Prólogo
Todo mundo tem uma história que começa com uma tragédia. A de Luna começou com uma curva malfeita e um céu que parecia querer avisar — mas ninguém escutou.
Ela tinha sete anos no dia em que o mundo virou entulho. Era cedo demais para entender a palavra “fim”, mas tarde demais para impedir o que estava por vir. Seus pais saíram naquela manhã com a promessa de um futuro melhor. Uma entrevista de emprego em outra cidade, uma chance de virar a página, de mudar tudo. O tipo de oportunidade que acende esperanças e faz planos dançarem na cabeça da gente.
Eles disseram que voltariam no sábado. Sorriram, ajeitaram o casaco dela, deixaram o café pela metade e foram. Luna ficou na escola, com a cabeça cheia de possibilidades. Nova cidade, nova casa, nova escola. Um novo começo. Mas aquele sábado nunca chegou. O carro derrapou em uma estrada chuvosa, sumiu em um barranco e ficou por lá — enterrado junto com as promessas e a inocência de uma menina de doze anos.
Não houve velório. Não houve corpos. Apenas destroços e a confirmação fria do que o coração se recusava a aceitar. Foram embora e levaram com eles tudo: os abraços, os risos, os cheiros familiares, a rotina. Só restou o eco da ausência. O silêncio que grita nos cantos de uma casa vazia. O tipo de vazio que preenche tudo ao redor e deixa a alma oca.
Luna não teve escolha. Aos doze anos, não se escolhe nada. Foi acolhida pela melhor amiga de sua mãe, uma mulher que ela conhecia de aniversários, natais e algumas tardes no parque. Uma estranha familiar. Uma tentativa de amparo. E, junto com ela, veio Noah.
Noah Moreira.
Três anos mais velho. Tão distante quanto a lua que dava nome a ela. Tão bonito quanto inalcançável. Ele era o tipo de garoto que já nasceu com uma parede ao redor. Silencioso, cínico, dono de uma raiva que não fazia barulho, mas estava sempre ali. Nos olhos, nos ombros tensos, no modo como evitava qualquer tipo de laço.
Luna o conhecia desde pequena. Ele costumava zombar das perguntas dela, revirar os olhos quando ela tentava puxar conversa, e fugir sempre que ela tentava se aproximar demais. Para ele, ela era só a “menininha chata” das festas em família — aquela das tranças tortas e dos joelhos ralados.
Mas agora, cinco anos depois, ela era outra. E ele também.
Foram cinco anos morando sob o mesmo teto. Cinco anos de convivência forçada, de silêncios partilhados, de olhares evitados. A dor dela foi calando com o tempo, se transformando em algo mais bruto, mais denso. Não era mais o choro da menina de doze anos — era o vazio quieto da adolescente de dezessete. Uma dor que aprendia a sorrir em público e gritar à noite, quando ninguém podia ouvir.
E Noah... bom, Noah continuava sendo uma tempestade. Só que agora mais densa. Mais escura. Tinha tatuagens que apareciam aos poucos, como partes de um quebra-cabeça que ela nunca conseguiu montar. O mesmo olhar cansado, como se o mundo já tivesse cobrado tudo dele antes mesmo de ele ter vivido. E uma frieza que parecia estratégia — um escudo afiado feito para afastar o mundo.
Nos primeiros anos, Luna tentou se encaixar na nova rotina. Tentou agradar. Tentou não incomodar. Foi boa aluna, boa filha postiça, boa companhia. Tudo para não ser um peso. Tudo para não ser esquecida. Mas havia noites em que ela apenas sentava na beirada da cama e imaginava como seria se os pais tivessem voltado naquele sábado. Como teria sido sua vida com eles. O novo colégio, a nova casa, o tal recomeço. Eram só imagens inventadas, mas ela se agarrava a elas como náufraga em destroços.
Com o tempo, Noah parou de vê-la como a garotinha insuportável. Começou a perceber que ela havia crescido — nos silêncios, nos olhares, na forma como se portava. Ela não pedia mais atenção. Não buscava mais conversa. E isso, de algum jeito torto, despertou algo nele. Não admiração. Não afeto. Mas curiosidade. Porque Luna não era mais uma criança quebrada. Era uma sombra viva. Um reflexo da própria dor dele.
E ela? Ela nunca deixou de amar em segredo.
Desde os treze, quando viu nele algo que ninguém mais parecia enxergar. Não o garoto bonito. Não o rebelde misterioso. Mas o sobrevivente. O menino que se escondia em sarcasmo, que usava o silêncio como armadura, que carregava um peso que ninguém ousava perguntar de onde vinha. Ela amava aquilo. Amava porque via em Noah o mesmo abismo que habitava nela. Eram dois mundos quebrados que nunca se tocavam, mas se entendiam de longe.
E então algo começou a mudar.
Pequenas coisas. Um olhar demorado. Uma conversa atravessada no corredor. Um silêncio que antes era incômodo e agora parecia confortável. Não havia declarações. Não havia aproximação visível. Mas havia uma tensão, um fio invisível ligando os dois — feito eletricidade prestes a saltar.
Mas nada em Noah era simples. Ele era feito de camadas e armadilhas. Tinha segredos que ninguém sabia, fantasmas que ninguém via. E Luna... Luna era o caos. Mas um caos bonito, esperançoso, insistente. O tipo de pessoa que carrega a dor como se fosse poesia. E ele odiava isso. Porque ela o fazia sentir. E ele passou a vida inteira tentando não sentir nada.
Essa é uma história sobre amor e perda.
Sobre traumas não ditos.
Sobre cicatrizes que não se mostram.
Sobre como dois corações partidos podem, ao se tocar, provocar tanto cura quanto destruição.
Porque, no fim, Luna nunca quis consertar Noah.
Ela só queria que ele deixasse de fugir.
E ele... só precisava de alguém que ficasse.
Meu Bady Boy é mais do que um romance. É um labirinto emocional, onde cada passo pode levar a revelações inesperadas. Uma história carregada de tensão, de sentimentos não ditos, de segredos prestes a explodir. Um lugar onde ninguém é completamente bom ou m*l, e onde até o amor pode ser perigoso.
Prepare-se para mergulhar numa montanha-russa de emoções.
Nada aqui é estável. Nada aqui é garantido.
Mas, se você tiver coragem de entrar, prometo que não vai sair igual.