Depois daquela noite, tudo mudou.
Ele não apareceu mais pessoalmente, mas me mandava mensagem todo dia. De manhã, ele perguntava se eu já tinha saído. À noite, queria saber se eu tinha comido. Durante o dia, mandava mensagens do tipo:
> “Tira foto da sua roupa antes de sair.”
“Não encosta em ninguém.”
“Se algum i****a olhar demais, me avisa.”
No começo, eu achava um absurdo. Ninguém nunca tinha mandado em mim. Eu era acostumada a me virar sozinha, a cuidar da minha mãe, a dar conta do meu mundo sem ajuda. Mas agora… eu sentia que tinha alguém vigiando cada passo. E, estranhamente, isso me fazia sentir… segura.
Era como se ele fosse um muro invisível ao meu redor. Um muro perigoso, mas que ninguém ousava atravessar.
No sábado, recebi outra mensagem.
> Gabriel:
“Hoje à noite. 21h. Você vai sair comigo.”
Eu fiquei encarando aquela frase por uns bons minutos.
“Vai sair comigo” não. Ele não pediu.
Ele mandou.
> Eu:
“Minha mãe não deixa eu sair de noite.”
> Gabriel:
“Ela não vai nem perceber.”
> Eu:
“E se eu disser que não quero?”
> Gabriel:
“Você já quer. Só ainda não teve coragem de admitir.”
Fechei o celular com raiva. Quem ele pensa que é pra achar que me conhece tanto assim?
Mas a pior parte era saber que ele estava certo.
Naquela noite, vesti meu short jeans, uma blusa preta colada no corpo, passei perfume escondido e coloquei um casaco por cima pra minha mãe não desconfiar. Ela dormia cedo, como sempre. Às 20h50, eu saí pela janela do meu quarto, descendo pela lateral da casa.
Um carro preto me esperava no fim da rua.
As janelas estavam escuras, mas eu sabia quem estava ali dentro. Entrei, o coração batendo forte, e me afundei no banco de trás.
Ele virou o rosto pra mim, devagar.
— Sabia que você vinha.
— Isso aqui é loucura. — murmurei.
— É desejo. — ele corrigiu, com aquele tom de voz firme e grave. — E desejo não se explica. Se sente.
O carro arrancou, e eu não perguntei pra onde íamos. Só fiquei ali, tentando controlar a respiração.
Ele vestia uma camisa preta justa, que deixava as tatuagens dos braços à mostra. O cheiro do perfume dele misturado com couro e fumaça me fazia perder a noção.
— Por que eu? — perguntei, sem conseguir mais segurar.
Ele virou o rosto, me encarando.
— Porque você não é como as outras. Você não se oferece. Você se protege. Mas quando olha... entrega tudo sem dizer uma palavra.