O copo de vidro voou. Não em linha reta, mas com uma rotação furiosa, estilhaçando-se contra a parede de mármore do escritório de Vicenzo. O som seco e cortante ecoou, fazendo a empregada, que acabara de servir o café, encolher-se contra a porta, os olhos arregalados de terror. O segurança, um gigante que momentos antes entregara o relatório que acendera a fúria de Vicenzo, suava frio, as mãos apertando o coldre vazio.
Vicenzo estava de pé, a mesa de ébano virada, a cadeira derrubada. Seus olhos, azuis como gelo, ardiam com uma intensidade que prometia dor. A raiva pulsava em suas têmporas.
Uma batida rápida e precisa na porta desviou a atenção de Vicenzo. Não era uma batida hesitante, mas assertiva. A porta se abriu antes que ele pudesse rosnar um "entre".
Rafael.
Ele entrou, um homem de estatura média, mas com uma presença que preenchia o espaço. Cabelos escuros penteados para trás, um terno cinza impecável que contrastava com o caos do escritório. Seus olhos, de um castanho penetrante, varreram o ambiente, registrando o vidro estilhaçado, a empregada aterrorizada e o segurança pálido. Um sinal quase imperceptível com a cabeça, e a mulher não perdeu tempo, deslizando para fora da sala como uma sombra.
"Volte para seu posto na casa," Vicenzo rosnou para o segurança, a voz baixa, mas carregada de ameaça. "E mantenha a Salvatore em rédea curta. Qualquer movimento, qualquer choro, qualquer coisa… você me informa."
O homem assentiu com a cabeça, a garganta seca, e saiu tão rápido quanto a empregada, aliviado por escapar daquele furacão.
Rafael caminhou até a mesa, ignorando a cadeira derrubada, e sentou-se na que restava, cruzando as pernas com uma calma perturbadora. Ele era a única pessoa no mundo que tinha a audácia de questionar Vicenzo.
"Eu viajo por alguns dias," Rafael começou, a voz neutra, mas com um tom de incredulidade que Vicenzo captou. "E quando volto, você está noivo. De Giulia Salvatore."
Vicenzo o encarou. Um desafio silencioso. Aquele era o limite. Mas Rafael não recuou.
Com um grunhido, Vicenzo socou a mesa, fazendo os copos restantes tilintarem. Ele se levantou, a raiva renovada.
"A vagabunda teve a coragem de me procurar! Depois de procurarmos ela por meses, ela simplesmente apareceu. Com uma história de que queria que eu descobrisse quem matou Luca."
Rafael arqueou uma sobrancelha, o ceticismo evidente em seu rosto. Ele, assim como Vicenzo, acreditava que Giulia era a culpada pela morte de Luca.
"Sei. Isso seria motivo para você arrastá-la para um galpão de tortura e acabar com ela. Mas você está noivo dela."
Vicenzo virou as costas, caminhando até a janela, os punhos cerrados
"Você não entenderia."
"Tente," Rafael desafiou, a voz firme.
Vicenzo riu, um som áspero e sem humor.
"É a petulância dela. O espírito rebelde. Eu não quero que seja fácil. Não foi fácil para Luca, você viu o corpo." Ele se virou, os olhos fixos em Rafael. "Quero destruir o espírito dela antes."
Rafael assentiu lentamente, mas seus olhos castanhos fixaram-se em Vicenzo com uma preocupação genuína.
"Certo. Só não quero perder mais um amigo para ela."
Vicenzo soltou uma gargalhada fria.
"Acha que eu me apaixonaria?"
Rafael riu de volta, um som curto e sem alegria.
"Não. Você não é capaz disso. Mas ela matou Luca. Pode matar você também."
Vicenzo deu de ombros, um gesto de desdém.
"Luca sempre foi o mais bondoso de nós. Se ela tentar, vai descobrir que não morro fácil. Afinal, o avô dela já tentou." Um brilho perigoso passou por seus olhos.
"Por que estava tão irritado?" Rafael perguntou, desviando o assunto, mas a pergunta fez a raiva de Vicenzo retornar com força total.
"Ela," Vicenzo sibilou, a voz baixa e carregada de veneno. "Eu a humilhei. Eu a tranquei em um quarto na minha fortaleza. E o relatório que chegou é que ela está tranquilamente deitada na cama, assistindo alguma série de TV. Sem choro. Sem reclamar."
Rafael deu de ombros, um sorriso irônico brincando em seus lábios.
"Talvez você esteja pegando leve demais."
Vicenzo sorriu. Um sorriso c***l, que não alcançava os olhos.
"É. Talvez eu esteja."
O toque insistente do telefone de Rafael cortou o ar tenso do escritório. Fez Vicenzo, de costas para a janela, virar a cabeça ligeiramente. Rafael atendeu, a voz firme, mas Vicenzo viu o ombro do amigo enrijecer. A linha da mandíbula de Rafael apertou.
"Chefe de Segurança", ele disse, a voz baixa, quase um sussurro tenso.
Vicenzo não precisou ouvir a conversa. Conhecia Rafael, seu braço direito, como a palma da própria mão. Viu o leve estreitar dos olhos castanhos de Rafael, a pausa antes de responder com um
"Entendido" seco – tudo denunciava que a notícia era um problema. Um grande problema.
Quando Rafael desligou, o telefone em sua mão parecia um peso morto. Ele ergueu o olhar para Vicenzo, a calma habitual substituída por uma seriedade sombria.
"Acabo de ser informado que Guillermo Salvatore acabou de pousar em Las Vegas", Rafael disse, a voz baixa, mas carregada. "Com um pequeno exército."
Um sorriso lento e predatório curvou os lábios de Vicenzo. Não era um sorriso de alegria, mas de pura satisfação. Seus olhos azuis, antes ardendo em raiva, agora brilhavam com uma luz fria e calculista. Ali estava. Mais uma oportunidade. Mais uma peça no tabuleiro para quebrar Giulia. Ele a faria dizer. A faria dizer ao pai que queria ficar com ele. Com uma coleira no pescoço, se fosse preciso.
Rafael, vendo a expressão de Vicenzo, balançou a cabeça, um suspiro quase inaudível.
"Vou aumentar a segurança. Nos vemos mais tarde." Ele se levantou, a preocupação evidente em cada movimento.
Vicenzo assentiu, um gesto breve de dispensa. Assim que se viu sozinho, o caos do escritório pareceu se acalmar ao seu redor. A raiva se dissipou, substituída por uma frieza calculista. Ele pegou o telefone, discando um número que conhecia de cor.
"Quero uma gargantilha", Vicenzo disse, a voz rouca, sem rodeios. "Algo que se assemelhe a uma coleira de luxo. Com meu nome cravejado em diamantes. Quero para hoje. Não importa o valor."
Do outro lado da linha, o joalheiro, acostumado aos pedidos extravagantes e urgentes de Vicenzo, apenas confirmou. A entrega seria em breve. Vicenzo sorriu, um sorriso c***l que não alcançava seus olhos.
Ele pegou o celular novamente, os dedos ágeis. Uma mensagem curta para Rafael:
"Convide Guillermo Salvatore para jantar no Divoltera. Hoje à noite."
Em seguida, ligou para a fortaleza.
"Avise a Giulia Salvatore que ela tem um jantar importante esta noite. E que se vista de forma recatada." A voz era um comando, sem espaço para questionamentos.
Quando desligou, o sorriso de Vicenzo se aprofundou. Recatada. Ele apostava tudo o que tinha que ela faria exatamente o contrário. Ele se lembrou do vestido preto que ela usava na coletiva. Se ela queria brincar, ele ia mostrar que sabia brincar também. E que suas regras eram as únicas que importavam.
Nota da Autora:
Olá, meus queridos leitores!
Que capítulo intenso acabamos de viver, não é mesmo? Entrar na mente de Vicenzo é sempre uma jornada… e neste, vimos a fúria e a frieza calculista dele em seu auge. A chegada de Rafael trouxe um pouco de luz (ou seria um aviso?) para a escuridão que o cerca, e a dinâmica entre esses dois é algo que adoro explorar.
Mas a verdadeira bomba, claro, é a chegada de Guillermo Salvatore. As peças do tabuleiro estão se movendo rápido, e Vicenzo está pronto para usar cada uma delas para quebrar Giulia. A calma dela, que tanto o irrita, é apenas o combustível para o próximo passo desse jogo perigoso.
E esse jantar… ah, esse jantar! Preparem-se, porque a mesa está posta para um confronto que promete ser inesquecível. O que Vicenzo realmente espera? E o que Giulia fará?
Mal posso esperar para ver as reações de vocês! Deixem seus comentários e me digam o que acharam, bora deixar 300 comentários nesse capítulo e amanha serão tres, ao invez de dois.
Com carinho, Lêh Magalhães