho, faço pilates, e como pouquíssimo -Nem parecia quando você devorou aqueles quatro pedaços de pizza- ele disse rindo Eu corei, realmente eu tinha comido muito no jantar. - Esse verão eu quero ser uma pessoa diferente, aproveitar o que eu nunca aproveitei.. fazer o que eu nunca fiz! – Me justifiquei envergonhada. Caio me olhou com desejos nos olhos. Não sei se era o excesso de bebida, mas eu estava com cada vez mais desejo de tocar no caio, beijar, sentir.... Era melhor evitar esses pensamentos, poderia me trazer graves consequências.. - Quero ver isso de perto, passar o verão todo com você! – Ele disse com olhar provocador. Me arrepiei.. - A gente só ta falando de mim... fala um pouco de você! – Eu disse tentando quebrar o clima. - Não tenho muito o que falar...eu que mando por aqui, tenho tudo o que eu quero, tenho um pai incrível, minha mãe é uma v***a que vendeu meu irmão, e sei que não vou viver muito, por isso a meta é viver bem! – Ele disse, fazendo um brinde simbólico no final. - Me conta essa historia direito, como assim vendeu o seu irmão? - Eu tive, tenho sei lá um irmão gêmeo. No hospital uma enfermeira ofereceu uma grana preta pra comprar um dos bebes, pra vender pra gente rica, morô ! Ela vendeu o meu irmão, poderia ter sido eu, ela venderia qualquer um de nós... - ele ficou novamente com aquele olhar sombrio...- ela tentou dizer que um dos bebes tinha morrido, mas meu pai descobriu, a enfermeira acabou abrindo o bico. Mas não dava pra achar o meu irmão, tinham levado ele pra fora do Brasil, a enfermeira disse que nunca mais meu pai teria o filho de volta... que não adiantava nem chamar policia. Meu pai disse então que ficaria comigo, e nunca mais queria ver minha mãe novamente, e foi o que ele fez. - Que loucura essa historia caio, você nunca mais teve contato com a sua mãe¿ - Ela já me procurou, mas eu a ignorei, não quero ela próximo de mim, a única coisa que eu quero é um dia reencontrar meu irmão. Vou ganhar muito, mas muito dinheiro e vou sair por esse mundão ai a fora, e vou achar meu irmão, ele ta vivo, eu sei disso. – Disse ele com o olhar vago. Era impossível ignorar a semelhança entre o caio e o Leonardo, e mil coisas começaram a passar pela minha cabeça ‘E se...’, não não era possível, o Leo nunca morou fora do pais, mas e se a enfermeira estivesse mentindo e o bebe nunca tenha saído do pais.. – Fiquei pensando. - Você ta bem¿ não precisa se preocupar só tô te contando a minha historia, eu não sofro mais por isso, eu tenho meu pai, e um dia vou ter meu irmão de volta também. - Tenho certeza disso! - Hoje eu só quero me divertir, tem uma missão amanhã que talvez seja a ultima - e sorriu tristemente.. – não comenta nada em casa, não quero preocupar ninguém, é arriscado, mas uma grana dessa eu me aposento! Senti um aperto no peito, meu verão poderia acabar mesmo antes de começar se algo acontecesse com o caio. - Se você ta com esse sentimento r**m não é melhor não ir – Eu disse com cautela - Eu vou dei minha palavra e palavra de homem não faz curva! Um cara chegou interrompendo o clima tenso e entregou um bolo de dinheiro pro caio, que colocou displicentemente em cima da mesa do bar, então peguei e com um sorriso guardei na bolsa, o caio me devolveu um sorriso lindo, cheio de promessas, todos continuavam olhando e pensando, ‘ Quem é essa ruiva, com o chefe do morro?' Na volta pra casa, fumamos mais um baseado, dessa vez eu não morri de tossir, já estava gostando da sensação de relaxamento. O carro parou bruscamente e o caio colocou a mão na minha coxa por cima do vestido.. derreti por dentro, finalmente eu ia sentir aquela boca de novo na minha.. - Que tal um lanche ?Ele disse sorrindo. - FOI O MELHOR LANCHE DA MINHA VIDA! Eu disse bem alto, e um casal que estava na mesinha ao lado, olhou pra gente tentando disfarçar. Mas era incrivelmente gostoso, ou estava muito chapada, o nome do lanche era x-tudão e vinha exatamente de tudo, de forma exagerada e repleta de gordura. Havíamos parado em uma lanchonete do bairro, e ri sozinha imaginando que a minha mãe nunca entraria em um lugar como esse, pelo menos não novamente. Chegamos em casa. - Acho que hoje eu vou dormir por aqui – com aquele olha de novo....como resistir? Entramos tentando não fazer barulho, a sala ficava do lado do quarto da tia Lucia, e já eram 4 da manhã. - Sentei na cama, e ele puxou o colchão que estava em baixo da cama da Lívia, que ainda não havia chegado. - Vamos fumar mais um - Ele me pareceu viciado - E, o cheiro?acho que não vai dar certo! Ele então abriu a janela, deixando entrar um vento maravilhoso, e acendeu um incenso suave. - Eu e a Lívia sempre fumamos nesse quarto, eles dormem cedo, e pra falar a verdade eu acho que eles sabem mais não ligam mais... Ele colocou uma musica no celular, um samba antigo de muito bom gosto por sinal, e cantou baixinho enquanto apagava a luz ‘deixe me ir, preciso andar...vou por aia procurar... rir pra não chorar’ A lua cheia clareava o quarto com sua luz brilhante. Lembrei da minha infância, eu e minha mãe dormíamos juntas nesse quarto, e ás vezes ficávamos ate tarde com o rádio ligado, conversando bobagens de mãe e filha. . - No que você esta pensando? - Lembrando do quanto eu fui feliz nessa casa, nesse quarto. Não me entenda m*l eu sou feliz hoje, mas às vezes o mundo ao meu redor é tão superficial... o superficial me assusta. - Há mas deve ser bom ter uma vida chata e superficial, sem problemas, com conforto...sem nenhuma confusão. - E quem qual momento eu disse que a minha vida é chata?- eu disse rindo e joguei o travesseiro nele. - Claro que é chata, porque eu não estou nela – e pulou em cima de mim, ficamos com os rostos colados e ele me beijou, com vontade, apertei o braço forte dele, sentindo o seu perfume preencher todo o ar que eu respirava, meu coração batia acelerado, parecia querer sair pela boca.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD