O sol se pôs tingindo o céu de vermelho.
E pela primeira vez, eu andava no morro sem me esconder.
Os olhares vinham de todos os lados.
Mas ninguém ousava tocar.
Porque agora eu não era só a garota nova.
Era a mulher do Gabriel. A rainha do morro.
E mesmo com o medo queimando por dentro, eu mantive a cabeça erguida.
Porque ele estava ao meu lado.
Com o braço enfaixado, a arma na cintura e o olhar protetor de quem mata se alguém me encostar.
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Voltamos pra casa sem dizer uma palavra.
O silêncio era cheio de coisa não dita.
Assim que entramos, ele trancou a porta.
Me encostou na parede.
E me olhou como se eu fosse o único ponto seguro no meio do caos.
— Você tá diferente. — sussurrei.
— E você tá mais linda do que nunca.
— Andando de cabeça erguida como se o morro fosse teu.
— E é.
— Ainda tô com medo, Gabriel.
— Mas tá ficando.
— Porque te amo.
Ele aproximou o rosto, respirando perto da minha boca.
— Eu queria te dar o mundo…
— Mas só tenho esse morro fodido pra te oferecer.
— Eu quero você. Só isso.
E a partir dali, a gente parou de fugir.
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O beijo veio urgente. Pesado. Cheio de dor e desejo.
Ele me pressionou contra a parede, as mãos grandes deslizando pela minha cintura, subindo pela minha blusa.
— Me diz que é isso que você quer.
— É. Sempre foi.
Ele me pegou no colo e me levou pro quarto.
A respiração dele batia no meu pescoço, quente e acelerada.
Me deitou na cama devagar, como se eu fosse algo precioso.
Mas os olhos dele diziam o contrário:
eu era dele. E ele não ia pegar leve.
Tirou minha blusa devagar. Me olhou como se estivesse decorando cada parte de mim.
— Você tem certeza?
— Tenho.
— Então agora você é minha. De verdade.
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Ele foi cuidadoso.
Mas também foi intenso.
Como se quisesse marcar minha pele com cada toque.
As mãos dele exploraram meu corpo com vontade.
O beijo desceu pelo meu pescoço, meus s***s, minha barriga.
Quando nossos corpos se uniram, não tinha mais medo.
Só tinha a certeza:
eu pertencia àquele homem. E ele pertencia a mim.
A dor da primeira vez veio rápida, mas passou.
Porque ele estava ali.
Cuidando de mim.
Murmurando no meu ouvido:
— Qualquer coisa que te machucar, eu mato. Até se for eu.
E eu sabia…
que mesmo sendo perigoso, intenso e destrutivo…
aquele amor era meu lar.
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Depois, deitamos em silêncio.
Ele com o rosto colado no meu pescoço.
Eu com o coração em paz.
— Você é minha mulher. — ele disse.
— E você é meu caos.
— E agora que eu provei o gosto do paraíso…
— vou matar quem tentar me tirar dele.
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Na manhã seguinte, o morro estava mais calmo.
Mas a guerra não tinha acabado.
Só tinha começado.
E Gabriel já estava de pé.
— Vão tentar atingir quem eu amo.
— Mas agora eles vão entender que eu não tô mais sozinho.
— O que você quer dizer?
— Que você vai ficar do meu lado.
— Não mais só como a minha mulher.
— Mas como alguém que vai ver tudo. Que vai saber de tudo.
— Você confia em mim?
— Com a minha vida.
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Mais tarde, ele me levou até a laje onde os meninos faziam vigia.
— Esse aqui é o Nando.
— Esse é o Binho.
— Eles vão andar com você quando eu não estiver por perto.
— Mas eu não quero segurança.
— Não é questão de querer.
— É questão de continuar viva.
— E se eu quiser lutar também?
Gabriel parou. Me olhou com aquele jeito dele.
— Lutar?
— Sim. Não quero ser só protegida.
— Quero ser útil.
Ele sorriu de lado.
— Então me ajuda a manter minha cabeça no lugar.
— Porque toda vez que encostam em você… eu esqueço de tudo.
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Naquela tarde, vi Gabriel lidar com o tráfico, com as contas, com o controle do morro.
Ele me explicou como tudo funcionava.
Como o dinheiro girava.
Como a confiança era a moeda mais valiosa ali.
E eu entendi.
Que o que ele fazia não era só sobre droga.
Era sobre poder. Lealdade. Sobrevivência.
— Você nasceu pra comandar, Gabriel.
— E você nasceu pra ser minha parceira.
Ele segurou minha mão.
E pela primeira vez, não era só paixão.
Era parceria.
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À noite, voltamos pra casa.
E no caminho, uma garotinha nos parou.
— Moça… você é a Amanda?
— Sou.
— Você é a mulher do chefe?
— Sou, sim.
— Você é bonita… parece uma rainha.
Gabriel sorriu.
— Ela é a rainha.
— E ninguém toca nela enquanto eu estiver vivo.
A garotinha sorriu e correu.
E meu coração ficou quente.
Pela primeira vez…
eu me senti pertencente àquele lugar.
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Mais tarde, deitada com ele, perguntei:
— Você já amou alguém antes?
— Já achei que amava.
— Mas só entendi o que era de verdade… quando tive medo de te perder.
— E agora?
— Agora, se você for embora, eu destruo o mundo.
— E se eu ficar?
Ele se virou pra mim.
Olhou bem nos meus olhos.
— Se você ficar…
— Eu vou transformar essa favela num castelo.
— Mesmo que com sangue, fogo e guerra.
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E eu fiquei.
Mesmo com medo.
Mesmo sabendo que minha vida nunca mais seria normal.
Porque quando ele me olha daquele jeito…
nem o céu nem o inferno me assustam.
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E naquela noite, adormeci nos braços dele.
Com a certeza de que estava no lugar certo.
Mesmo que tudo ao redor estivesse errado.
Porque Gabriel não era só o dono do morro.
Era o dono de mim.