Capítulo 10 – Eu Sou a Promessa Que Ele Escondeu

748 Words
Acordei com um silêncio estranho. Não era o silêncio de paz. Era o silêncio que grita. O lugar onde Gabriel dormia ainda tinha o travesseiro afundado, o lençol amassado, o cheiro dele no ar. Mas ele… não estava lá. Não havia bilhete. Não havia mensagem. Só ausência. Peguei o celular. Nenhuma notificação. Liguei. Caixa postal. Levantei num pulo. O peito apertado. A mente criando mil possibilidades. > Será que ele foi morto? Preso? Será que foi traído? Será que... me deixou? --- Desci as escadas correndo, tropeçando, com o coração preso na garganta. Fui direto até o Nando, que estava encostado na moto, com expressão fechada. — Onde o Gabriel tá? Ele me encarou, sério. — Não era pra você saber. — Saber o quê, Nando? Ele saiu e não voltou! Onde ele foi? — Amanda… Ele saiu pra resolver uma treta. Disse que era coisa de homem. — Eu sou mulher, mas sou dele. Eu tenho o direito de saber! — Se ele não quis te contar, foi pra te proteger. — Eu não aguento mais esse papo de proteção! Eu quero ele aqui. Agora. Nando ficou em silêncio. Depois soltou: — Ele saiu ontem pra se encontrar com um chefão de fora. O tipo de encontro que pode terminar em acordo… ou em caixão. Meu mundo parou. --- Voltei pra casa tremendo. Sentei no chão. Abracei as pernas. E chorei como criança. Porque a dor de não saber se ele ia voltar era pior do que qualquer verdade c***l. Meu telefone seguia mudo. Minha alma, desesperada. Pensei em ligar pra mãe. Pensar em voltar pra casa dela. Mas que casa? Meu lar agora era ele. E sem ele, nada fazia sentido. > E se for agora que eu vou ter que aprender a viver sem? --- À noite, o céu desabou. A chuva caiu pesada, como se sentisse a mesma angústia que eu. Eu andava de um lado pro outro, a respiração pesada. Abri o guarda-roupa. A jaqueta dele estava lá. Vesti. Fui até a varanda. O morro parecia dormindo. Mas por dentro… algo queimava. > Você disse que ia voltar. Você disse que não ia me deixar. --- Às 2h17 da madrugada, o portão bateu. Corri. Abri. E ele estava lá. Molhado, sujo, com sangue seco no canto da boca e um olhar sombrio. — Gabriel… Ele não disse nada. Só entrou e me abraçou. Forte. Como se o mundo inteiro estivesse tentando tirá-lo de mim. — Você tá machucado? — Não é meu. É do outro cara. — Onde você tava? Ele respirou fundo. — Em guerra. — Você disse que ia voltar. Eu quase enlouqueci! Ele encostou a testa na minha. — Eu sou o tipo de homem que cumpre o que promete. — Então me promete que vai parar com isso… — Isso é quem eu sou. — Mas eu… eu tô cansada de te perder toda vez que você fecha aquela porta. Ele me puxou, me levantou, me levou até o quarto. — Então agora me prende. Me prende com o único jeito que eu obedeço: Seu toque. Sua presença. Sua entrega. E naquela noite… ele me fez esquecer da morte. Ele me fez lembrar que, mesmo sujo de sangue, ainda era meu. --- Pela manhã, ele me observava enquanto eu dormia. Quando abri os olhos, ele sussurrou: — Você é o único lugar onde eu descanso. — E você é o único lugar onde eu me perco. --- Enquanto tomávamos café, ele falou: — O morro vai estourar. Não agora… mas em breve. Eles recuaram. Mas vão voltar. — E o que você vai fazer? — O que sempre fiz. Proteger o que é meu. — E eu? Ele segurou minha mão. — Você é a única promessa que eu fiz e nunca pretendo quebrar. — Eu sou sua promessa? — É mais que isso. Você é o motivo de eu ainda estar vivo. E eu soube ali, naquele instante: Ele nunca foi meu completamente. Mas tudo o que sobrou dele… era meu. --- Horas depois, enquanto ele conversava com os meninos da segurança, eu fui até a laje. Sozinha. Olhei o morro. Os becos. As vielas. Pensei em tudo que vivi nas últimas semanas. Na menina que eu era. Na mulher que eu me tornei. Na rainha que eu nunca quis ser… mas agora precisava sustentar. Porque o amor de Gabriel era uma coroa feita de dor. E se eu ia usá-la… … então que fosse até o fim.
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