Mata, Mas Me Ouve

1519 Words
Vicenzo estreitou os olhos, e o gesto, quase imperceptível, foi como o primeiro movimento de uma engrenagem sombria que começava a girar dentro dele. O silêncio no escritório não era mais apenas ausência de som — era uma presença em si, densa, carregada, como se o ar tivesse se tornado mais pesado, mais espesso, mais difícil de respirar. Ele não se moveu, mas algo em sua postura mudou. Giulia sentiu. Ela não sabia exatamente o quê, mas sentiu. Como se o chão tivesse se inclinado um pouco, como se o espaço entre eles tivesse se tornado um campo minado prestes a explodir. Ainda assim, não desviou o olhar. Seus olhos castanhos, firmes, sustentavam os dele com uma obstinação que não era coragem — era necessidade. Ela não podia recuar. Não depois de tudo. Tinha passado seis meses apenas sobrevivendo — não vivendo, não lutando, apenas existindo. Deitada em um quarto escuro, onde o tempo não passava e o silêncio gritava. Sem saber se o dia seguinte viria e, se viesse, se ela ainda o desejaria. A morte, em certos momentos, parecia mais gentil. O rosto de Luca surgiu em sua mente com uma nitidez c***l. O sorriso torto, aquele jeito de inclinar a cabeça quando dizia que a amava, como se estivesse rindo dela e com ela ao mesmo tempo. E então… aquilo. Ela não pensava naquilo. Não permitia. Mas a lembrança vinha mesmo assim, como uma lâmina afiada que cortava por dentro. E quando vinha, trazia junto o gosto metálico da culpa. Um tremor sutil percorreu seu corpo, começando nos dedos e subindo pelos braços até os ombros, mas ela o conteve com a força de quem já aprendeu a não demonstrar fraqueza. Deu mais um passo. O salto tocou o chão com firmeza, e o som reverberou pelo ambiente como um desafio lançado. Ela não era mais a garota que ele conheceu naquele restaurante. Não era mais a mulher que chorou por ele ter virado as costas. Agora, ela era outra coisa. Algo que ele ajudou a moldar — mesmo sem saber. — Você me ouviu — disse, a voz baixa, mas firme, sem hesitação. — Quero uma coisa de você. Vicenzo a observou por um longo momento, e naquele olhar havia algo mais do que frieza. Havia cálculo. Havia fome. Ela não sabia, mas naquele instante, ele estava redesenhando todo o plano que havia traçado para ela. O galpão, as correntes, a dor — tudo isso ainda estava em sua mente, mas agora era apenas o início. Matar Giulia Salvatore seria fácil demais. Seria rápido demais. E ela não merecia facilidade. Ele queria mais. Queria vê-la se quebrar aos poucos. Queria arrancar cada camada de orgulho, de desafio, de resistência. Queria vê-la ajoelhar — não com o corpo, mas com o espírito. Queria transformá-la na mais perfeita das submissas, não por prazer, mas por vingança. E só então, quando ela não fosse mais nada além de sombra, de ruína, de silêncio… ele a mataria. Mas não agora. Agora, ele queria saborear o processo. — O que você quer? — perguntou, finalmente, com a voz baixa, quase gentil, mas com uma crueldade que escorria por trás de cada sílaba como veneno. Giulia respirou fundo. Não porque precisava de ar, mas porque precisava de controle. Seus olhos não vacilaram. — Quero que você encontre o assassino de Luca. Por um instante, tudo ficou imóvel. O ar parecia suspenso, como se até o tempo estivesse esperando para ver o que ele faria. Mas então, Vicenzo se moveu. O copo de uísque voou da mão dele com uma força tão brutal que o som do impacto contra a parede pareceu um tiro. O cristal estilhaçou a centímetros do rosto de Giulia, e pequenos fragmentos cortaram o ar como lâminas invisíveis. Um deles atingiu seu pescoço, deixando um risco fino e vermelho na pele exposta. Ela sentiu o calor do sangue escorrer, lento, mas não se moveu. Ela permaneceu imóvel. Nem mesmo o sangue escorrendo a fez desviar o olhar. Ela apenas repetiu, com a mesma firmeza de antes: — Quero que você encontre o assassino de Luca. Aquilo foi o suficiente para fazê-lo perder o controle por completo. Vicenzo caminhou até a mesa com passos duros, quase silenciosos, como se cada movimento fosse calculado para conter a fúria que ameaçava transbordar. Abriu a gaveta com um puxão seco e tirou de lá uma pistola preta, fria, letal. Sem hesitar, apontou a arma diretamente para a cabeça dela. — Isso é fácil, vagabunda — disse, a voz baixa, carregada de veneno. — É só apertar o gatilho e a culpada pela morte de Luca estará morta. O cano da arma tremia levemente, não por insegurança, mas pela tensão que percorria o corpo dele como uma corrente elétrica prestes a explodir. Os olhos azuis, antes frios, agora ardiam com algo mais profundo — dor, talvez. Ou ódio. Ou os dois. Giulia estremeceu. Não de medo. A morte, para ela, não era mais um monstro escondido no escuro. Era uma velha conhecida. Em certos dias, era até um alívio. Talvez, se morresse ali, pudesse reencontrar Luca. Se houvesse algo depois, se Deus ainda tivesse piedade dela. Mas o que a fazia estremecer não era o fim. Era a culpa. Porque, por mais que tentasse negar, uma parte dela temia que Vicenzo estivesse certo. Que, de alguma forma, ela tivesse contribuído para a morte de Luca. Que tivesse deixado passar algo, ignorado um sinal, confiado demais. Era por isso que estava ali. Porque precisava saber. Precisava entender o que realmente aconteceu naquela maldita noite. A noite em que ele se foi. Ela olhou para o cano da arma, depois para os olhos de Vicenzo, e falou com a voz firme, mesmo que por dentro estivesse em pedaços: — Já te disse. Você pode me matar. Mas só depois de encontrar o assassino. Já pensou como será bom para ele se você me matar e nunca for atrás dele? Já pensou como seria injusto? Luca morto… e ele vivo? As palavras pairaram no ar como fumaça densa. Vicenzo não respondeu de imediato. Apenas a encarou. E então, sorriu. Não era um sorriso de humor. Era um sorriso de quem está diante de um quebra-cabeça e começa a perceber que as peças não se encaixam como imaginava. Em sua mente, algo se agitava. Ela era boa em fazer teatro. Tinha talento para isso. Mas talvez… talvez houvesse uma brecha. Uma rachadura. Um cúmplice. Ele não sabia ainda. Mas ia descobrir. E enquanto descobria, ia destruí-la. Com a arma ainda na mão, ele começou a caminhar em direção a ela. Devagar. Cada passo era uma ameaça silenciosa. Giulia manteve a postura por alguns segundos, mas quando ele chegou perto o suficiente para que ela sentisse o calor do corpo dele, deu um passo para trás. Não por medo. Mas porque não suportava a ideia de ser tocada por ele. Não ainda. Não daquele jeito. O olhar dele desceu lentamente pelo decote do vestido, e Giulia sentiu a pele queimar — não de desejo, mas de repulsa. Ou talvez fosse medo. Ou os dois. Vicenzo parou a milímetros dela. O cano da arma agora apontava para o chão, mas a tensão entre os dois era tão densa que parecia que o mundo inteiro havia parado de respirar. Ele inclinou o rosto, a boca quase tocando a dela, e falou com uma calma que era mais perigosa do que qualquer grito: — Certo. Mas tudo tem um preço. Giulia engoliu em seco. O sangue ainda escorria devagar pelo corte no pescoço, mas ela não se moveu. Apenas perguntou, com a voz baixa, quase um sussurro: — Qual é o seu preço? Ele sorriu de novo. Dessa vez, havia algo de perverso no gesto. Um prazer sombrio em ditar o destino dela. — Você vai se casar comigo. Vai ser minha esposa perfeita para a mídia… e minha escrava na cama. 💌 Nota da Autora Se você chegou até aqui, quero te agradecer de coração por estar mergulhando nessa história comigo. Esse capítulo foi intenso — e ele marca o início de um jogo perigoso entre Vicenzo e Giulia, onde cada palavra pode ser uma arma, e cada toque, uma guerra. Eu escrevo cada cena com o coração acelerado, imaginando como você vai reagir. Então me conta: o que você achou desse capítulo? O que sentiu? O que pensou? O que espera que venha a seguir? Se você está gostando da história, deixa um comentário aqui embaixo — eu leio todos com carinho e respondo sempre que posso. E se você faz parte de algum grupo de leitura, clube do livro ou tem aquela amiga que ama um dark romance cheio de tensão, reviravoltas e cenas quentes… Compartilha o link com ela. Indicar o livro é uma forma linda de me ajudar a continuar escrevendo e alcançar mais leitoras que amam esse tipo de história tanto quanto a gente. Obrigada por estar aqui. Obrigada por sentir junto comigo. Nos vemos no próximo capítulo — e te prometo: ele vai ferver. 🖤 Com amor e um toque de veneno, Lêh Magalhães
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