Sanguinem

Capítulo 1 – Fogueiras. Aquelas chamas podiam parar de subir e dançar na minha frente, só para que eu parasse com a impressão de que, na verdade elas estavam brincando com a minha cara. Robert estava ali embaixo das labaredas queimando como um indigente e tudo o que eu podia fazer era observar. Foi pego antes de pegar aquilo que estava atrás, as coisas estranhas que acontecem na vida. Queria que antes de morrer e queimar ali em cima ele tivesse me dito outra coisa, mas suas palavras sempre foram a mesmas: – Mate-o não importa como Catherine. Você sabe o que fazer comigo, mas precisa matá-lo. Eu expliquei para ele. Disse que iriamos atrás da cura, mas ele sempre pensou que aquilo não passava de uma lenda e que depois de virar aquela criatura não haveriam outras opções que não fosse morrer, ou não viver mais. Robert sempre classificou as coisas assim, era uma regra, se um de nós dois virássemos criatura das sombras, a primeira coisa a se fazer era morrer. Ele atravessou a estaca de madeira no próprio peito por vontade própria. Muitos chamariam aquilo de suicídio eu só conseguia pensar que fora libertação. Robert nunca viraria aquilo que ele caçava, era um pouco contraditório, eu acho. Infelizmente, parada observando as chamas consumirem seu corpo, tudo o que eu conseguia pensar era o que eu faria dali para a frente. Sozinha. Órfã. Atrás de um vampiro. Eu não tinha muita escolha que não fosse continuar meu caminho pelas estradas de Kansas até achar algum caçador atrás de matar Nicolau tanto quanto eu, mas eu não sabia se deveria me juntar a outra pessoa para cumprir meu propósito. Suspirei limpando mais uma das incansáveis lágrimas que desciam pelos meus olhos, vendo meu próprio pai queimar, a vida estava pensando que eu era o mais novo brinquedinho dela. Quando minha mãe morreu nas mãos de Nicolau, nós conseguimos montar uma lápide maravilhosa para onde levar flores. Algo como: Ellen Marie Will, adorável mãe e esposa. Com meu pai, eu não sabia se deveria fazer uma lápide ou simplesmente jogar suas cinzas em um penhasco. Não penso que ele seria a favor de ser carregado como pó aonde quer que eu fosse. Eu não estou sendo dramática nem fria, aquele era meu pai, se tinha alguém que sabia das reações malucas dele era eu. A superstição de que ele poderia voltar dos mortos mesmo queimado se eu continuasse com ele mesmo em pó por aí não existia, mas eu já vi tanta coisa que não existe nessa vida existindo. Eu não tinha muita escolha, só podia decidir se seria um penhasco ou um rio. Penhasco é melhor, o pó sempre volta para o pó. – Eu juro papai. Vou matá-lo. Vou matar Nicolau igual ele fez com mamãe, e com o senhor, irei caçá-lo como se a presa fosse ele e não eu. Irei fazê-lo pagar por cada gota de sangue que ele derramou. A promessa era minha, e eu ia fazer com que ela fosse comprida, ou meu nome não era Catherine Marie Will.