Beaumont Holdings- NY
16/06/2022
O eco das vozes já o aguardava antes mesmo de ele abrir as portas da sala de reuniões principal.
Theodore respirou fundo, ajeitou o paletó e empurrou as portas duplas com força suficiente para calar os murmúrios.
Doze pessoas o observavam — os maiores acionistas da Beaumont Holdings, homens e mulheres de terno, rostos severos e olhos cheios de cálculo.
Nenhum deles olhou para ele com respeito. Apenas desconfiança.
— Senhores — começou Theodore, caminhando até a cabeceira da mesa —, eu recebi o relatório financeiro completo. Sei o que aconteceu. Meu pai agiu sem o conhecimento de ninguém, e eu pretendo corrigir tudo.
Um homem grisalho à esquerda, o senhor Whitmore, cruzou os braços.
— Corrigir? — ele riu, sem humor. — O nome Beaumont está estampado em todos os jornais, Theodore. “Golpe milionário dentro da Beaumont Holdings”. Os investidores estão fugindo. E você acha que vai corrigir isso com palavras?
— O conselho não quer explicações, Sr. Beaumont — interrompeu uma mulher de olhar cortante, a senhora Grayson. — Queremos resultados. E queremos nosso dinheiro de volta.
Theodore manteve o queixo erguido, a voz firme:
— O capital pode ser restituído se encerrarmos algumas operações não lucrativas. Posso vender ações menores, fechar algumas filiais temporariamente e reestruturar a empresa. Não é o fim.
O murmúrio aumentou, e alguém sussurrou algo como “negação” e “ilusão”.
Até que um dos mais antigos acionistas, o senhor Clewford, se inclinou à frente.
— Seu pai fugiu com o que restava das nossas reservas internacionais, Theodore. E a empresa está afogada em dívidas. A falência é inevitável.
O silêncio que se seguiu parecia um soco.
Theodore apoiou as mãos na mesa de mogno, os nós dos dedos ficando brancos.
— Vocês acham que eu vou assistir à ruína do nome Beaumont sem lutar? Eu não sou Arthur.
— Mas é o filho dele — retrucou Clewford, ácido. — E, para o mercado, isso é o suficiente.
Os olhares voltaram-se contra ele como lâminas.
A cada palavra, Theodore sentia o peso da herança envenenada que o pai deixou.
Ele tentou controlar o impulso de gritar, de derrubar tudo. Se conteve.
— Então me deem uma semana — pediu, a voz mais baixa, mas firme. — Uma semana para apresentar uma alternativa. Eu não vou permitir que vocês matem a empresa que carrego desde criança.
— Uma semana? — A senhora Grayson soltou uma risada seca. — Em sete dias, Theodore, o nome da Beaumont Holdings estará nos tribunais. Não existe alternativa.
O som dos papéis sendo empurrados pela mesa ecoou como um veredito.
Os acionistas começaram a se levantar, um a um, enquanto Theodore permanecia imóvel, observando-os deixarem a sala.
Quando a porta se fechou, ele afrouxou o nó da gravata e deixou o corpo cair na cadeira.
Por um instante, a máscara de frieza caiu, revelando o homem por trás do terno.
O relógio marcava o fim do império Beaumont.