Lua narrando:
Acordo sonolenta, olho para os lados e caio na realidade. Estou viajando há 8 horas já. A realidade me chega com um misto de raiva e emoções. A gente era feliz no lixão, catando nossos recicláveis. Ainda me lembro da minha mãe chamando porque tinha encontrado um monte de alumínio. Esse dia era pra gente comer carne, salsicha, essas coisas. A gente só costumava comer cada 15 dias, mas tudo foi por água abaixo. Suspiro, lembrando que a felicidade às vezes dura pouco.
Esse mesmo dia, minha mãe foi presa. Voltando pro acampamento, ela só fala pra correr e nós saímos em disparada, já que como morávamos na rua e sendo menores, a regra sempre foi clara: nunca cruzar com o perigo, no caso, policiais ou coisas que poderiam nos afastar da mamãe.
Chegamos no acampamento pálidas, passando m*l, gritando pelo Sapo e Lula. Ninguém entendia nada, mas ficaram alertas. Todos esconderam suas crianças porque esse era o protocolo.
Lula: - Calma, calma, respirem.
Sapo: - Sentem aqui e falem: cadê sua mãe?
"Eu então respirei fundo e larguei tudo como quem cuspia algo quente. Policiais pegaram ela, não sei por quê, mas pegaram até a mochila. A gente só correu.
Sapo: - Calma! Vou na delegacia aqui próxima. Se ela está ali, podemos falar que houve. Fiquem aqui.
Lula: - Não deixa elas saírem daqui.
Lula: - Pode ir.
Os minutos eram eternos e o Lula fazia marcas no chão. Eu quase chutei ele para correr para a delegacia, mas me lembrei que devo respeito a ele, e minha mãe me desceria na porrada se eu faltasse com respeito a alguém que dava a vida por nós.
Duas horas depois, o Sapo chega ao nosso encontro com a cara nada boa. Ele parece buscar as palavras para nos dizer algo grave. Dois suspiros depois,
Sapo: - Meninas, sua mãe está sendo culpada por roubo a uma joalheria. Tem provas!
O QUE! Eu e a Sol gritamos ao mesmo tempo. Minha mãe não roubava! Se ela roubasse, a gente não passaria tanta necessidade, era absurdo!
Sapo: - Meninas, calma! A mãe de vocês é inocente, estão culpando ela, claro."
Sapo - Meninas, ela mandou um bilhete. Esse daqui, ela falou pra ir nessa direção e falar com uma tal Larissa, amiga da sua mãe, e que digam pra ela que a hora chegou. Ela saberá o que fazer.
Sol - Que papo torto é esse, padrinho?
Sapo - Não sei, minha princesa. Não estou entendendo nada também. Pelo que eu entendi, ela caiu por burrice e por confiar no palhaço, sendo que eu tinha alertado ela sobre ele. Mas sabe como é a Luz, ela confia demais nas pessoas, não vê maldade.
E nossa mãe é burra! Até eu achei aquele arrombado com cara de que ia fazer merda, mas a mãe me deu um tapa no braço por eu ter feito cara feia pra ele. E olha só agora!
Bora, Sol! Vamos ver essa amiga da mãe. Fala pra ela que tá quieta, no canto, olhando pro nada. Ela só bem até a mim se vira e pergunta: "Padrinhos, vão vir?"
- Lula, eu vou, princesa. O sapo tem que catar a advogada e levar uma troca de roupa pra tua mãe.
Foi o fim da p*****a achar a tal Larissa. A mulher não morava, se escondia. E ainda o Lula, que parece prefeito, dá dois passos e para para cumprimentar todo mundo. Eu, com minha cara de b***a de sempre, e a Sol, com o sorrisinho dela, tá louco.
Acho que é aqui, falo, apontando para o número 344. A Sol começa a bater palmas. Dois minutos depois, uma moça saiu para fora com uma bolsa de sacola na cabeça, as mãos na cintura, nos olhando desconfiada. Foi então que eu falei: "Você é a Larissa, amiga da Luz?"
- "Depende, quem quer saber?"
- "As filhas!"
- "Eclipses? Ah, vocês estão grandes, que bonitas! Pasem, pasem!"
A Sol fez a pergunta que não quis calar: "Você nos conhece?"
Ela nos olhou, suspirou, se sentou no sofá de frente para nós, fazendo sinal para a gente sentar.
Nós sentamos e olhamos atentamente para ela, esperando respostas, mesmo com medo de saber.