Fim da lembrança.

520 Words
Ela cresceu e amadureceu nas ruas, enquanto nos gerava, o pré-natal era nulo. Ela não tinha ideia de quando nasceríamos; ela costumava não pensar nisso, só deixava chegar a hora, porque o medo não era opção. Numa tarde de agosto, ela começou o trabalho de parto. Dona Filo, a mãe do sapo, teve a missão de nos colocar ao mundo. Ela não sabia muito, já que só tinha colocado 2 ou 3 meninos no mundo, mas nenhum gemelar. O tempo foi muito pesado; todos faziam bolão para ver se éramos meninas ou meninos. Foi então que nasceu a Sol, chorando. Três minutos depois, um grito desgarrador que assustou todos. Nasci eu, à lua, já de noite. Minha mãe perdeu muita sangue e estava debilitada. As mulheres que viviam ali ofereceram chás e receitas antigas para que ela conseguisse se recompor. O primeiro desafio foi que ela tinha pouco leite para duas meninas que mamavam a toda hora. Nossa primeira leite que ajudou a comprar foi Jairo, que pedia nos postos e vendinhas. Letícia ajudou com o que tinha,Dona Laura boto o resto ,o Pedro deu uma mamadeira que foi da filha dele, usada, mas em bom estado. E foi assim que nosso primeiro obstáculo foi vencido. A vida da minha mãe, por 6 meses, era resumida a catar sucata, vender, pedir nas ruas, vender bala no sinal, fazer de tudo para comprar nosso leite. Enquanto nos engordava com um leite em pó bom, porque ela não abria mão disso, ela ficava com o farelo. Apesar de a gente ser o xodó do acampamento, era difícil as circunstâncias, e minha mãe dava o melhor de si para nós.Nossa mãe, apesar de ter 15 anos, lutava com unhas e dentes para manter o mínimo de dignidade e poder nos dar o essencial. Nossos primeiros passos foram na beira da estrada, como sempre, com nossos padrinhos fazendo arte. Minha mãe quase matou eles esse dia. A nossa primeira palavra foi "mamãe". A gente realmente não sentiu falta de nada, pois minha mãe supria todos os buracos. Sem contar que, para nós, poder ver as estrelas e fazer fogueiras era super divertido. Mas, na verdade, a gente fazia fogueiras para preparar algum alimento ou esquentar água. A gente via as estrelas porque a lona tinha furos, mas na nossa infância ela nunca nos deixou ver essa parte da nossa vida. Ela coloriu o r**m com cor de rosa e nos blindos crescemos vendo ela sorrir à toa de coisas simples, e isso fez toda a diferença. Só aos 12 anos a gente caiu na real que nossa família era minimamente estranha. Já éramos como 15 famílias acampadas na vera; tinham crianças correndo todo o dia enquanto os pais saíam a reciclar para ganhar o pão como podiam. Aos 13, fomos apresentadas ao mundo; saíamos com minha mãe, cedo pela manhã, cantarolando com um carrinho para catar no centro da cidade. As pessoas olhavam torto, muitas com nojo, mas a gente, nós três, éramos tão felizes que o mau olhado não chegava a nós. Aprendemos a ser gratas por poder trabalhar . Fim da lembrança.
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